A proposta de austeridade apresentada por Alexis Tsipras para aceder a um terceiro resgate baralhou as alianças e coligações políticas, internas e externas à Grécia, que se consolidaram nas últimas semanas à volta da ideia de expulsar ou não a Grécia da moeda única.
Do ponto de vista interno, as cisões não são de estranhar. Depois de avançar com um referendo sobre um pacote de austeridade inferior ao que agora pôs em cima da mesa, o primeiro-ministro grego acabou por ter que ceder à pressão financeira dos credores e propor um conjunto de medidas bem mais agressivas que tinha ponderado. A ideia não caiu bem e já nesta sexta-feira de manhã cinco deputados do Syriza anunciaram que vão votar contra a proposta apresentada aos credores.
Mas se Tsipras perdeu o apoio de alguns deputados do Syriza – cinco em 40 da plataforma de esquerda – ganhou por outro lado o apoio da Nova Democracia, que detém 76 lugares no parlamento. A Nova Democracia, anterior governo grego, foi chamada tanto por Tsipras como por Jean-Claude Juncker para apoiar a nova proposta de acordo, já que ambos perceberam que o avanço de mais austeridade iria provocar cisões no parlamento: muitos deputados que apoiaram o "não" já manifestaram que preferem sair da moeda única a ter que aguentar mais vagas de austeridade, ainda por cima sem alívio de dívida.
Europa Depois, há a questão externa. Jeroen Dijsselbloem, líder do Eurogrupo, ainda não fez qualquer comentário à proposta grega, remetendo o mesmo para depois das instituições credoras se pronunciarem sobre o mesmo. Mas a linha dura da Europa do Norte continua aparentemente irredutível – ou tenta.
Logo pela manhã desta sexta-feira, o primeiro-ministro da Letónia, Laimdota Straujuma, referiu em entrevista que adivinha bastantes dificuldades em ver um novo resgate à Grécia a ser aprovado pelo parlamento: "Vai ser muito difícil convencer o parlamento. Para o parlamento será difícil esquecer que as pensões na Letónia são consideravelmente mais baixas que na Grécia e se perguntássemos aos letões se estão disponíveis a emprestar mais dinheiro à Grécia, não é difícil adivinhar qual seria a resposta."
Seguiu-se Peter Kazimir, ministro das Finanças da Eslováquia: "Parece que há progressos mas ainda não é claro se são suficientes", comentou esta sexta-feira. "Depois dos últimos desenvolvimento, ao ouvir os responsáveis gregos temos que pensar em quão depressa este 'catterpillar' se pode transformar numa borboleta", salientou também através do Twitter, mostrando dúvida sobre as reais intenções do governo grego.
À cabeça da linha mais dura europeia está, claro, a Alemanha, e em especial o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble. Este governante não esconde a preferência pela expulsão da Grécia do euro, uma posição que agora estará mais difícil de justificar perante os seus pares, tendo em conta as enormes cedências – quase totais – do governo grego perante a voracidade dos credores.
Coube esta sexta-feira a Artur Fischer, CEO da bolsa de Berlim, comentar a situação política alemã. "Estes são os tempos mais duros para a chancer. Será que ela resiste às vozes do seu próprio partido e consegue fazer passar um terceiro resgate pelo parlamento?" Para este gestor, a situação chegou ao ponto crítico em Berlim: "Ela [Merkel] está a enfrentar imensas dificuldades, dificuldades que têm potencial para acabar com o seu mandato mais cedo."