Dirigente do Syriza diz que “programa não vai resultar, vai falhar de novo”

Dirigente do Syriza diz que “programa não vai resultar, vai falhar de novo”


Os credores querem que o Syriza deixe de ser o que é e não deverá será assinado qualquer acordo, é o que defende um dirigente do Syriza.


Os credores internacionais apenas aceitam que o Governo grego aplique políticas de austeridade com o objectivo de modificar a natureza política do Syriza ou afastá-lo do poder, disse, esta quinta-feira, um dirigente do partido.

O dirigente chama-se Andreas Karitzis e afirma que "este programa que pretendem aplicar não vai resultar, vai falhar de novo, e a sociedade e a economia gregas ficarão numa situação ainda pior".

Isto porque "os credores pretendem, que o Syriza deixe de ser o que é hoje. Ou que se torne num partido que siga o caminho das políticas neoliberais, ou ser afastado do poder. É esse o objectivo", considera Andreas Karitzis, antigo professor de Filosofia na Universidade de Patras e membro da direcção do Instituto Nikos Poulantzas, com ligações ao partido de esquerda que dirige o Governo da Grécia após as eleições de 25 de Janeiro.

Andreas Karitzis, também, membro do comité central do partido, não esconde a sua preocupação pelos últimos desenvolvimentos das negociações entre Atenas e os credores internacionais (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), que se arrastam há quase cinco meses.

Na sua perspectiva, e atendendo ao actual impasse, defende que não deverá será assinado de momento qualquer acordo.

"Não sabemos o que vai acontecer. A actual estratégia de austeridade irá atingir o Syriza de forma muito negativa. Defendo que não deve ser firmado um acordo, ver as consequências desta decisão nas duas partes, no Governo e nos credores, e de seguida discutir a possibilidade de um outro acordo", afirmou este quadro da formação da esquerda grega, que desde 2012 optou por se dedicar em exclusivo à actividade partidária.

Desde Janeiro também colabora com diversos ministérios na elaboração de projectos políticos específicos, na área da política digital ou da economia social.

"Defendo que para já não devemos fazer um acordo, ver as consequências de um típico incumprimento, para nós e para os credores, e depois discutir se existe vontade para continuar a discutir. Haverá problemas com os bancos, entre outros, e veremos se os credores estão em condições de alterar as suas condições", disse.

O antigo professor de Filosofia sublinhou que será muito difícil alguém acreditar que o acordo que está a ser discutido permita à Grécia garantir dinheiro para pagar a sua dívida, quando o país foi submetido desde 2012 a dois programas de resgate no valor de 240 mil milhões de euros, para além um de perdão parcial da sua dívida assumido pelos credores privados. Para além de um aumento constante da dívida pública do país que hoje atinge os 317 mil milhões de euros, quase 180% do PIB.

Neste contexto, recordou que no início das negociações, em que o novo ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, assumiu particular protagonismo, Atenas avançou com "diversas políticas económicas moderadas para recuperar a economia", reprogramar o pagamento da dívida "para não destruir a Grécia" e garantir o último empréstimo dos credores de 7,2 mil milhões de euros, suspenso desde Agosto.

"Considerámos que seria uma solução sensata porque pensámos que os credores também estavam numa situação difícil porque o seu programa não funcionou na Grécia", assinalou.

"O Syriza tomou o poder devido ao falhanço desse programa. Mas após vários meses de negociações sabemos que os credores não pretendem um acordo que nos permita enfrentar os problemas económicos e sociais do país", disse.

Andreas Karitzis não deixou de censurar os credores por "apenas aceitarem" que o Governo do partido da esquerda radical continue a aplicar na Grécia políticas de austeridades, mas que contradizem o seu programa eleitoral. E independentemente de algumas "cedências" que ocorreram nas recentes discussões.

"Estamos a tentar um acordo, mas cada vez que damos alguma coisa distanciam-se e pressionam-nos ainda mais", frisou.

O investigador do Instituto Nikos Poulantzas revelou que no decurso das negociações apenas foi aceite pelas instituições uma "pequena modificação" do programa que não alterou o essencial.

"Tornou-se claro que não pretendem um acordo que permita à Grécia enfrentar de facto os seus problemas e que a eurozona seja um lugar onde é possível conviverem diferentes políticas ou orientações económicas, uma zona de pluralismo económico".

E insiste: "Agora sabemos que não é o caso, a zona euro não permite a coexistência de diferentes medidas ou perspectivas económicas", antes de considerar que Bruxelas e o FMI pretendem forçar o Governo grego a aplicar as medidas dos anteriores governos "e mesmo que esses programas não tenham resultado".

Lusa