Faz falta à Grécia a música dos Cinco Violinos


Grécia, Grécia e mais Grécia. Referendo, referendo e mais referendo. Acorda-se na sexta–feira e ouve-se falar num empate na sondagem. Empate? Ai se isto fosse há uns anos, ai ai. Se fosse no tempo dos Cinco Violinos não havia cá empate para ninguém. Era só o que faltava.


Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano. Por muitos anos que passem, por muitos títulos que se conquistem, ninguém em circunstância alguma se pode esquecer do fenomenal quinteto alcunhado os Cinco Violinos. A feliz expressão é do jornalista Tavares da Silva (curiosamente treinador do Sporting entre 1953 e 1955), a dar ênfase à superioridade dos cinco lá da frente que jogam de olhos fechados e ganham títulos, muitos títulos. Ao todo, cinco em sete possíveis: três campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal e um campeonato de Lisboa.

Os homens são tão bons de bola que até os rivais se rendem. Como o benfiquista Rogério Pipi, ainda hoje o recordista de golos em finais da Taça de Portugal (15). “Nós éramos os diabos vermelhos mas não se podia dizer isso na altura porque o Salazar não deixava. Vermelho era palavra proibida naqueles tempos. E eles, do Sporting, eram os Cinco Violinos, e esse nome esmagava qualquer outro que aparecesse.”

Entre 6 de Outubro de 1946 (Belenenses, 2-2 nas Salésias) e 3 de Julho de 1949 (Barcelona, 1-2 em Madrid), os Cinco Violinos jogam juntos 47 vezes e acumulam 40 vitórias, dois empates e cinco derrotas. Quem os junta é o treinador inglês Robert Kelly. Se a estreia só vale um empate, o segundo jogo é uma vitória estrondosa sobre o rival Benfica por 3-1 na última jornada do campeonato de Lisboa. Feitos campeões regionais, os Cinco Violinos começam o campeonato nacional com a categoria que se impõe: 9-5 em Famalicão com cinco golos de Peyroteo.

Na jornada seguinte, outro nove, este ao Atlético (9-2). E quantos de Peyroteo? Só três. Concentremo-nos pois em Peyroteo, é ele inevitavelmente o rei. A sua extraordinária capacidade de finalização, sem qualquer penálti à mistura (essa tarefa pertence a Albano), vale-lhe 79 golos entre 12 bis, cinco hat-tricks, dois póqueres (um deles ao Benfica, no Campo Grande: 4-1), três pentas e, espante-se, um póquer a dobrar – ou seja, oito golos nos 12-1 ao Boavista. Um ET, sem sombra de dúvida.

Por falar em 12, eis uma outra curiosidade: o 12-0 ao Lusitano de Vila Real de Santo António, no Lumiar, em Fevereiro de 1948, é o único jogo em que os Cinco Violinos, todos eles, assinam a folha de serviço, com cinco golos de Peyroteo, três de Jesus Correia, dois de Albano, um de Travassos e outro de Vasques. Se Peyroteo é o maior, quem se segue? Jesus Correia, com 34. É o extremo-direito quem marca o primeiro de sempre (Belenenses) e também o último (Barcelona) entre cinco bis, dois hat-tricks e um póquer. Os outros três andam tão sintonizados que fazem 26 golos cada um. Nem mais nem menos.

E na selecção nacional? Jesus Correira, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano só fazem dois jogos: vitória sobre a República da Irlanda em Maio de 1948 no Jamor (2-0, golos de Peyroteo e Albano assistidos por Travassos e Peyroteo) e empate vs. Espanha em Março de 1949 (1-1 de Peyroteo, pois claro).

Editor de desporto
Escreve à sexta e ao sábado