A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) anunciou esta quinta-feira o nascimento do primeiro abutre-preto registado no Alentejo desde há mais de 40 anos, o que confirma o restabelecimento de um núcleo reprodutor da ave no sul de Portugal.
A cria nasceu de um ovo incubado "com sucesso" por um dos dois casais de abutre-preto que estão a nidificar em ninhos artificiais instalados na Herdade da Contenda, no concelho de Moura, no distrito de Beja, no âmbito do projecto LIFE para promoção do habitat do lince-ibérico e do abutre-preto no sudeste de Portugal, explica a LPN, num comunicado enviado à agência Lusa.
Trata-se do nascimento da "primeira cria de abutre-preto de que há registo no Alentejo desde há mais de 40 anos", o que "confirma o tão aguardado início do restabelecimento de um núcleo reprodutor" da ave, criticamente em perigo de extinção, após várias décadas sem se reproduzir no sul de Portugal, sublinha a LPN.
O nascimento da cria foi "recentemente confirmado" durante a monitorização efectuada aos dois casais reprodutores, que foram detectados, no passado mês de Março, em plataformas artificiais de nidificação instaladas na Herdade da Contenda, propriedade da Câmara de Moura.
Segundo a LPN, o nascimento da cria "representa um sucesso das medidas" do projeto LIFE "Habitat Lince Abutre" e "marca o início do restabelecimento de um núcleo reprodutor da espécie no Alentejo, fundamental para a recuperação do abutre-preto em território nacional".
A LPN lembra que há mais de 40 anos que não havia reprodução de abutre-preto confirmada a sul do rio Tejo em Portugal, tendo neste período "apenas sido registada uma tentativa de nidificação (falhada)" em 1996 e também na Herdade da Contenda.
De acordo com a LPN, o abutre-preto regressou como reprodutor a Portugal em 2010, na região do Tejo Internacional, e, atualmente, estão a nidificar apenas cerca de 12 casais no Tejo Internacional, um casal no Douro Internacional e a recente reprodução no Alentejo corresponde ao estabelecimento do terceiro núcleo reprodutor da espécie no país.
A LPN refere que, nas próximas semanas, em colaboração com a Herdade da Contenda e em articulação com o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, continuará a acompanhar os abutres-pretos a nidificar no Alentejo, "tendo, permanentemente, em atenção a necessária compatibilização com as restantes actividades em curso na propriedade", como a caça, a silvicultura, o ecoturismo e o usufruto pelas comunidades locais.
A reprodução da espécie "criticamente em perigo de extinção" no Alentejo foi possível graças ao resultado das medidas implementadas no âmbito do projecto e da "indispensável colaboração" da empresa municipal de Moura Herdade da Contenda e da sua "adequada gestão da área", indica a LPN.
No início de 2012, no âmbito do projecto LIFE "Habitat Lince Abutre", foram instalados um total de 30 ninhos artificiais para abutre-preto no Alentejo, nas regiões de Moura, Mourão e Barrancos e do Vale do Guadiana, para "melhorar as condições para o estabelecimento e reprodução" da espécie.
Além da instalação dos ninhos, foi também criada uma rede de campos de alimentação para aves necrófagas na área de implementação do projeto, dirigida ao abutre-preto, e um conjunto mais vasto de medidas de conservação do lince-ibérico e dos habitats das duas espécies, incluindo a sensibilização e o envolvimento das comunidades locais, num investimento de cerca de 2.250.000 euros ao abrigo do Programa LIFE-Natureza.
Lusa