O cálculo político interno pesa em cada reacção nacional à proposta apresentada pelo governo grego em Bruxelas. À direita, a proposta é desvalorizada e até alvo de desconfiança. Para o PS, “não é ideal”. Já o Bloco de Esquerda defende mais o governo grego do que o próprio Syriza, que ontem reagiu com críticas internas ao que foi entregue em Bruxelas por Alexis Tsipras.
O plano [ver páginas anteriores] foi visto na Grécia e por alguns responsáveis do Syriza como um regresso à austeridade, com um impacto previsto de 8 mil milhões de euros nos orçamentos deste ano e do próximo. OBE olha por outro prisma:“A proposta do Syriza rompe com a austeridade prevista para a Grécia, em 2015 e 2016, ganhando nessa negociação oito mil milhões de euros. São nada menos do que cinco pontos do PIB grego. Mais, a austeridade deixou de atingir sempre os mais pobres”, disse ontem a porta-voz do partido. OBE aponta sobretudo para a recusa do governo grego em agravar o IVA na electricidade e por não avançarem os cortes nas pensões na medida do pretendido por Bruxelas.
No PS, João Galamba também não despreza o acordo, acreditando mesmo que “é menos duro do que Passos,Rajoy e outros talibãs na Europa desejavam”. Ao i, o secretário-nacional do PS diz acreditar que “há extremos políticos que não querem nenhum acordo na Grécia” e afirma que “é melhor haver acordo do que não haver. Mas é evidente que, numa economia com os dados que apresenta a Grécia, mesmo que a dose de austeridade seja inferior, este continua a ser um mau plano”. Ainda assim, Galamba acredita que se a Comissão Europeia desbloquear o acesso a 35 mil milhões de euros de estímulo à economia grega – o que estará dependente de um acordo hoje –, isso muda o quadro. “Não é o plano ideal, mas é o possível. Se vier essa ajuda, isso será positivo”, remata o deputado socialista.
A posição do governo português neste quadro negocial é o alvo das críticas à esquerda, com Catarina Martins a dizer que “as reacções do governo merecem repúdio. As declarações de Passos Coelho correspondem à tentativa de preservar a ideia, derrotada pela reacção à proposta grega, de que não há outro caminho senão a obediência a uma austeridade sem fim”.
Na declaração que fez à imprensa, a deputada do BE diz mesmo que do que se conhece da proposta grega, “torna-se evidente que sempre foi a Grécia e não a União Europeia quem se comprometeu e deu os passos efectivos para uma solução que proteja a economia grega, mas também o futuro da Europa”.
Uma posição refutada pelo PSD, nos dois argumentos. António Rodrigues diz que o governo de Tsipras “ultrapassou todas as suas linhas vermelhas” e que a “cedência” foi das instituições europeias, que “fizeram uma leitura política. Preferiram a estabilidade política”. Mas o vice--presidente da bancada do PSD não canta vitória, mantendo os receios de um futuro colapso:“Os riscos não vão estar afastados porque falta saber se as autoridades gregas vão levar o programa a sério, se vão cumprir os compromissos e se estas medidas terão os resultados esperados.”