Desde os 14 anos que o bichinho da composição não abandona António Graça. Seis anos depois, encabeça os Antony Left, empresta-lhes a voz e, juntamente com Tomás Borralho na bateria, Maria Inês Rebelo no violino e Catarina Rodrigues no violoncelo, forma uma das bandas mais originais do nosso panorama. Juntam vários géneros musicais (sim, também música clássica) e em apenas quatro meses já saborearam a vitória na mais recente edição do Concurso Nacional de Bandas da Antena 3. Pelo caminho deixaram 250 bandas, uma eliminatória e uma final “cheia de nervos”, no Centro Cultural de Belém: “Na noite anterior não dormi. Fui dançar pela casa para gastar a energia que tinha a mais”, confidencia Maria Inês.
Os Antony Left, propositadamente sem “h”, devem o nome a António Graça. Mas porquê Left? É fácil. O compositor e vocalista, além de escrever as letras para a banda em inglês, é canhoto.
Há três anos, António e Maria Inês conheceram-se, no Festival Música Júnior. Nessa altura gravaram dois temas, mas o projecto enquanto banda ficou por aí. Oempurrão de que precisavam para deitar mãos à obra surgiu com a hipótese de participar no Concurso Nacional de Bandas. Catarina e Tomás juntaram-se ao projecto e este “ganhou pernas para andar”. E até agora tudo correu de feição: “Já estive em várias bandas e poucas conseguem fazer tantas coisas em tão pouco tempo”, revela Tomás.
A história dos Antony Left até se podia resumir rapidamente e em poucas palavras: formar, tocar e vencer. “Enviámos um tema para o concurso e fomos pré-seleccionados. Escolheram nove bandas – três por cada eliminatória – e fomos tocar a Setúbal com outros dois grupos mais votados”, conta António. Passaram esta fase e chegaram à final. Com esta responsabilidade, vieram os problemas para resolver: “Não tínhamos temas suficientes.” A mente por detrás da obra arranjou a solução. António escreveu mais duas canções e alargou o repertório da banda para sete temas. Na final bateram mais duas bandas para arrecadar o título.
Com esta vitória surgiu a hipótese de tocar ontem no festival Super Bock Super Rock. Este concerto foi apenas o sétimo que a banda deu em toda a sua carreira. “Até esta altura só tínhamos tocado em bares e o máximo que recebemos foram dois jantares”, diz Catarina com um sorriso.
PÔR A MÚSICA EM CAIXAS
A banda, marcada por personalidades muito fortes e típicas de jovens entre os 17 e os 23 anos, nem sempre está de acordo. Enquanto há quem atire que são folk, indie e rock – tudo misturado – António não gosta “de meter as coisas em caixas”: “Não consigo definir. Como é que se põe um estilo no violoncelo e no violino?” Exacto. Tentemos outra via para chegar ao consenso. Pretendem cantar em português? Há “quem goste da ideia, há quem odeie”. E quais são as influências? “Toda a gente me associa a Ben Howard, mas eu ouço coisas muito diferentes”, esclarece o vocalista. Em português, António Zambujo e B Fachada são os eleitos. Mas de uma coisa ninguém tem dúvidas: António Graça escreve as letras e empresta a voz enquanto os outros elementos são a cola que une o projecto. Até porque, depois da composição, “altera-se em grupo o que pensamos que se pode melhorar”.
Catarina estuda Música e concilia a banda com o conservatório, duas orquestras e o teatro. Dorme pouco, toca violoncelo, ensaia e ganha concursos. Maria Inês tem de encontrar um equilíbrio entre duas vertentes: os Antony Left e a música clássica, paixão que não quer deixar para trás mesmo que o grupo ganhe asas. Já Tomás tem lugar de destaque atrás da bateria noutras bandas, mas garante ter a noção de que “se isto andar para a frente como tem andado, pode ter de abandonar outros projectos”. O objectivo é lutar e não parar: “A vida das bandas é por vezes tão curta que não nos podemos dar a esse luxo.” Et voilà. Toda a gente está de acordo.
Consideram que se dão bem musicalmente e o próximo passo é gravar um tema original em estúdio, outro dos prémios do Concurso Nacional de Bandas. Mas nem o céu é o limite: querem gravar um álbum de originais. “Queremos imenso mas não temos dinheiro”, desabafa Maria Inês. O objectivo, no prazo mais curto possível, é “lançar a gravação cá para fora” e, eventualmente, avançar com um videoclipe. Para já, usam as redes sociais para chegar a cada vez mais pessoas. Os temas passam na Antena 3, mas, caso queira ouvi-los com mais frequência, tem sempre o canal dos Antony Left no YouTube.