Alívio da dívida começa a ser consensual

Alívio da dívida começa a ser consensual


Depois do FMI, agora é Mario Draghi quem engrossa o coro das vozes a favor do alívio da dívida grega.


Quando Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis chegaram ao poder, em Janeiro, o alívio da dívida grega foi dos primeiros pedidos que fizeram. A Europa rejeitou liminarmente – a Alemanha encabeça as vozes contra e conta com o apoio da Finlândia, Holanda e mesmo Portugal, por exemplo – mas depois veio o Fundo Monetário Internacional.

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Em dois documentos libertados em Junho e em Julho, a instituição liderada por Christine Lagarde defendeu o alívio da dívida grega, mostrando por A mais B que ela é impagável, e que um terceiro resgate sem perdão da dívida não vai ajudar a economia do país. Ou sem ser considerado um período de carência de 30 anos até a Grécia começar a reembolsar empréstimos.

Um documento, aliás, que os líderes europeus decidiram ignorar quando acordaram com a Grécia o actual pacote de austeridade que está em cima da mesa. Embora o acordo assinado ente Atenas e os credores preveja um estudo para uma possível reestruturação da dívida, nada é certo.

Tsipras, ainda assim, levou consigo a promessa para o ajudar a convencer o Parlamento a votar um duríssimo pacote de medidas que provavelmente atirará a Grécia para uma recessão mais profunda do que aquela que já se calcula o – o PIB grego deve cair entre 2% a 4% este ano, segundo os mais recentes dados publicados pela Comissão Europeia.

Esta quinta-feira, 16 de Julho, menos de 24 horas depois de o governo do Syriza ter garantido a aprovação do pacote de austeridade, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi também defendeu um perdão da dívida. E disse-o de uma forma absolutamente natural, como se outra coisa não fosse de esperar.

“Não é controverso o facto de que um alívio da dívida é necessário, e acho que ninguém contesta isso. A questão é qual é a melhor forma de o fazer dentro da nossa moldura institucional”, referiu o italiano na habitual conferência de imprensa mensal após a reunião de Conselho de Governadores. “Acho que nos devíamos focar neste ponto nas próximas semanas”, atirou.

Vários economistas – Varoufakis e Tsakalotos, ministro das Finanças grego, entre eles – têm defendido esta necessidade com base nas várias previsões económicas que têm sido feitas para Atenas, um pouco por todo o mundo.

Na mesma ocasião em que anunciou que subiu o montante da Linha de Liquidez de Emergência (ELA) para os bancos gregos, Draghi referiu também que é possível que a Grécia comece a ter acesso ao programa de Quantitative Easing – ou de estímulo à economia – que foi lançado pelo BCE há uns meses. Para isso, notou o responsável, é só preciso que o país continue a cumprir com as suas obrigações. Que é como quem diz, que pague os cerca de 3,5 mil milhões de euros que deve ao BCE, na próxima segunda-feira, como está agendado.

O responsável afirmou ainda acreditar que a Grécia continuará a fazer parte da zona euro, lembrando, no entanto que não é à instituição “que cabe decidir quem fica ou não” na moeda única.

As declarações de Draghi – e as de Lagarde, que ontem, enquanto decorria o debate sobre a austeridade no Parlamento grego disse acreditar que a Europa vai perdoar dívida à Grécia – surgem na véspera de a Alemanha decidir sobre os resgate a Atenas. E no mesmo dia em que Schäuble, o ministro das finanças alemão que parece ignorar todas as vozes que o rodeiam, voltou a defender uma saída temporária da Grécia da zona euro. E a rejeitar um perdão da dívida.