A Comissão Europeia, o FMI e o Banco Central Europeu vão dar mais tempo à Grécia para não entrar em default. Esta foi a principal conclusão do Eurogrupo de ontem, com Jeroen Dijsselbloem, o ministro das Finanças dos Países Baixos, que lidera a reunião dos seus pares da zona euro, a defender que as instituições europeias precisam de mais tempo para analisar as últimas propostas gregas. Dijsselbloem acrescentou que o plano apresentado pelo governo de Tsipras “é uma base para que as negociações recomecem verdadeiramente”, embora seja preciso analisá-las agora para saber se “são suficientes para relançarem a economia grega”.
A opinião é partilhada durante a tarde pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que depois de um encontro com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, se manifestou confiante de que haverá um acordo com a Grécia ainda esta semana.
O novo plano grego, entregue em duas versões em Bruxelas, cede a algumas das exigências dos credores, como a subida do IVA, o agravamento da taxa social única paga pelas empresas e ainda uma redução drástica do número de pensões antecipadas (a média da idade de reforma na Grécia é de 59 anos, muito inferior à dos restantes países da zona euro).
Fonte da União Europeia citada pela Reuters refere ainda que o executivo de Atenas abriu uma porta à reforma do próprio sistema – um ponto até agora considerado tabu pela coligação liderada pelo Syriza –, admitindo subir de forma gradual a idade da aposentação para os 67 anos. O Eurogrupo deverá reunir–se de novo na próxima quinta-feira, naquele que é o terceiro encontro dos últimos oito dias, já com uma noção exacta do impacto das medidas agora avançadas sobre o PIB grego.
Entretanto, quer a Comissão Europeia, quer o FMI ou o Banco Central Europeu admitiram estender mais seis meses o prazo para o pagamento da dívida grega, através de um apoio de 18 mil milhões de euros. Recorde-se que Atenas precisa urgentemente de fundos para conseguir fazer frente a um pagamento de 1,6 mil milhões de euros no último dia deste mês, desconhecendo-se ainda se este prazo vai ser prorrogado. Durante os seis meses de extensão seriam desbloqueados os 7,2 mil milhões de euros do fundo de resgate concedido ao país, bem como um outro empréstimo, que estava dependente do acordo, de 10,9 mil milhões de euros para a recapitalização dos bancos gregos.
Christine Lagarde não compareceu à conferência de imprensa que se seguiu ao Eurogrupo, como tem sido habitual, embora o FMI tenha emitido um curto comunicado em que refere que recebeu a nova proposta do executivo grego e que está agora a fazer a sua avaliação.
Alexis Tsipras, que ontem participou na cimeira extraordinária de chefes de Estado e do governo da zona euro, que ainda decorria à hora de fecho desta edição, anulou entretanto uma intervenção no Conselho da Europa, que hoje decorre em Estrasburgo, depois de ele mesmo ter pedido para falar. Oprimeiro--ministro grego manteve ontem uma maratona de reuniões com vários representantes dos credores, como o Banco Central Europeu, o próprio presidente da Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional.
Mas mais difícil que chegar a acordo com os credores vai ser, para Tsipras, convencer o parlamento grego a apoiar o plano apresentado em Bruxelas. A coligação liderada pelo Syriza venceu as legislativas pelo discurso antiausteridade e vai ter agora de dar o acordo a medidas que inevitavelmente vão trazer, pelo menos numa primeira fase, mais perda de poder de compra aos gregos.