Estados de alma, estados da nação e da Europa


O estado da nação é frágil nos resultados económicos e desastroso nos impactos sociais.


© Sakis Mitrolidis Getty Images

Tolhidos. Parece que os portugueses e os europeus estão bloqueados como se houvesse uma espécie de anestesia cívica que os impede de pensar, falar e agir em função das suas convicções e dos sonhos pessoais e comuns. Nesse exercício democrático, os gregos não se ficaram apenas pelos estados de alma, agiram.

Na semana em que Portugal debate “o Estado da Nação”, a Direita que manda na Europa sai a cambalear dos resultados do referendo na Grécia, mas mantém a mesma indiferença que revelou na sementeira de nacionalismos, de populismos e de radicalismos de Esquerda e de Direita que plantou ao longo dos últimos anos com a voragem da austeridade sem limites. Depois da subserviência aos mercados, é a agenda partidária e eleitoral que comanda o ritmo das situações explosivas geradas no velho continente.

Os interesses partidários do Syriza e associados. Os interesses eleitorais da Direita, em Berlim, em Bruxelas, em Espanha e em Portugal, apostada em sublinhar que não há, não pode haver, alternativa à banda larga da austeridade em que temos vivido. Claro que, em tudo isto, muitas das muletas desta Direita são destacados socialistas e sociais-democratas, sempre disponíveis para partilhar poder e benesses ao serviço dos equilíbrios existentes. O drama é que o enfoque nem está colocado nos valores fundadores do projecto europeu nem está centrado nas Pessoas.

Acho um piadão ver pungentes e salivadas declarações de admiração do Syriza de alguns que há um ano, nas eleições europeias, quando era fundamental infringir a maior derrota possível à Direita, em Portugal e na Europa, ficaram em casa, pouco fizeram para derrotar a doutrina da austeridade e nem o ato eleitoral fiscalizaram. Não foi poucochinho, foi zero.

Chegados aqui, a Grécia precisa de uma resposta e Portugal também. É uma evidência que Passos Coelho, Paulo Portas e os associados fazem do bloqueio cívico, da falta de memória e da total ausência de vergonha na cara os instrumentos de perpetuação no poder. Renovar a paralisante realidade de um Presidente, um Governo e uma maioria Parlamentar justifica todos os meios. É por isso fundamental, relembrar o passado em avaliação, projectar o futuro e nunca os deixar sem resposta. É preciso mais combate político, maior assertividade, proximidade às pessoas e respeito pela pluralidade das ideias e dos percursos políticos.

O estado da nação é frágil nos resultados económicos e desastroso nos impactos sociais. E a nação tem estado demasiado entorpecida e resignada perante a falta de respeito pela dignidade humana, o desbaratar de activos do Estado e a hipoteca do futuro e da esperança. Não sei se são pecados e se são capitais, mas há sete realidades com a assinatura de Passos e de Portas: a mentira eleitoral de assegurar que não haveria cortes nos salários e nas pensões; o desemprego, a precariedade e a emigração; a asfixia da classe média com a brutal carga fiscal; o aumento da pobreza e das desigualdades; o abandono do investimento no conhecimento com os cortes na educação, na ciência e na cultura; os ataques permanentes aos serviços públicos e a incompetência na sua gestão; e a redução de mais de 25% no investimento público e no privado.

Precisamos ser claros nos caminhos para concretizar a prioridade ao emprego, no compromisso de respeito pela dignidade humana, na garantia de trabalho para recuperar rendimento e para reintroduzir um grau razoável de previsibilidade na vida das pessoas. Temos de ser selectivos nas intervenções para valorizar o papel do Estado nas respostas aos cidadãos, na dinamização da economia e dos territórios e nas apostas do presente que preparam o futuro.

À anestesia na sociedade acresce a descrença na política e nos políticos, o que redobra a exigência na proximidade, transparência, coerência, no reforço da democracia participativa e o foco no serviço público e políticas centradas nas pessoas. O estado da Nação e da Europa não é famoso, mas há sempre alternativas.

Maria de Jesus Barroso deixou-nos. A inquebrantável força serena, o humanismo sem limites e a sabedoria de quem esteve na vida sempre a somar afectos e admiração, perdurará em quem foi tocado por ela. Honraremos a sua memória, se nos inspirarmos no seu exemplo e certamente faremos um país melhor. Obrigado!

Membro da comissão política nacional do PS
Escreve à quinta-feira

Estados de alma, estados da nação e da Europa


O estado da nação é frágil nos resultados económicos e desastroso nos impactos sociais.


© Sakis Mitrolidis Getty Images

Tolhidos. Parece que os portugueses e os europeus estão bloqueados como se houvesse uma espécie de anestesia cívica que os impede de pensar, falar e agir em função das suas convicções e dos sonhos pessoais e comuns. Nesse exercício democrático, os gregos não se ficaram apenas pelos estados de alma, agiram.

Na semana em que Portugal debate “o Estado da Nação”, a Direita que manda na Europa sai a cambalear dos resultados do referendo na Grécia, mas mantém a mesma indiferença que revelou na sementeira de nacionalismos, de populismos e de radicalismos de Esquerda e de Direita que plantou ao longo dos últimos anos com a voragem da austeridade sem limites. Depois da subserviência aos mercados, é a agenda partidária e eleitoral que comanda o ritmo das situações explosivas geradas no velho continente.

Os interesses partidários do Syriza e associados. Os interesses eleitorais da Direita, em Berlim, em Bruxelas, em Espanha e em Portugal, apostada em sublinhar que não há, não pode haver, alternativa à banda larga da austeridade em que temos vivido. Claro que, em tudo isto, muitas das muletas desta Direita são destacados socialistas e sociais-democratas, sempre disponíveis para partilhar poder e benesses ao serviço dos equilíbrios existentes. O drama é que o enfoque nem está colocado nos valores fundadores do projecto europeu nem está centrado nas Pessoas.

Acho um piadão ver pungentes e salivadas declarações de admiração do Syriza de alguns que há um ano, nas eleições europeias, quando era fundamental infringir a maior derrota possível à Direita, em Portugal e na Europa, ficaram em casa, pouco fizeram para derrotar a doutrina da austeridade e nem o ato eleitoral fiscalizaram. Não foi poucochinho, foi zero.

Chegados aqui, a Grécia precisa de uma resposta e Portugal também. É uma evidência que Passos Coelho, Paulo Portas e os associados fazem do bloqueio cívico, da falta de memória e da total ausência de vergonha na cara os instrumentos de perpetuação no poder. Renovar a paralisante realidade de um Presidente, um Governo e uma maioria Parlamentar justifica todos os meios. É por isso fundamental, relembrar o passado em avaliação, projectar o futuro e nunca os deixar sem resposta. É preciso mais combate político, maior assertividade, proximidade às pessoas e respeito pela pluralidade das ideias e dos percursos políticos.

O estado da nação é frágil nos resultados económicos e desastroso nos impactos sociais. E a nação tem estado demasiado entorpecida e resignada perante a falta de respeito pela dignidade humana, o desbaratar de activos do Estado e a hipoteca do futuro e da esperança. Não sei se são pecados e se são capitais, mas há sete realidades com a assinatura de Passos e de Portas: a mentira eleitoral de assegurar que não haveria cortes nos salários e nas pensões; o desemprego, a precariedade e a emigração; a asfixia da classe média com a brutal carga fiscal; o aumento da pobreza e das desigualdades; o abandono do investimento no conhecimento com os cortes na educação, na ciência e na cultura; os ataques permanentes aos serviços públicos e a incompetência na sua gestão; e a redução de mais de 25% no investimento público e no privado.

Precisamos ser claros nos caminhos para concretizar a prioridade ao emprego, no compromisso de respeito pela dignidade humana, na garantia de trabalho para recuperar rendimento e para reintroduzir um grau razoável de previsibilidade na vida das pessoas. Temos de ser selectivos nas intervenções para valorizar o papel do Estado nas respostas aos cidadãos, na dinamização da economia e dos territórios e nas apostas do presente que preparam o futuro.

À anestesia na sociedade acresce a descrença na política e nos políticos, o que redobra a exigência na proximidade, transparência, coerência, no reforço da democracia participativa e o foco no serviço público e políticas centradas nas pessoas. O estado da Nação e da Europa não é famoso, mas há sempre alternativas.

Maria de Jesus Barroso deixou-nos. A inquebrantável força serena, o humanismo sem limites e a sabedoria de quem esteve na vida sempre a somar afectos e admiração, perdurará em quem foi tocado por ela. Honraremos a sua memória, se nos inspirarmos no seu exemplo e certamente faremos um país melhor. Obrigado!

Membro da comissão política nacional do PS
Escreve à quinta-feira