Londres a recuperar os seus heróis é das melhores a fazê-lo e os The Jam são os mais recentes a passar pela fórmula mágica: pegar em tudo o que há de um grupo de músicos e mostrar aos comuns mortais, dizer-lhes que há vida depois do fim, pelo menos para uns quantos, abençoados pela graça da criatividade (e da imagem, sempre a imagem). Paul Weller, Rick Buckler e Bruce Foxton, os três disseram que sim, que tudo isto era boa ideia. Nicky Weller, irmã do líder da banda e chefe do grupo de fãs, tomou conta do assunto e levou a exposição “About the Young” até à Somerset House. Inaugurou no dia 26, por lá fica até 31 de Agosto, a passar o Verão na cidade, à espera de visitas fora de água.
Outra vez o título da exposição: “About the City”. Faz parte da letra do primeiro single dos The Jam, “In The City”, de Abril 1977. Punks na cidade, mas já a apontar para uma nova vaga, de corte cuidado e calça vincada. Os mods de 60 a regressar às ruas de Londres mas com o punho mais cerrado. Faziam a farra mas festejavam as guerras, era um encontro perfeito entre os dois universos que deu canções de génio: “Down in the Tube Station at Midnight”, “Going Underground”, “A Town Called Malice”. Se as apanharmos em qualquer lado, hoje, seja onde for, não vamos ficar quietos à espera que o tempo passe.
Os The Jam duraram seis anos e em “About The Young” estão nas paredes, no som ambiente, nas roupas penduradas em cabides, nos instrumentos que foram usados em situações muito particulares, na quantidade absurda de fotografias que foi recuperada a arquivos cuidados e semi-secretos. Atentemos nisto: há até uma dose sobre-humana de pins e crachás, para que não nos esqueçamos que a banda dava música aos fãs, eles vestiam-na como seu próprio uniforme. Os vários elementos da exposição estão organizados por temas (os nomes são os títulos dos álbuns): a realidade social e política dos anos 70 (This Is The Modern World), o estilo (All Mod Cons), a relação com os fãs (Setting Sons) e o som dos The Jam, mais a descendência que criaram (Sound Affects). Para os mais curiosos sobre os pormenores do negócio da música há ainda a secção The Gift, sobre as digressões, os palcos, os números e os detalhes técnicos.
Paul Weller sempre soube o que quis, continuou a sabê-lo quando decidiu acabar com o grupo, em 1982, em directo de Brighton, santuário das coisas mod. No fim da exposição ouvimo-lo de novo, a explicar o porquê do fim e a anunciar que haveria um futuro diferente para cada um dos músicos. Hoje Weller continua a ser o líder e o que carrega o legado dos The Jam. Irreverência mas bem planeada, estamos como sempre estivemos.