Pela quinta vez em dez dias, os ministros das finanças da zona euro vão reunir este sábado para tentar debater e chegar a um consenso relativamente às propostas sobre a nova austeridade a implementar na Grécia. Para Angela Merkel, é o fim-de-semana de todas as decisões. Eis porquê:
O objectivo deste novo encontro é tentar desbloquear o impasse em que a Grécia foi colocada depois da vitória do Syriza nas eleições de Janeiro, um resultado que desagradou aos líderes europeus que pela primeira vez tiveram que enfrentar um governo a bater o pé à lógica da austeridade. O FMI, BCE e CE, os credores da Grécia, têm tentado impor novas rondas de austeridade a Atenas que, todavia, relembra que o país tem piorado, social e financeiramente, a cada ronda de austeridade.
A reunião. A Grécia tem até terça-feira para pagar 1,6 mil milhões de euros ao FMI, dia em que termina oficialmente o resgate do país. Com o acesso bloqueado a uma tranche de 7,2 mil milhões de euros do empréstimo internacional, Atenas tem sido “convidada” a promover uma nova ronda de austeridade no país para os credores desbloquearem aquela verba. Contudo, entre o programa eleitoral com que foi escolhido pelos gregos e as pressões dos credores e dos governos europeus, Tsipras ficou encostado à parede.
O clima de contestação crescente no país, contra a hipótese do governo grego voltar a ceder a Bruxelas, também ameaça a estabilidade do país: são muitos os deputados do Syriza que já prometeram votar contra qualquer acordo no Parlamento, o que coloca em risco o governo e poderá levar a novas eleições. Tanto o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, como o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, já acusaram de ser precisamente esse o objectivo dos credores, forçar a cedência do Syriza para o tirar do governo. Contudo, em caso de novas eleições na Grécia, o mais provável será a entrega do governo a um partido tão ou mais anti-austeridade.
O que falta para o acordo. Existem ainda divisões entre a austeridade a aplicar às pensões e aos impostos e se por um lado Alexis Tsipras defende que a sua proposta inicial já representa enormes cedências face ao programa eleitoral do Syriza, por outro lado as instituições credoras parecem querer forçar a barra ao máximo, aproveitando a urgência de Atenas em pagar os 1,6 mil milhões ao FMI. Ontem os credores fizeram mesmo um ultimato ao governo grego que, todavia, saiu pela culatra, já que até mereceu críticas de outros ministros das Finanças do euro.
Actualmente, com fonte oficial da União Europeia a assegurar que “há mais de 50% de hipóteses de se chegar a um acordo”, as reuniões entre credores e governo grego continuam. Além das medidas propriamente ditas – há divisões ao nível de cortes nas pensões, aumentos de IVA ou IRC – muitos deputados do Syriza já avançaram que recusarão qualquer acordo que não apresente uma solução para a insustentável dívida grega.
E se houver acordo? Em caso de acordo na reunião deste sábado, o novo plano de austeridade deverá ser submetido no domingo ao parlamento grego, tendo que ser igualmente votado pelo parlamento alemão, mas apenas na segunda-feira. Mesmo que haja acordo, nada garante que o mesmo seja aprovado pelo parlamento de Atenas. Já caso não se chegue a um acordo, a Grécia falhará o pagamento ao FMI precisamente no dia em que termina oficialmente o seu resgate. O país fica em risco de ver o BCE cortar o acesso aos fundos de liquidez de emergência.
Confirmando-se o cenário de corte de fundos do BCE, Atenas poderá ser obrigada a impor o controlo de capitais ou a encerrar de imediato o sistema bancário para evitar uma fúria de levantamentos – como a recente corrida aos balcões, no caso provocada pelo BCE, que viu os bancos perderem 4 mil milhões em depósitos. Caso o governo de Atenas dê por si sem euros suficientes para cumprir com as suas obrigações de salários, pensões, etc… então terá que avançar com a emissão de uma moeda própria.