Referendo. Se se visse grego votaria NAI ou OXI?

Referendo. Se se visse grego votaria NAI ou OXI?


Responder “sim” ou “não” a um acordo com a Europa não é assim tão simples para boa parte destes portugueses.


Em contagem decrescente para o referendo deste domingo, desafiamos figuras públicas das mais diferentes áreas a colocarem-se na pele dos gregos e a escolher qual o lado da barricada onde querem ficar. Responder “sim” ou “não” a um acordo com a Europa não é assim tão simples para boa parte destes portugueses, divididos entre manter a união entre os europeus e encontrar uma saída para a austeridade.

Entre os que não têm dúvidas há os que justificam o “sim” com a necessidade de manter todos os países membros dentro zona euro, debaixo das mesmas regras. Os que votariam “não” defendem que o povo grego deveria ter autonomia para decidir o seu destino.

1 Ricardo Paes Mamede
Economista

Se a questão me fosse colocada quando Tsipras propôs o referendo, votaria “não”. Mas neste momento ainda não sabemos sequer se o referendo de domingo vai avançar. O acordo que foi feito entre o governo grego e as instituições europeias evidenciava um prolongamento da austeridade sem estabilidade financeira. Esta nova união monetária acredita que a estabilidade financeira de cada país deve sobrepor-se a valores mínimos de decência de uma sociedade. A Grécia sofreu sempre uma abordagem mais dura por parte destas instituições, e aquilo que é agora pedido não é razoável. Na UE não existem mais soluções a apresentar, dando como proposta prosseguir com a austeridade. Diversos economistas espalhados pelo mundo inteiro assumem que esta estratégia foi errada. Mas até domingo, ainda que a probabilidade seja baixa, poderá haver alterações, porque o governo americano está a pressionar as instituições para que os países europeus da periferia mantenham a sua reestruturação financeira dentro da zona euro. A ansiedade continua, e não poderemos excluir essa hipótese.

2 Álvaro Beleza
 Dirigente do PS

Votaria “sim”. Sou europeísta, defendo que cada país membro tem de seguir regras para se manterem dentro da zona euro. Dizer não é um acto irresponsável, o governo do Syriza foi irresponsável com as suas promessas utópicas, colocando-se num beco sem saída. Se fosse grego nunca teria votado no Syriza, que apelaram à demagogia, uma palavra originalmente grega. No entanto, esta Europa, governada por uma direita ultraliberal, não tem sido solidária com os povos. Mas essa solidariedade só poderá chegar com o sim. Se não fosse esta solidariedade a Grécia não se aguentaria na zona euro. Digo mais, o Syriza faz lembrar o Fidel Castro com Cuba há 50 anos, mas o mundo já não é o que era. Ninguém vive de encher a boca do socialismo, é preciso colocar arroz no prato.

3 Ana Bacalhau
Vocalista
Estou dividida. É uma decisão difícil para o povo grego. Analisar de longe é difícil, se tivesse na mesma situação de aflição, sem conseguir, por exemplo, levantar dinheiro, provavelmente diria que sim, por desespero. Mas sendo portuguesa, e europeia, penso que que esta imposição da União Europeia e das suas principais instituições não permite respeitar a democracia, com estas medidas de austeridade. Eu de longe, optaria por ser livre no meu país e votar “não”, mas o medo grego de um cataclismo económico, levar-me-ia, caso estivesse lá, a votar “sim”.

4 José Gusmão 
Dirigente do BE

Eu responderia que “não”. Aquilo que observamos destes últimos meses de negociação demonstram que as instituições europeias querem forçar a Grécia ao mesmo tipo de políticas que levaram o país à situação económica e financeira em que se encontram. Este governo não teve as mesmas condições que outros governos gregos tiveram, como em 2012, onde foi, inclusive, oferecido uma restruturação da dívida. Se o “sim” vencer, o pesadelo e o desrespeito pelo povo grego é para continuar. Dizer “não” permite que o mandato democrático do Syriza possa ter um caminho diferente dos outros.

5 Júlio Isidro
 Apresentador de televisão

Prefiro não dar uma resposta que se limite a “sim” ou “não”. Só sabemos algumas coisas do acordo que até me parecem menores. Por isso, dar uma resposta sem haver cores intermédias não me deixa de consciência tranquila. Já se percebeu que os gregos se querem manter na UE, e que querem o euro. Mas claro, se a questão é aumentar as medidas de austeridade, parece-me legítimo que qualquer povo não queira viver mal ou pedir empréstimos que não consegue pagar.

6 Octávio Teixeira
Economista

Se pudesse votar, responderia “não” às propostas das instituições europeias. Mesmo não sendo uma questão suficiente, este referendo é necessário para que a Grécia possa finalmente sair da zona euro, garantindo a sua autonomia financeira. O governo grego deveria assumir esta saída, para não ser estrangulado. E aquilo que têm demonstrado é que querem manter-se, mas sem austeridade, e isso não é possível.

7 Manuel Graça Dias,
Arquitecto

Se fosse grego votaria pela saída imediata da União Europeia e do euro porque o que está a acontecer é um disparate autêntico. Não deixam os gregos respirar com tantas medidas de austeridade. Não os deixam gerir a própria economia. Se não estão a conseguir resolver os problemas dentro da União Europeia, mais vale tentarem fazê-lo sozinhos. Porque é que não hão-de conseguir uma solução fora do euro? Assim é que não estão a conseguir de certeza.

8 Rui Rangel
Juiz

Obviamente que votaria “sim” à proposta do governo feita ao povo grego. Quem manda na Europa são os povos e não os tecnocratas e as instituições sem legitimidade democrática como o FMI. Esta Europa do egoísmo da alta finança, de credores que não olham a meios para atingir os fins. O objectivo do referendo é ganhar uma posição de força na UE, obter mais possibilidades de negociação de prazos dos pagamentos da dívida. Independentemente do desgoverno do povo grego, não é possível mais austeridade, mas também não acredito que a Grécia saia do euro. O resultado vai ser um novo balão de oxigénio, mas o país vai voltar a falhar o pagamento. Daqui a um ano vamos ter o mesmo problema se este ciclo de loucura não for interrompido. Os princípios da união monetária estão mal concebidos – os pobres têm de andar sempre a correr atrás dos ricos. 

9 Simone de Oliveira
Actriz

Se fosse grega o que faria era perguntar ao Tsipras porque é que fez um referendo, quando já definiu uma posição sozinho. A coluna vertebral dos políticos é sempre um grande ponto de interrogação para mim. O governo grego está a atirar a batata quente ao povo: primeiro diz “não, não, não” e só depois é que vai perguntar ao povo? Se por ventura os gregos disserem “sim” à proposta da UE, vai ser um grande drama para os gregos e Tsipras não terá outra solução a não abandonar o governo. Estou preocupada com a situação, mas aquilo que vejo é que independentemente dos problemas de pobreza do povo, os políticos continuam a viver bem.

10 Teresa Caeiro
Deputada do CDS

Se fosse grega votaria “sim”. Os resultados de uma vitória do “não” são tão imprevisíveis como desastrosos a médio e longo prazo, e isso preocupa-me. A saída da zona euro da Grécia, poderia simbolizar, de um dia para o outro, uma perda da riqueza em cerca de 50%. Como aconteceu com a Argentina há uma década, que não respeitou um acordo com o FMI, e de um momento para o outro, a riqueza desapareceu, e a classe média andava a pedir esmola nas ruas. Por outro lado, os efeitos de contágio na economia dos restantes países, são também preocupantes. E um possível grexit, poderia quebrar esta construção económica, comercial e monetária da UE, que tem sido extraordinária, e que durante séculos, se conseguiu reerguer depois de duas grandes guerras mundiais. O povo grego tem passado por muitas dificuldades, mas os portugueses também, é preciso não esquecer.

11 Duarte Marques
Deputado do PSD

Tem dúvidas? Obviamente que votaria “sim”. A Grécia precisa de financiamento urgente e a actual proposta de acordo é mais equilibrada e menos austera que as anteriores. Prolongar esta situação é sobretudo dramático para os gregos. Dizer “sim” no referendo é encontrar uma solução para a Grecia que precisa urgentemente de liquidez financeira mas também de reformas estruturais que aumentem a competitividade da economia. Se essa solução obrigar a manter alguma austeridade, é um esforço necessário.

12 Catarina Albuquerque
Relatora da ONU

Não consigo tomar uma posição. Por um lado, acho que a ideia de haver um referendo, do ponto vista teórico, é uma coisa boa. Mas na prática, não sei se este referendo está a dar a voz ao povo. Os gregos não estão bem informados sobre os prós e os contras de cada opção. Há muita emoção, muito populismo e muita manipulação de informação. Estes mecanismos de consulta popular só funcionam com tempo. Vejo esta situação da seguinte forma: dois carros a andar na auto-estrada, um deles em contramão, e nenhum deles se desvia na esperança de que o outro o faça. Sendo que num desses carros está todo um povo e no outro as instituições europeias. E se ninguém se desviar e colidirem? Os gregos estão com medo e vão tomar a decisão, talvez a mais importante do século, desta forma leviana? Sem a devida informação e tempo para conseguirem exercer o direito de voto?

13 José Manuel Silva
Bastonário dos médicos

Não sei se votaria “sim” ou “não” porque não conheço os termos das negociações Também não sei se a Grécia está a corrigir as óbvias disfuncionalidades e hábitos que tinha e que a levaram até aqui. Mas sei que votaria não a esta Europa. A dívida grega, tal como a portuguesa, é impagável e insustentável e a Grécia tem culpa, mas a Europa também e as responsabilidades têm que ser repartidas. Sou a favor de uma Europa mais responsável e mais solidária. O euro não é sustentável numa Europa a duas velocidades. A Alemanha promoveu o euro, conquistou a UE sem ter disparado um único tiro, disparou o euro…

14 Francisco George
Director-geral da saúde

Não sei em que opção votaria. O que realço é que a convocação do referendo traduz um exemplo de uma decisão no país onde nasceu a democracia. Tal como acontecia na antiguidade, quando os cidadãos se juntavam e decidiam em conjunto soluções para os problemas da sociedade, com este referendo os gregos vão tomar uma decisão importante com base na vontade de todos. Há que respeitar e não devemos estranhar a consulta popular – esta espelha a vontade e os interesses da maioria. Penso que nenhuma das opções representam a saída da Grécia da UE e nesse caso se seria mais favorável ao não.

15 Paulo Guinote
Professor

Votaria não. O actual governo grego foi eleito exactamente para cortar com os programas de austeridade que nasceram dos excessos de governos de outros partidos como o PASOK e a Nova Democracia. Assinar um acordo com as “instituições” seria trair esse programa que já ficou provado não servir para tirar a Grécia de uma profunda recessão.
Se fosse grego preferia enfrentar quem conduziu o país ao caos e dar um voto de confiança a uma nova política. E o referendo é uma forma profundamente democrática de um povo se expressar sobre uma medida concreta com influência no seu futuro.

16 Mário Cordeiro
Pediatra

Conheço bem a Grécia. Não condeno um povo por alguns abusarem (que seria então dos portugueses!) e a situação de bancarrota e aldrabices nas finanças foi da responsabilidade de governos anteriores com a cumplicidade da UE e de países a quem soube bem vender submarinos e coisas mais.
É difícil saber as consequências das várias opções, pelo que não consigo dizer como votaria, até porque os outros partidos gregos ainda não se pronunciaram, mas que a UE, o FMI e sobretudo o governo alemão estão a fazer uma ingerência inaceitável num país soberano, parece-me claro, mesmo não sendo “syrizista”. E o espírito de Jean Monnet era a solidariedade, a igualdade e a paz entre os povos.

17 Vítor Espadinha
Cantor

Votava não. A situação que a Grécia está a viver não pode continuar assim. Temos de assustar os senhores da Europa para depois sair também Portugal desta situação e ver se as coisas se endireitam de uma vez. Ia ser uma vida muito difícil, mas para o governo grego estar a agir assim é porque deve ter planos para o futuro, e a Rússia deve ajudar. As pessoas também contam, não é só o dinheiro. E as causas são sempre económicas.

18 Inês Teotónio Pereira
Deputada do CDS/PP

Se fosse grega votava “sim”, claro. Um “não” representaria uma saída do euro e da UE e isso era muito grave. Iria provocar um isolamento não só económico como político e social, com os pobres a ficar mais pobres. As taxas de desemprego seriam muito mais elevadas. Não é possível prever como seria o sistema da Grécia e os riscos são demasiado elevados, portanto, enquanto grega, não iria arriscar. A Grécia precisa de um “sim” para se consolidar e para uma Europa unida.

Nilton
Humorista

Não conhecendo o documento, nunca poderei dizer se o povo grego deve ou não assinar alguma coisa. Mas mais importante que isso é perceber quem levou e o que levou um país àquele ponto. Urge mudar o que está mal e não repetir os mesmos erros.

Maria João Bahia
Designer de joalharia

Como não estou lá não consigo ter uma opinião. Mas votaria “sim” para que exista maior estabilidade económica e social dentro da zona euro.