Capa in Color. O olhar a cores para as vidas do pós-guerra segundo Robert Capa

Capa in Color. O olhar a cores para as vidas do pós-guerra segundo Robert Capa


Exposição inédita do trabalho a cores do célebre fotógrafo até 20 de Setembro em Budapeste. 


Grande parte da história do século xx não seria contada da mesma maneira se o fotógrafo nascido em Budapeste no ano de 1913, numa família judaica, com o nome Endre ErnöőFriedmann, não a tivesse registado. Foi, no entanto, com o pseudónimo de Robert Capa que se tornou conhecido como fotojornalista, notabilizando--se pelas imagens a preto-e-branco que captou em alguns dos mais importantes cenários de conflito. 

A Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Sino-Japonesa e a Segunda Guerra Mundial foram alguns dos terrenos que pisou e de onde trouxe imagens tão brutais quanto belas, como a “Morte do Soldado Miliciano”, que terá sido tirada em 1936, na zona espanhola de Cerro Muriano. Envolvida em mistério e alvo de polémica, por alguns estudiosos que questionam a sua autenticidade e autoria –, há quem defenda ter sido feita pela sua companheira da época, a também fotógrafa Gerda Taro –, a imagem é a mais famosa das suas fotografias, mas apenas uma das muitas que testemunham um acompanhamento de perto e a frequente imersão nos combates.

O desembarque dos Aliados na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial, foi talvez um dos seus trabalhos de cobertura jornalística mais emblemáticos. Esse, assim como outros, foram publicados pela revista “Life”.
A primeira guerra da Indochina, onde morreu depois de ter pisado uma mina, em 1954, foi o último cenário que viu. Mas no percurso do fotógrafo também houve muita cor e vivacidade, e é isso que pode ser visto no Centro Contemporâneo de Fotografia Robert Capa, em Budapeste, até 20 de Setembro, na exposição “Capa in Color”, uma mostra itinerante que foi inaugurada em Janeiro de 2014, em Nova Iorque.

A modelo e actriz francesa Capucine em Roma (1951)

Capa na versão a Cores De 1940 até à sua morte, em 1954, Robert Capa fotografou a cores com regularidade, sobretudo depois do final da guerra. Apesar de alguns desses trabalhos terem sido publicados, na altura, em revistas de renome, a maioria acabou por ficar esquecida, não tendo sido impressa nem devidamente estudada, como refere o Centro Internacional de Fotografia (International Center of Photography, no original) no seu texto de apresentação à exposição em Budapeste, feita a partir do seu arquivo.

Entre o material exposto estarão mais de 100 fotografias a cores e provas de revistas que documentam essa fase da carreira do fotógrafo, revelando simultaneamente a forma como abordou a fotografia a cores e como se adaptou ao período do pós-guerra, com a atenção outrora dada aos conflitos e aos cenários de combate substituída pelo interesse no entretenimento e pelo desejo de evasão para novos lugares. 

No final dos anos 40 visita a União Soviética e Israel para documentar o quotidiano das pessoas no rescaldo da Segunda Guerra Mundial. Na visita à antiga potência comunista, Capa é acompanhado pelo escritor John Steinbeck. A viagem dá origem ao livro “A Russian Journal” e a uma reportagem de 16 páginas na revista “Ladies’ Home Journal”, com o título “Women and Children in Soviet Russia”.

A partir dos anos 50, a sua lente passa a captar igualmente os aspectos mais glamorosos da sociedade, numa altura em que a palavra “lifestyle” começa a entrar no léxico e a ilustrar algumas diferenças na nova definição geopolítica do mundo de então.


Das suas fotografias a cores destacam-se as de estâncias de esqui nos Alpes suíços e franceses

Às estâncias de esqui dos Alpes franceses e suíços e aos refúgios balneares de Biarritz e Deauville, para revistas como a “Holiday”, somam-se imagens icónicas de actores. São os casos de Ingrid Bergman, Humphrey Bogart, Orson Welles e John Huston, fotografados em momentos descontraídos, nos sets de gravações dos filmes. Também artistas como Pablo Picasso e Ernest Hemingway foram retratados por Robert Capa, que chegou ainda a fazer uma breve incursão na fotografia de moda, em Paris.

A este lado do seu trabalho, que contrasta com o percurso feito no teatro de guerra, Capa trouxe ainda assim muito do que aprendeu com as experiências anteriores. A capacidade técnica e a sua preocupação de retratar as emoções humanas, que revelou nas imagens captadas nos conflitos onde esteve presente, contribuíram para uma transição pacífica entre a fotografia a preto-e-branco e a fotografia a cores, e para reafirmar o seu olhar particular sobre aqueles que trouxe para o foco da sua lente. 

É essa visão singular, que moldou a forma como se vê a história do século xx, que a Hungria pretende sublinhar com esta exposição, através da divulgação dessa vertente menos conhecida do percurso do fotógrafo. Uma mostra pioneira na Europa sobre o lado colorido de Robert Capa.