Foi em 2012 que surgiram os primeiros sinais de que algo “estava podre” no reino de Ricardo Salgado. Há três anos que a novela BES se desenrola entre prejuízos históricos, cartas trocadas com o Banco de Portugal, aumentos de capital, buscas judiciais, comissões de inquérito e, claro, o Novo Banco, que entretanto nasceu por via da resolução do antigo Banco Espírito Santo. Quase um ano depois de Salgado ter sido detido, o Ministério Público voltou às residências dos antigos administradores da instituição, nomeadamente à do antigo presidente do BES e à de Amílcar Morais Pires. Quantos mais episódios ou temporadas terá a série “A queda dos Espírito Santo”, ninguém sabe.
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2012
BES faz aumento de capital recusando recorrer à linha de capitalização da troika disponível para a banca nacional. Foi a única entre as grandes instituições a optar por não subscrever instrumentos de capital contingente.
Ricardo Salgado recorre à amnistia fiscal no âmbito do caso Monte Branco e faz três correcções à declaração de rendimentos de 2011. Paga 4,3 milhões de euros de IRS. O Monte Branco investiga crimes de branqueamento de capitais e fraude fiscal que envolvem a Akoya, sociedade suíça de gestão de fortunas e com ligações ao BES.
Torna-se público o desentendimento entre Ricardo Salgado e Álvaro Sobrinho, antigo CEO do BES Angola, e também entre Salgado e Pedro Queiroz Pereira, presidente da Semapa. O banco começa a dar os primeiros sinais de vacilação.
2013
Chega ao fim a aliança histórica entre Semapa e BES. Meses mais tarde chega aos jornais que Pedro Queiroz Pereira entregou ao Banco de Portugal documentos incriminatórios sobre o Grupo Espírito Santo.
Fernando Ulrich alertou o Banco de Portugal para problemas com o BES no início do ano e a instituição terá anotado as suas preocupações.
Em Julho, o Banco de Portugal envia uma primeira carta para a Espírito Santo Financial Group (ESFG). Havia “exposição excessiva do grupo financeiro sobre o ramo não financeiro” e a “comercialização de produtos financeiros junto da rede de clientes” já tinha “exposto o grupo ESFG [que integrava o BES] a riscos de compliance e reputacionais elevados”.
José Maria Ricciardi faz uma tentativa de “golpe de Estado” para retirar Salgado do poder.
A desavença tornou-se pública e voltou os holofotes para a instabilidade que se começava a sentir no GES.
Em Dezembro, o Banco de Portugal envia a primeira carta dramática à ESFG, dando 27 dias ao grupo para executar um plano de salvação. Salgado liga ao governador e diz que o plano é inexequível.
Maio 2014
A Espírito Santo Financial Group e o grupo francês Crédit Agricole anunciam a dissolução da holding BESPAR, através da qual controlavam o BES, passando a ter participações directas no banco. Foi o primeiro sinal do fim da aliança entre os Espírito Santo e o Crédit Agricole.
É publicado na CMVM o prospecto relativo ao aumento de capital do BES que revela várias informações relativas ao universo Espírito Santo, nomeadamente: irregularidades nas contas da Espírito Santo Internacional (ESI); um processo de reorganização do grupo; a garantia do Estado angolano; e os processos de investigação em curso nos EUA, por exemplo.
Ricardo Salgado dá uma entrevista ao “Jornal de Negócios” onde culpa o contabilista do grupo, Francisco Machado da Cruz, pelas irregularidades da ESI.
Junho 2014
O aumento de capital do BES é totalmente subscrito (1045 milhões de euros), com a procura a superar a oferta.
Julho 2014
A ESFG anuncia a suspensão das acções e obrigações da empresa devido a “dificuldades materiais em curso”.
O BES continua a garantir que a exposição do banco ao GES não põe em causa os rácios de capital.
A Comissão Europeia diz publicamente que o sistema financeiro português tem capacidade para gerir uma crise como a do GES.
Banco de Portugal, Passos Coelho e Cavaco Silva reafirmam solidez do Banco Espírito Santo.
Quatro dias depois, a ESI
revela que é candidata ao regime de gestão controlada no Luxemburgo por não ter “condições de cumprir as suas obrigações” junto dos credores.
Quatro dias depois da ESI, a Rioforte também apresenta um pedido de gestão controlada às autoridades do Luxemburgo.
No dia 24, Ricardo Salgado é constituído arguido e ouvido no Tribunal Central de Instrução Criminal, depois de ter sido detido em sua casa. Sai sob fiança de 3 milhões de euros.
Foram realizadas buscas na sede do Grupo Espírito Santo, onde funcionava o Conselho Superior e algumas sociedades ligadas à família.
No dia 30 de Julho, o BES comunica prejuízos de 3,5 mil milhões de euros em seis meses. A almofada de capital de 2100 milhões de euros que o banco tinha deixou de ser suficiente. Éo princípio do fim.
Agosto 2014
No primeiro dia do mês, as acções do BES são suspensas depois de terem caído quase 50% na sessão.
No dia 3 de Agosto é anunciada a resolução do banco. O BES fica como banco mau, com os activos tóxicos, e nasce o Novo Banco, que agrega todos os activos saudáveis da instituição.
Novembro 2014
A casa de Ricardo Salgado é alvo de buscas, bem como a sede do Novo Banco e a residência de Amílcar Morais Pires. São apreendidos milhares de documentos e também material informático que as autoridades consideram relevantes.
Maio de 2015
Novas buscas, desta vez na Espírito Santo Property, a empresa que gere os activos imobiliários do Grupo Espírito Santo. A sociedade é alvo de arresto de bens imóveis e de contas bancárias. A Procuradoria-Geral da República justifica o arresto preventivo de que foram alvo as pessoas e empresas do chamado universo Espírito Santo como “ uma medida de garantia patrimonial que visa impedir uma eventual dissipação de bens que ponha em causa, em caso de condenação, o pagamento de quaisquer quantias associadas à prática do crime, nomeadamente a indemnização de lesados ou a perda a favor do Estado das vantagens obtidas com a actividade criminosa”.
Junho 2015
Novas buscas e arrestos, desta vez a propriedades de antigos administradores do BES, nomeadamente Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires.