O cancro do meu pai


Os episódios que tomaram conta das redes sociais a semana passada sobre a mulher de Passos Coelho são do mais baixo que pode existir em termos de humanidade.


O meu pai morreu de cancro. Travou uma batalha com a doença que durou anos mas infelizmente acabou por sucumbir. O meu pai foi uma figura pública. Esteve ligado à cultura, ao teatro. Era de direita, demasiado de direita para o meu gosto. Mas, apesar da sua ideologia, era um homem respeitado por muita gente e os seus amigos mais próximos eram quase todos de esquerda. Lembro-me, por exemplo, dos socialistas Fausto Correia e Soares Louro, com quem tantas vezes privou e de quem sempre me disse o melhor.

O meu pai lidou muito mal com a doença. Consumiu-o. Era religioso e nunca percebeu por que razão tamanha enfermidade o tinha escolhido. Nem ele nem nós. É assim com toda a gente. Revoltava-se sempre que sabia de caso semelhante e ligava-me. “Sérgio, mais um que a cabrona apanhou.” Era assim que se referia à doença. Mas encarou-a sempre com esperança e nunca quis deixar de viver, de fazer coisas, de se sentir “normal”.

Tenho um absoluto respeito pela coragem daqueles que conheço que passam ou passaram pelo mesmo. Pelo meu colega de liceu Tiago, que acabou por não resistir, pelo meu colega de partido Ricardo, que luta pela vida com um sorriso na boca e com uma força que nunca vi, pelo miúdo de oito anos que entrou confiante, mas pálido e sem cabelo, no mesmo consultório que eu na semana passada ou pelo Manuel Seabra, do PS, que conheci e nunca perdeu a boa disposição.

No fundo, é o que pretendem. Ter uma vida normal. Os episódios que tomaram conta das redes sociais a semana passada sobre a mulher de Passos Coelho são do mais baixo que pode existir em termos de humanidade. O meu pai se fosse vivo dizia que eram uns filhos da puta! Mas isso era o meu pai…

Deputado
Escreve à segunda-feira   

O cancro do meu pai


Os episódios que tomaram conta das redes sociais a semana passada sobre a mulher de Passos Coelho são do mais baixo que pode existir em termos de humanidade.


O meu pai morreu de cancro. Travou uma batalha com a doença que durou anos mas infelizmente acabou por sucumbir. O meu pai foi uma figura pública. Esteve ligado à cultura, ao teatro. Era de direita, demasiado de direita para o meu gosto. Mas, apesar da sua ideologia, era um homem respeitado por muita gente e os seus amigos mais próximos eram quase todos de esquerda. Lembro-me, por exemplo, dos socialistas Fausto Correia e Soares Louro, com quem tantas vezes privou e de quem sempre me disse o melhor.

O meu pai lidou muito mal com a doença. Consumiu-o. Era religioso e nunca percebeu por que razão tamanha enfermidade o tinha escolhido. Nem ele nem nós. É assim com toda a gente. Revoltava-se sempre que sabia de caso semelhante e ligava-me. “Sérgio, mais um que a cabrona apanhou.” Era assim que se referia à doença. Mas encarou-a sempre com esperança e nunca quis deixar de viver, de fazer coisas, de se sentir “normal”.

Tenho um absoluto respeito pela coragem daqueles que conheço que passam ou passaram pelo mesmo. Pelo meu colega de liceu Tiago, que acabou por não resistir, pelo meu colega de partido Ricardo, que luta pela vida com um sorriso na boca e com uma força que nunca vi, pelo miúdo de oito anos que entrou confiante, mas pálido e sem cabelo, no mesmo consultório que eu na semana passada ou pelo Manuel Seabra, do PS, que conheci e nunca perdeu a boa disposição.

No fundo, é o que pretendem. Ter uma vida normal. Os episódios que tomaram conta das redes sociais a semana passada sobre a mulher de Passos Coelho são do mais baixo que pode existir em termos de humanidade. O meu pai se fosse vivo dizia que eram uns filhos da puta! Mas isso era o meu pai…

Deputado
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