As previsões para o turismo na Tunísia não são animadoras: o sector vai perder cerca de 460 milhões de euros com o ataque que levou à morte de 39 turistas, incluindo uma portuguesa – isto num país onde o turismo contribui com 15,2% do PIB e que estava ainda a recuperar da perda de confiança dos turistas que, com a Primavera Árabe, preferiram escolher outro destino para as férias. Numa espécie de balança de compensações, as perdas de uns significam quase sempre ganhos para outros. “É caso para dizer que o mau dos outros é o nosso bem”, diz Elidérico Viegas que, estando à frente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos doAlgarve (AHETA), tem a memória histórica de outros acontecimentos negativos que acabaram por beneficiar Portugal. “Os anos de Primavera Árabe, os ataques bombistas na Tunísia ou o atentado em Sharm el–Sheikh (Egipto) foram sempre alturas de impacto positivo no turismo português”, lembra.
Numa análise ao tipo de turista que escolhe a Tunísia para férias de Verão, Elidérico explica que grande parte das viagens são feitas através de operadores turísticos, o que faz com que os desvios de rota sejam feitos para países também com essa tradição. “É o caso das Canárias”, explica, lembrando que o desvio do fluxo de turistas para Portugal, mais concretamente para o Algarve, é feito de uma forma mais natural.
Quando, em Agosto de 2013, Portugal viu as receitas com turistas ascenderem a 1,34 mil milhões de euros – um recorde de receitas naquele mês –, o secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes não teve dúvidas em associar esse valor ao facto de Portugal ter tirado partido dos fluxos turísticos ligados à Primavera Árabe. No entanto, o presidente do Turismo de Portugal lembra ao i que a instabilidade no Magrebe só teve impacto directo no turismo português em 2010 e 2011. “A partir de 2012, esses países conseguiram recuperar e Portugal manteve níveis cada vez mais competitivos”, explica.
João Cotrim de Figueiredo faz questão de referir que Portugal não pode estar dependente do que acontece noutros países para ver o turismo nacional crescer, obrigando a um trabalho constante para que a competitividade do país aumente a nível global.
Também numa análise ao turismo da Tunísia, o responsável lembra que, em 2013, 25% dos turistas internacionais que escolhiam o país para férias vinham da Líbia, mercado que não é emissor para Portugal. “O mix de nacionalidades na Tunísia é diferente do português”, diz, e dá como exemplo o facto de termos uma percentagem maior de ingleses a escolher Portugal, em detrimento dos franceses, que optam mais facilmente pelos países do norte de África.
Impacto para este ano Admitindo a dificuldade em perceber as razões que levam os turistas a escolher o destino de férias em cada ano, Elidérico Viegas prevê um Verão positivo para Portugal, “não só pelo que aconteceu na Tunísia, mas porque o euro desvalorizou face ao dólar e à libra”. Para o Algarve está previsto um aumento de 5% no número de turistas e nos meses de Julho e Agosto espera-se uma ocupação hoteleira perto dos 100%.
Já o presidente doTurismo de Portugal garante que Portugal não está no topo das preferências de quem se desvia dos países do norte de África, mas refere que o trabalho deve direccionar-se no sentido de aumentar a quota em cada mercado emissor. “Portugal tem de ser, cada vez mais, uma escolha.”