A humilhação da Grécia e a retórica nazi


A retórica de Tsipras e da extrema--esquerda em relação à troika e à Europa tem muito em comum – pasme-se – com a de Adolf Hitler em relação ao armistício.


A questão punha-se desde que o Syriza ganhou as eleições legislativas, em Janeiro deste ano: como é que um partido tipicamente de contrapoder (como o Bloco de Esquerda em Portugal) se comporta quando chega ao governo? Entra em contradição consigo próprio e faz o mesmo que os grandes partidos, que contesta tão encarniçadamente? Ou põe em prática as medidas que defendia enquanto oposição – e que, sabemos nós, muitas vezes não colam à realidade?

Até aqui tudo apontava para a segunda hipótese: Alexis Tsipras falava sempre em não vergar, não se conformar, não obedecer, manter-se fiel aos seus princípios. E à medida que a possibilidade de um acordo com a União Europeia se tornava mais remota, pois o Syriza não abdicava das promessas feitas aos eleitores, o seu discurso subia de tom. Tsipras chegou a acusar o FMI de “responsabilidade criminal” pela situação do seu país.

A retórica de Tsipras e da extrema--esquerda em relação à troika e à Europa tem muito em comum – pasme-se – com a de Adolf Hitler em relação ao armistício. O ditador falava muitas vezes na “traição” de Versalhes e nos “criminosos” que haviam ratificado o acordo que pôs um ponto final na Grande Guerra. Um discurso de Hitler, em Abril de 1923, começava assim: “Com o armistício começou a humilhação da Alemanha.”

Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, também falou de “humilhação”. Em declarações à TSF, dizia a deputada que a Europa tinha de decidir se queria preservar a democracia – opção que implicava deixar o governo grego fazer as opções que bem entendesse – ou humilhar a Grécia. O povo, continuava a dirigente do Bloco, elegera o Syriza e portanto cabia a este governar de acordo com as suas ideias.

Achei curioso que Catarina Martins defendesse para a Grécia aquilo nunca defendeu para o seu próprio país. Se é tão importante que se respeite a vontade popular, porque exigiu o Bloco tantas vezes a demissão de um governo e de um Presidente legitimamente eleitos? A menos que considere que a Grécia, por ter trazido a democracia ao mundo, goza de algum estatuto especial.
 

A humilhação da Grécia e a retórica nazi


A retórica de Tsipras e da extrema--esquerda em relação à troika e à Europa tem muito em comum – pasme-se – com a de Adolf Hitler em relação ao armistício.


A questão punha-se desde que o Syriza ganhou as eleições legislativas, em Janeiro deste ano: como é que um partido tipicamente de contrapoder (como o Bloco de Esquerda em Portugal) se comporta quando chega ao governo? Entra em contradição consigo próprio e faz o mesmo que os grandes partidos, que contesta tão encarniçadamente? Ou põe em prática as medidas que defendia enquanto oposição – e que, sabemos nós, muitas vezes não colam à realidade?

Até aqui tudo apontava para a segunda hipótese: Alexis Tsipras falava sempre em não vergar, não se conformar, não obedecer, manter-se fiel aos seus princípios. E à medida que a possibilidade de um acordo com a União Europeia se tornava mais remota, pois o Syriza não abdicava das promessas feitas aos eleitores, o seu discurso subia de tom. Tsipras chegou a acusar o FMI de “responsabilidade criminal” pela situação do seu país.

A retórica de Tsipras e da extrema--esquerda em relação à troika e à Europa tem muito em comum – pasme-se – com a de Adolf Hitler em relação ao armistício. O ditador falava muitas vezes na “traição” de Versalhes e nos “criminosos” que haviam ratificado o acordo que pôs um ponto final na Grande Guerra. Um discurso de Hitler, em Abril de 1923, começava assim: “Com o armistício começou a humilhação da Alemanha.”

Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, também falou de “humilhação”. Em declarações à TSF, dizia a deputada que a Europa tinha de decidir se queria preservar a democracia – opção que implicava deixar o governo grego fazer as opções que bem entendesse – ou humilhar a Grécia. O povo, continuava a dirigente do Bloco, elegera o Syriza e portanto cabia a este governar de acordo com as suas ideias.

Achei curioso que Catarina Martins defendesse para a Grécia aquilo nunca defendeu para o seu próprio país. Se é tão importante que se respeite a vontade popular, porque exigiu o Bloco tantas vezes a demissão de um governo e de um Presidente legitimamente eleitos? A menos que considere que a Grécia, por ter trazido a democracia ao mundo, goza de algum estatuto especial.