Na entrevista que deu na noite desta terça-feira à televisão grega ERT, a primeira desde a cimeira de domingo passado em que chegou a acordo com os líderes europeus, Alexis Tsipras disse que a noite deste domingo foi uma má noite para a Europa. E que a pressão colocada sobre o seu governo e o seu povo foi contra o respeito pelas tradições europeias. “Terminámos com um acordo difícil, mas que pelo menos não é o beco sem saída que enfrentávamos antes.”
O primeiro-ministro grego salientou que o referendo de dia 5 de Julho lhe deu mais legitimidade, e que apesar de as medidas serem duras, “a Grécia teve uma oferta melhor que a anterior”, nomeadamente no que toca “à renegociação da dívida” e ao programa de assistência financeira.
"Qualquer um teria tomado as decisões que tomei, pensando nos mais pobres. Adoptar a dracma não era opção"
Depois, questionado sobre o facto de ter aceitado mexer em questões que antes considerava absolutamente proibidas, como o aumento da idade da reforma para os 67 anos, o primeiro-ministro grego surpreendeu: “Já o devíamos ter feito por nós. Não é sustentável deixar as pessoas reformarem-se antes”, respondeu Alexis Tsipras.
E afirmou ainda “não acreditar no acordo” que está a assinar, mas que este era fundamental para manter o país na moeda única. “Não vou fugir, e vou assumir a responsabilidade de assinar um acordo em que não acredito”, acrescentou. “Não acredito no acordo mas prefiro assiná-lo a virar costas.”
"Qualquer um teria tomado as decisões que tomei, pensando nos mais pobres", prosseguiu Tsipras, sublinhando que "adoptar a dracma não era opção". "Não temos fundos para voltar à moeda nacional. A desvalorização seria fatal."
O acordo é mau, sim, mas para Tsipras é a única saída. “Fui à Rússia, à China e aos Estados Unidos e não há outras opções."
"A Europa não pertence a Shcäuble. Eu lutei para demonstrar aos povos da Europa que isso não é assim."
Quanto às medidas de austeridade que foi forçado a aceitar para poder alcançar um acordo com os líderes europeus, que permitisse dar início às negociações para um terceiro resgate, Tsipras explicou que o governo tentará compensá-las com outras medidas. A batalha que a Grécia travou, afirmou ainda, foi para manter os salários e as pensões a salvo de cortes.
Os conservadores querem-nos fora
Questionado sobre as afirmações de que o acordo de domingo é um ataque ao seu governo (popularizadas nas redes sociais com a hashtag #ThisIsACoup), Tsipras não esteve com meias medidas e disse mesmo que, tanto na Grécia como na Europa, há quem queira ver o seu governo cair: "Tenho a certeza de que há alguns grupos conservadores na Europa que ficariam contentes se o nosso governo fosse um parêntesis".
E deu vários exemplos: Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Eurpeia, Donald Tusk, presidente do Parlamento Europeu e o Partido Popular Europeu, a que pertence a CDU de Angela Merkel. Na Grécia, a Nova Democracia (centro-direita) também não se importaria de ver o Syriza abandonar o poder, referiu.
Em jeiro de provocação, nota que "a Europa não pertence a Shcäuble", o ministro das Finanças alemão. "Eu lutei para demonstrar aos povos da Europa que isso não é assim". Wolfgang Schäuble tentou que do documento final do Eurogrupo constasse uma cláusula que exigia a saída temporária da Grécia do Euro no caso de os líderes da zona euro não chegarem a acordo. E, revelou Tsipras na mesma entrevista, em Março deste ano o então ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, avisou Alexis Tsipras de que Schäuble tinha proposto à Grécia uma "saída ordenada" da moeda única.
Backstage from the #Tsipras interview (via @geoterzis) #Greece #erttsipras #greekment #rbnews pic.twitter.com/E1lsVX2beX
— Kostas Kallergis (@KallergisK) July 14, 2015