Stratford-upon-Avon estará para sempre associada a William Shakespeare, mas a importância do dramaturgo para o teatro mundial vai muito além das fronteiras da localidade inglesa onde nasceu e viveu.
É com base nessa dimensão global que a Royal Shakespeare Company, com sede naquela cidade, lançou em 2013 o projecto Live from Stratford-upon-Avon.
As transmissões em directo para salas de cinema começaram em Novembro desse ano, com “Ricardo II”, vista por mais de 60 mil pessoas. Seguiram-se mais cinco e a ideia é manter a regularidade da apresentação em duplo formato até 2020.
“Há dois anos a companhia decidiu transmitir essas grandes peças de Shakespeare nos cinemas, a serem produzidas entre 2013 e 2020, num ciclo em que seria feita uma grande produção de cada peça, para ser transmitida em directo, primeiro nos cinemas britânicos e depois noutras salas do mundo”, explica John Wyver, responsável pelo projecto.
A peça “OMercador de Veneza” é a sétima a ser transmitida em directo e a primeira de três a poder ser vista em Portugal, nos cinemas UCI de Lisboa e Porto, a partir de hoje, às 19h. Seguem-se “Otelo”, a 26 de Agosto, e “Henrique V”, a 21 de Outubro, ambas marcadas para as 19h.
O maior desafio destas transmissões é, segundo Wyver, encontrar uma maneira de contar a história no ecrã que ao mesmo tempo reflicta integralmente o que se passa no palco.
“O que tentamos fazer, recorrendo a seis câmaras, é apresentar a produção como se a pessoa estivesse no teatro, mas encontrando uma forma para o cinema, o que torna a experiência muito excitante e prolonga e intensifica história que é contada. Conseguir fazer isso é o nosso maior desafio criativo.”
Por essa razão, não há ajustamentos na encenação a favor de uma linguagem mais cinematográfica. É teatro transmitido para sala de cinema, e não mais do que isso. A mensagem transmitida aos actores é que façam exactamente como das restantes vezes que representam a peça, até porque antes de serem vistos do outro lado do ecrã há um público na sala do próprio teatro que têm de começar por conquistar.
“Queremos que continue a ser uma experiência de teatro. Não estamos a tentar fazer um filme. Por isso estas produções são grandes, muito audaciosas no palco, e queremos reflectir isso. Não queremos que eles dirijam as suas actuações para a câmara”, sublinha.
O que tentamos fazer é apresentar a produção como se a pessoa estivesse no teatro, John Wyver
Apesar disso, reconhece que para os actores a experiência possa ser um pouco assustadora, se se pensar que em vez de estarem a representar para mil pessoas num teatro o estão a fazer para 30 mil ou mais em todo o mundo, e que essa actuação é a que ficará registada para a posteridade.
Do lado do público a resposta tem sido “incrivelmente positiva”, diz Wyver, pela possibilidade de verem a companhia, em tempo real, na sua cidade, no seu cinema. Daí que para o produtor do projecto fazer a transmissão na TV ou pela internet não tenha o mesmo impacto.
“Ter um grande ecrã, com um som excelente, numa sala escura, faz com que a pessoa se concentre mais do que se estivesse a assistir num computador ou na TV. Além disso, no cinema podem estar mais cem pessoas, e o sentimento de que se é parte dessa audiência mas também da que está em Stratford é muito especial e é uma grande parte da experiência.” ´
E a experiência é ver Shakespeare, aquele que segundo Wyver, e muitos outros, é o maior dramaturgo de sempre, partindo da língua inglesa, que ajudou a enriquecer, para falar a todo o mundo. O mesmo que agora o pode ver representado na sua terra natal sem ter de lá ir.