Cidades mais vulneráveis às cheias, ao calor e ao vento

Cidades mais vulneráveis às cheias, ao calor e ao vento


No total, 26 municípios identificaram as suas principais vulnerabilidades e alguns estão já a preparar respostas.


NoInverno sucedem-se as notícias que dão conta de estradas cortadas pela neve na serra e inundações nas ruas de Lisboa. Já no Verão, é comum a divulgação de dados sobre o calor e as suas consequências para a saúde. O senso comum já nos dava algumas dicas sobre os problemas climáticos que mais atingem o território português, mas, pela primeira vez, esses dados foram sistematizados.

Cheias e inundações, ondas de calor, deslizamentos de terras e vento forte e queda de neve são as principais vulnerabilidades relacionadas com o clima identificadas pelos 26 municípios que integram o projecto Climadapt.local, que pretende ajudar as câmaras municipais a definirem planos para enfrentar as alterações climáticas.

Em geral, o coordenador das estratégias municipais de adaptação às alterações climáticas não considera os resultados surpreendentes, à excepção de um: o vento. “Não tínhamos noção de que era algo que afectava de forma significativa algumas zonas do país, nomeadamente a área metropolitana de Lisboa”, refere Luís Dias ao i. Ainda sobre a capital, o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa considera inevitável a referência às cheias que têm atingido a cidade nos últimos Invernos. Como forma de actuar antes de a catástrofe acontecer, Luís Dias lembra a vontade da câmara de pôr em acção um plano de drenagem, do qual devia fazer parte a criação de bacias de retenção e de trincheiras de infiltração que tornem os solos mais permeáveis.

Apesar de serem as inundações a ter mais espaço na comunicação social – “pelo seu efeito visual mais impactante” como refere o investigador –, são as secas o fenómeno que mais devia preocupar. “Prova que temos menos recursos hídricos, o que leva a uma menor produção agrícola”, refere, lembrando que, “apesar de acontecer mais no Sul do país, acaba por afectar todo o território. Ao contrário do que se possa pensar, alerta o investigador, o Alentejo e o Algarve, apesar de estarem mais ligadas a períodos de seca, sofrem também com as inundações provocadas pela chuva. “Cada vez chove mais em menos tempo e os sistemas de drenagem não estão preparados para essa alteração.” Já quando se fala de cheias provocadas pela subida do nível do mar, são as zonas costeiras do Norte e do Centro as mais afectadas.

preparar as cidades Ajudar as autarquias a identificar as vulnerabilidades das cidades é apenas um passo de um projecto a longo prazo e que pretende culminar na criação de estratégias municipais de adaptação às mudanças do clima. “A ideia é que as cidades tenham um trabalho prévio feito, para que os problemas se resolvam antes de as catástrofes acontecerem”, refere Luís Dias, e dá o exemplo de Cascais, que já instalou uma série de corredores verdes para minimizar o impacto do calor e o de alguma autarquias do Sul que identificaram as pessoas mais vulneráveis para que sejam colocadas em locais com ar condicionado nos dias mais quentes.

Apesar de não chegar a todo o país, a escolha dos municípios foi feita de forma a ter uma “representatividade territorial”, com cidades que espelhem “diferentes sectores económicos e mostrem diversidade geográfica”, explica ao i Ana Rita Andrade, da Quercus, uma das entidades que participam na iniciativa. Daí a escolha de municípios tão diferentes como Viana do Castelo, Bragança, Seia, Castelo Branco, Évora ou Loulé.