Os cães fazem parte da cultura da região. Ao contrário do que se passa na maioria dos países ocidentais, os cães do Ártico não são encarados como animais domésticos mas sim como animais de trabalho, auxiliares e amigos para enfrentar as agruras e dificuldades de habitar um dos lugares mais inóspitos da Terra.
Nas Svalbard, os cães não são permitidos dentro das habitações, pelo que têm obrigatoriamente que viver em canis comunitários nas imediações da cidade de Longyearbyen, a capital do arquipélago. No Verão, passam os dias deitados ao sol, relaxando e aguardando a chegada da neve para começarem a correr pelos vales. Quando chega o Inverno, as primeiras quedas de neve lembra-os que são muito mais do que animais bonitos. Os cães do Ártico são animais dóceis, exímios a percorrer os vales gelados da ilha. O Inverno é sinónimo de longas corridas na neve, espaços abertos, novos desafios e liberdades.
A partir de Longyearbyen é possível fazer vários percursos de trenós puxados a cães do Ártico, alguns de várias horas, outros de vários dias. Não havia muito tempo, por isso fiz um percurso de quatro horas pelos vales da ilha Spitsbergen para testemunhar esta vertente da cultura do Ártico. A empresa tinha o seu próprio canil, onde os cães estão deitados relaxadamente sobre as casotas ou sobre a neve gelada. Quando cheguei, fui apresentada à equipa de caninos que me ia acompanhar. Os cães são surpreendentemente carinhosos e mimados. Depois de distribuir vários mimos, prende-se os cães ao trenó e ouve-se a explicação do Timon, o guia.
Guiar um trenó de cães tem algumas regras de ouro:
1ª regra: ter sempre, pelo menos, uma mão no trenó;
2ª regra: ter sempre um pé preparado para carregar no travão;
3ª regra: dar um pequeno empurrão ao início e deixar os cães fazerem o resto.
Porque estes meninos gostam é de correr na neve, não há muito mais a fazer a não ser desfrutar da natureza e da experiência.E que magnífica experiência! Foram momentos inesquecíveis em que ia alternando onomatopeias (- wow, – oh) com gritos de entusiasmo (Isto é brutal!). Os cães corriam e, quando o declive ajudava, com uma velocidade surpreendente.
No final da viagem ainda pude conhecer uma fêmea e sete cachorrinhos que aguardavam por uma visita e alguns miminhos. Desde pequeninos, os cães são habituados à presença humana e, em particular, ao contacto com turistas chatos que só lhes querem tirar fotos e fazer festas. Isto faz parte do seu processo de seleção. Só os cães mais sociáveis são escolhidos para puxar os trenós, e estes pequeninos parecem ter passado no teste.Para terminar, um chá quentinho e uma bolachinha acompanhando uma última ronda de festas nos cães em modo de despedida.
{relacionados}Artigo escrito por Carla Mota, ao abrigo da parceria entre a agência de viagens de aventura Nomad e o Jornal i.