Mais cigarras que formigas


É de cigarra Passos fazer a apologia do bom uso dos fundos comunitários e permitir que Portas gaste 20 mil euros num jantar de pura propaganda.


© Luis Forra/Lusa

Em Outubro, são os últimos quatro anos do governo de Passos e Portas que vão estar em apreciação pelos portugueses. Com o Verão à porta, é cada vez mais evidente que por mais que a coligação Portugal à Frente procure fazer-se passar por formiga, nos últimos anos não passaram de uma conjunto de térmitas que corroeram a madeira que estrutura a vida das pessoas, as dinâmicas dos territórios e o futuro de Portugal.

Em bom rigor, pela fragilidade dos resultados alcançados e apesar de a Presidência da República se ter transformado num relógio de repetição do governo, a coligação está muito mais perto da cigarra do que da formiga.

É de cigarra esbanjar fundos comunitários em cursos inconsequentes como fez a Tecnoforma, sob o impulso de Pedro Passos Coelho, para depois, como primeiro-ministro, fazer a apologia da boa utilização dos fundos da Europa e permitir que o seu vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, torre 20 mil euros de dinheiro dos contribuintes num jantar de propaganda para 300 pessoas sobre a execução do PRODER. Não têm de ser os portugueses a pagar as festas do Dr. Portas.

É de cigarra um governo que, por falta de vontade política, não defendeu o interesse nacional em Bruxelas e assumiu atitudes laxistas para sustentar a sua narrativa de venda dos activos nacionais, para depois de vendidos aos privados, nacionais ou estrangeiros, alimentar, com recursos públicos, as soluções de venda dos anéis que concretizou.

Foi o que aconteceu com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Privatizou-os para a West Sea da Martinfer, perdeu-se o conhecimento e a experiência de muitos dos trabalhadores que abandonaram a empresa, e agora Passos e Portas autorizam a Marinha a contratar com o privado a construção de dois navios-patrulheiros, através de ajuste directo de até 77 milhões de euros mais IVA. A diferença é que enquanto o governo francês entrou em força no capital da PSA Peugeot Citroën, o governo português aliena os Estaleiros Navais de Viena, vende a TAP e desfaz-se de tudo o que possa valer uns cobres. E Bruxelas é a mesma.

Não me revejo na ganância do governo de Passos e de Portas de vender, a saldo e em fim de festa, o que resta, mas também não é sensato entrar numa vertigem de oposição em que se anuncia o bloqueio ou a reposição de tudo o que o governo possa fazer, correspondendo à narrativa da direita do regresso ao passado. E muito menos me revejo na presença de políticos e de comentadores nos negócios em curso e nos finalizados nos últimos anos. Aliás, tudo processos de imaculada lisura.

São quatro anos de negócios sem definição dos activos estratégicos nacionais em que não há registo de ocorrências anormais. Ainda bem!

Entre 2009 e 2013, as famílias mais pobres perderam 24% dos seus rendimentos, enquanto o rendimento dos 10% mais ricos desceu apenas 8%, agravando as desigualdades económicas.

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde concluiu que os portugueses pagam cada vez mais pela saúde e houve uma diminuição constante do número de consultas nos cuidados primários e do número de camas no Serviço Nacional de Saúde. Portugal tem um dos níveis mais baixos de despesas de saúde por habitante da União Europeia e é o que menos investe em saúde mental.

É o Portugal à Frente da coligação.  

É quase Verão, mas não parece. Todos os gatos podem parecer pardos à noite mas não o são. Em sentido figurado, os portugueses estão à espera de formigas, não de cigarras, e muito menos das térmitas dos últimos quatro anos ou daqueles que estiveram na equipa de porteiros que, com o chumbo do PEC IV, abriu a porta à troika. Sim, o PCP e o Bloco de Esquerda não definiram a playlist da austeridade, mas estiveram na abertura da porta.

Embora escudado nas propostas de futuro mais credíveis, o PS tem de ser mais formiga, mobilizar os militantes e os autarcas para serem agentes da mudança; combater as tropelias finais do governo e lembrar as realizadas nos quatro anos sem resultados; respeitar a diversidade interna não apenas nas palavras ou no simbolismo formal e trabalhar para concretizar o impulso de liderança de António Costa: a conquista da maioria absoluta. 

Mesmo quando se controlam todas as variantes, o que não é o caso, nem as cigarras conseguem resultados sem trabalho.

Membro da comissão política nacional do PS
Escreve à quinta-feira

Mais cigarras que formigas


É de cigarra Passos fazer a apologia do bom uso dos fundos comunitários e permitir que Portas gaste 20 mil euros num jantar de pura propaganda.


© Luis Forra/Lusa

Em Outubro, são os últimos quatro anos do governo de Passos e Portas que vão estar em apreciação pelos portugueses. Com o Verão à porta, é cada vez mais evidente que por mais que a coligação Portugal à Frente procure fazer-se passar por formiga, nos últimos anos não passaram de uma conjunto de térmitas que corroeram a madeira que estrutura a vida das pessoas, as dinâmicas dos territórios e o futuro de Portugal.

Em bom rigor, pela fragilidade dos resultados alcançados e apesar de a Presidência da República se ter transformado num relógio de repetição do governo, a coligação está muito mais perto da cigarra do que da formiga.

É de cigarra esbanjar fundos comunitários em cursos inconsequentes como fez a Tecnoforma, sob o impulso de Pedro Passos Coelho, para depois, como primeiro-ministro, fazer a apologia da boa utilização dos fundos da Europa e permitir que o seu vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, torre 20 mil euros de dinheiro dos contribuintes num jantar de propaganda para 300 pessoas sobre a execução do PRODER. Não têm de ser os portugueses a pagar as festas do Dr. Portas.

É de cigarra um governo que, por falta de vontade política, não defendeu o interesse nacional em Bruxelas e assumiu atitudes laxistas para sustentar a sua narrativa de venda dos activos nacionais, para depois de vendidos aos privados, nacionais ou estrangeiros, alimentar, com recursos públicos, as soluções de venda dos anéis que concretizou.

Foi o que aconteceu com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Privatizou-os para a West Sea da Martinfer, perdeu-se o conhecimento e a experiência de muitos dos trabalhadores que abandonaram a empresa, e agora Passos e Portas autorizam a Marinha a contratar com o privado a construção de dois navios-patrulheiros, através de ajuste directo de até 77 milhões de euros mais IVA. A diferença é que enquanto o governo francês entrou em força no capital da PSA Peugeot Citroën, o governo português aliena os Estaleiros Navais de Viena, vende a TAP e desfaz-se de tudo o que possa valer uns cobres. E Bruxelas é a mesma.

Não me revejo na ganância do governo de Passos e de Portas de vender, a saldo e em fim de festa, o que resta, mas também não é sensato entrar numa vertigem de oposição em que se anuncia o bloqueio ou a reposição de tudo o que o governo possa fazer, correspondendo à narrativa da direita do regresso ao passado. E muito menos me revejo na presença de políticos e de comentadores nos negócios em curso e nos finalizados nos últimos anos. Aliás, tudo processos de imaculada lisura.

São quatro anos de negócios sem definição dos activos estratégicos nacionais em que não há registo de ocorrências anormais. Ainda bem!

Entre 2009 e 2013, as famílias mais pobres perderam 24% dos seus rendimentos, enquanto o rendimento dos 10% mais ricos desceu apenas 8%, agravando as desigualdades económicas.

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde concluiu que os portugueses pagam cada vez mais pela saúde e houve uma diminuição constante do número de consultas nos cuidados primários e do número de camas no Serviço Nacional de Saúde. Portugal tem um dos níveis mais baixos de despesas de saúde por habitante da União Europeia e é o que menos investe em saúde mental.

É o Portugal à Frente da coligação.  

É quase Verão, mas não parece. Todos os gatos podem parecer pardos à noite mas não o são. Em sentido figurado, os portugueses estão à espera de formigas, não de cigarras, e muito menos das térmitas dos últimos quatro anos ou daqueles que estiveram na equipa de porteiros que, com o chumbo do PEC IV, abriu a porta à troika. Sim, o PCP e o Bloco de Esquerda não definiram a playlist da austeridade, mas estiveram na abertura da porta.

Embora escudado nas propostas de futuro mais credíveis, o PS tem de ser mais formiga, mobilizar os militantes e os autarcas para serem agentes da mudança; combater as tropelias finais do governo e lembrar as realizadas nos quatro anos sem resultados; respeitar a diversidade interna não apenas nas palavras ou no simbolismo formal e trabalhar para concretizar o impulso de liderança de António Costa: a conquista da maioria absoluta. 

Mesmo quando se controlam todas as variantes, o que não é o caso, nem as cigarras conseguem resultados sem trabalho.

Membro da comissão política nacional do PS
Escreve à quinta-feira