Lima Escape. Dormir como um índio e comer como um cowboy

Lima Escape. Dormir como um índio e comer como um cowboy


Ponte da Barca tem um dos melhores parques de campismo do mundo. Quem o diz é “The Telegraph”.


Quando um jornalista do “The Telegraph” diz que temos um parque de campismo onde se pode “descansar perto de um rio que serpenteia através da montanha”, está na hora de montar a tenda. Rumar a norte faz parte da aventura, até porque o Lima Escape tem posição privilegiada: fica em Ponte da Barca mas mais 20 minutos de caminho e já se fala castelhano. Além disso, o melhor de tudo, apesar de pertencer já ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, faz parte de uma zona ainda pouco explorada pela razia de turistas que de repente descobriu a natureza minhota. “O nosso lado do Gerês é mais autêntico, menos comercial”, resume Anna Altshul, que gere o parque há dois anos, desde que assumiu a exploração que permitiu revitalizar um espaço de cinco hectares, aberto há mais de 20 anos.

A primeira mudança foi garantir que o parque está aberto todo o ano. Para isso foi preciso investir em espaços que protegessem os visitantes do tempo instável do Norte. O termo técnico é Glamping, uma espécie de campismo de luxo. Em termos práticos traduz-se na possibilidade de dormir ao ar livre, sem ter a preocupação de levar tenda, saco-cama, almofada e campingaz. Aqui a tenda já está montada e, depois de passar a lona que serve de porta, só o barulho dos pássaros nos lembra que não estamos num quarto de hotel. Existem duas Glamour Bell Tent, as mais espaçosas, que contam com cama, sofás e estantes e duas tipi, em formato de tenda de índio, mais pequenas mas com a garantia de cama, edredon e almofada, um luxo para quem já pensava nas dores de costas provocadas pelos finos colchões de campismo.

Luxo Há quem prefira dar um upgrade à experiência e passar aos bungalows e não é por isso que se afasta da natureza, pelo contrário. As pequenas (mas supercompletas) construções de madeira foram erguidas de forma a parecerem uma casa na árvore. Como assentam em pilares altos, dão a sensação a quem vai à janela ou à varanda de estar ao nível do topo das árvores, com o rio Lima a passar debaixo dos seus pés. “A beleza natural já existia, foi só saber trabalhá-la”, conta Anna, que trocou Moscovo por “esta pérola”, como lhe chama.

Foi o amor que a trouxe a Portugal, mas a entrega ao projecto não a deixa partir e, apesar das melhorias já feitas, não pára de apontar ao seu redor para aquilo que ainda está só na sua cabeça. “Quero tornar tudo mais ecológico, trocar o gás por outro sistema, as torneiras normais por sistemas de paragem automática, apostar na reciclagem”, salienta, “tornar tudo ainda mais verde”. Da lista de ideias já pode fazer um check em vários itens: a churrasqueira já está remodelada, os espaços de jardim limpos, o parque infantil recuperado e o restaurante aberto. É na Adega do Artur que se preparam os pequenos-almoços que são servidos em cesta de piquenique a quem opta pelas tendas de Glamping. Mas é a partir da hora de almoço que se provam as especialidades: cabrito assado, cozido à portuguesa ou posta barrosã.

“Vocês comem muito”, exclama Anna. Como mais de metade dos visitantes chega de fora do país, a responsável viu-se obrigada a apostar em pratos vegetarianos e mais leves, mais indicados para quem não quer ter de esperar horas para que a digestão deixe dar um mergulho nas lagoas e nos rios à volta do parque.

Info Na recepção os panfletos tornam ainda mais difícil a escolha do caminho a seguir. A lagoa do Eucalipto fica a 800 metros, a lagoa de Froufe a 2 quilómetros e as lagoas da Ermida a 7 quilómetros, “indicada para os mais aventureiros”. Depois de uma noite de trovoada passada num tipi, deixamos as dúvidas de lado e decidimos prolongar a descarga de adrenalina. Até chegar à Ermida, uma das aldeias mais pitorescas da região, os quilómetros são em curva contracurva, num desfiladeiro que tem tanto de arrepiante como de bonito. Parámos o jipe ao pé da placa de madeira que diz simplesmente Lagoa 3 e começamos a descer o monte – sim, esqueça os acessos facilitados – até chegar a um cenário digno de novela da Globo. As cascatas sucedem-se e podem chegar aos dez metros de altura, numa água que de tão limpa até serve para matar a sede. E o melhor de tudo? Em pleno Junho somos os únicos nas redondezas. Vamos manter isto só entre nós, OK?