“Tenho de agradecer o pouco tempo que estive contigo quando tinhas quatro empregos, só para seres capaz de tomar conta de mim. Nunca esquecerei o dia em que me disseste que ias usar as poupanças para fazer um court de cimento no quintal para mim. Não tínhamos dinheiro para uma tabela de verdade, mas construíste uma à mão para eu treinar. Não posso agradecer-te o suficiente por isso.” Karl-Anthony Towns não se esqueceu do esforço familiar quando venceu o troféu de Atleta do Ano (para escolas secundárias) em Julho de 2014. Oemocionante discurso ajuda a perceber o carácter humilde do jovem de 19 anos, a primeira escolha do draft da NBA, para os Minnesota Timberwolves.
Sempre foi o mais alto da escola – hoje mede 2,11 metros. As secretárias não davam para o seu tamanho, os colegas gozavam com ele. Esperava ansiosamente pelas três da tarde, quando o pai o levava aos treinos de basquetebol na Piscataway Technical High School. Há longos anos que ochefe de família é treinador. Quando frequentava o 5.o ano, o pequeno Karl já treinava com os juniores da Piscataway. Em casa, o seu feroz apetite dificultava ainda mais o apertado orçamento familiar.Para ajudar os pais, começou a recortar todos os cupões de desconto que encontrava nos jornais.
No 9.o ano do secundário foi chamado para a selecção nacional da República Dominicana (o país de origem da mãe), onde defrontou os ídolos LeBron James e Kevin Durant. “Eu só quero ser o melhor. É isso que me motiva”, diz. Por isso, encontrou no progenitor a ajuda ideal. Karl-Anthony Sr. sempre o obrigou a trabalhar todos os aspectos do jogo (drible, lançamento, três pontos, defesa, desarmes, etc.) para que o filho se tornasse um basquetebolista completo.
fácil? não Quando a mãe assistiu a um jogo de Karl-Anthony, notou que os seus movimentos no campo se assemelhavam aos de uma bailarina. Percebeu que o filho tinha futuro no basquetebol. O pai mantinha-o numa rotina rigorosa:mil lançamentos em suspensão, seis dias por semana, só com o domingo para descansar.
Karl-Anthony nunca gostou do caminho fácil. Quando foi para a escola secundária, optou por uma que nunca tinha ganho um campeonato. Quando saiu, em 2014, tinham conquistado três títulos estaduais consecutivos. Todos elogiavam a sua qualidade, todos lhe diziam que era o n.o 1. Esteve perto de desistir do basquetebol: “Não gosto de estar no topo da montanha, gosto de a escalar.”
Felizmente, voltou atrás. Não podia ser de outra forma. Quem olhar para as paredes do quarto onde vive desde 2004, percebe que o miúdo tem algo de especial. Nelas pintou citações de desportistas que admira, como Kobe Bryant, Willie Mays ou Venus Williams.Num dia em que desviou as cortinas para limpar o quarto, a mãe encontrou outra frase por baixo da janela. “A grandeza tem o seu preço”, assinada por Karl Towns. “Quanto mais duro trabalhares, mais difícil é desistires”, lê--se noutra parede. O jovem não se limitou a citar os ídolos, mas criou as suas próprias interpretações do duro caminho para o topo.
Apesar da mudança para o Minnesota, onde jogará nos Timberwolves, tentará que a árdua vida de jogador da NBA não o impeça de concretizar outros sonhos. No Kentucky, onde era caloiro, estudou cinesiologia e pretende continuar a fazê–lo através da internet. Karl quer ser médico quando acabar a carreira. Sabe que a fama e a riqueza estão a um passo, mas não esquece os valores incutidos desde cedo pela família. A solidariedade é outra das suas características. Quando estava no 9.o ano, marcou 25 pontos num jogo e não voltou a lançar ao cesto. Era uma homenagem a um Marine norte-americano falecido no Afeganistão, com 25 anos. Não é incomum vê-lo visitar crianças internadas em hospitais. “OKarl nunca pensará que é maior e melhor que ninguém. Ele segue o seu coração”, recorda a mãe. A NBA espera por ele.