Não houve fumo branco no Eurogrupo de ontem mas, tal como na Cúria romana, todas as partes parecem ainda esperar por um milagre que resolva as divergência entre Atenas e os seus credores. Segunda-feira reúnem os chefes de Estado e do governo em Bruxelas, com a esperança de chegarem a um consenso. O objectivo é conseguir quebrar a resistência de Atenas e alcançar um acordo que permita desbloquear uma nova tranche de 7,2 mil milhões de euros do empréstimo, para que o governo de Tsipras tenha dinheiro para cobrir as despesas públicas do próximo mês e pagar ao FMI a 30 de Junho.
{relacionados}
Ogoverno grego continua a insistir num acordo que inclua uma “reestruturação da dívida pública que ponha fim ao círculo vicioso dos últimos cinco anos, em que o país teve de receber continuamente empréstimos para pagar os anteriores”, enquanto a Comissão Europeia e o FMI pretendem que Grécia cumpra o que já foi negociado e, sobretudo, reforme o seu sistema de pensões, que absorve 17% do PIB.
As negociações do Eurogrupo duraram várias horas e, no final, Valdis Dombrovskis, comissário europeu para o Euro e o Diálogo Social encerrava-as com um lacónico “No deal at #Eurogroup” divulgado no seu Twitter, acrescentando que se tratou de um sinal forte para a Grécia se envolver seriamente nas negociações.
Pouco depois, e já numa conferência de imprensa, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, explicou que os ministros das Finanças dos países da zona euro estão preparados para retomar as negociações a qualquer momento e que, desta vez, a delegação grega tinha ido para as reuniões “com toda a seriedade”. Dombrovskis reconheceu também ser “difícil” chegar-se a um acordo, “porque há pouco tempo, mas é preciso agir e decidir”.
Ainda assim, acrescentou, “é impensável que o país consiga ter o dinheiro dia 30. Mesmo que se chegue a acordo, é impensável que a sua implementação aconteça antes do final deste mês”.
A tarde ficou marcada por inúmeras divergências, não só com o governo grego, representado pelo ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, um dos primeiros a abandonar a sala, mas também entre alguns Estados-membros, com alguns a radicalizarem as posições, como a Finlândia, e outros a defenderem o alívio da austeridade ao país. Outro afastamento foi o da chanceler alemã e do seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble. Ontem de manhã, Angela Merkel falou aos deputados do seu país, afirmando que ainda acredita num acordo com a Grécia, parecendo sensível aos argumentos de Barack Obama, que defende a permanência da Grécia no espaço ocidental e na moeda única por razões geoestratégicas.
Ontem, e pouco antes do início da reunião do Eurogrupo, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, advertiu o governo de Alexis Tsipras de que não irá beneficiar de mais nenhum adiantamento para pagar a dívida.
Na Roménia, o Presidente Cavaco Silva admitiu que “um acidente com um país na zona euro levará a que alguns efeitos ocorram e não serão positivos, embora eu continue a acreditar que as consequências podem ser contidas, quer em relação a Portugal quer relativamente à UE”.
Lembrando que Lisboa tem “uma reserva de recursos financeiros que permite aguentar o país, o financiamento do Estado e a economia, durante vários, vários meses”, Cavaco salientou, no entanto, que todos os países europeus estão preocupados devido ao facto de a situação grega ter entrado numa fase “de resultados imprevisíveis”.
O líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, foi mais radical, descrevendo a situação como “uma espécie de catástrofe global, já que seria uma tragédia não apenas para a Grécia, mas também para a Europa. Se houvesse uma situação desse tipo, haveria consequências catastróficas ao nível financeiro, tendo implicações em todos os Estados-membros da União Europeia, em todos os governos, em todas as oposições e em todos os programas políticos. Mas eu não especulo nem em matéria futebolística, e muito menos sobre essas matérias”.