“Divertida-mente”. São tudo coisas da nossa cabeça

“Divertida-mente”. São tudo coisas da nossa cabeça


“Inside Out” (no original) viaja até ao interior da mente de uma criança.


A partir de amanhã, o novo filme da Disney-Pixar está nos cinemas portugueses. “Inside Out” (no original) viaja até ao interior da mente de Riley Anderson, uma criança que de repente tem de mudar de casa porque o pai mudou de emprego.

Conhecemos as cinco principais emoções de Riley e como controlam todas as suas atitudes e comportamentos. O principal dilema do filme acontece entre a Alegria e a Tristeza, mas fica uma primeira apresentação das estrelas da fita.

Raiva
Lewis Black

Se começarmos pelo actor que dá voz à personagem, algumas coisas vão ficar esclarecidas. Lewis Black é um humorista e argumentista que ficou ainda mais famoso – longe de ser um garoto, começou a sua carreira no início dos anos 80, com uma ligação maior ao teatro – quando participou no “Daily Show” de JonStewart. Assinava a rubrica Back in Black e o que fazia era, mais do que qualquer outra coisa, destilar ódio e azedume. O objecto do descontentamento de Lewis Black era a existência em geral. Em “Inside Out” dá voz ao Raiva, personagem masculina para a emoção feminina que tem o aspecto de um tijolo em brasa. Quando está realmente enervado com alguma coisa, solta umas quantas chamas, misto de aviso com descontrolo nervoso. E é, em conjunto com a Alegria, a emoção que menos tolerância tem face à Tristeza e às respectivas fragilidades. Voltando a Lewis Black, durante a première do filme em Hollywood, em Janeiro deste ano, o actor afirmou o que todos pensamos: “Fui uma escolha tão óbvia para este papel que chega a ser incómodo.”

Repulsa
Mindy Kaling

Esta é uma espécie de polícia mental: é a Repulsa que evita que RileyAnderson chegue perto seja do que for que lhe possa fazer mal. Pode ser comida, pode ser uma situação ou uma pessoa menos própria para consumo. O objectivo, aqui, é manter o nível de exigência, nunca facilitar e suspeitar sempre de tudo e todos. Fora o detalhe de salvar vidas – Repulsa acredita que é essa a sua missão, levá-la a pensar o contrário é utopia. É verde porque sim e porque o criador do filme, Pete Docter, imaginou Riley como uma criança que não suporta brócolos. Assim sendo, se é para ser Repulsa, pois que carregue o mesmo tom daquilo que esta rapaziada mais odeia. Mindy Kaling é a voz desta personagem, actriz, argumentista e comediante que todos já vimos ou ouvimos antes, só pode. “Virgem aos 40”, “Gru, o Maldisposto”, “Força Ralph”, “The Office”, “Curb Your Enthusiasm” ou a série criada pela própria Kaling, “The Mindy Project”. Apesar de tudo isto, Kaling disse à“Vanity Fair” que “tinha de aceitar o papel, li o guião, fui à Pixar e chorei”.

Medo
Bill Hader

O melhor amigo da Tristeza, claro está, o Medo tem sobrancelhas que flutuam – não fosse mais nada, bastava isso para fazer deste rapaz uma emoção especial. Diz que não tem medo de tudo, mas não é muito fácil acreditar. É o que tem de ser, já que o trabalho do Medo é despertar a atenção e os movimentos de Riley sempre que é preciso reagir face a uma ameaça ou ao desconhecido. É triste que este herói tenha de desmaiar tantas vezes no meio deste processo, mas não há muito a fazer quanto a isso. Em entrevista ao site ScreenCrush, Bill Hader (que começou no “Saturday Night Live” e entretanto chegou a todo o lado) confessou que nunca se preocupou muito em saber porque foi escolhido para ser o Medo: “Sou amigo dos tipos da Pixar e sou uma pessoa bastante neurótica. Antes de todos os episódios do ‘SNL’, eu tinha ataques de pânico. Talvez tenha sido por isso, nunca perguntei porquê. Apenas me perguntaram se queria ser o Medo e disse que sim.”

Tristeza
Phyllis Smith

Não é só o contrário filosófico da alegria – em “Divertida-mente” é a inimiga-melhor–amiga da personagem principal. Ambas se perdem pelo meio de memórias e da imaginação de Riley, com o objectivo de voltarem ao lugar que lhes diz respeito, junto das outras emoções. Quando tudo corre mal é porque é a Tristeza que está a carregar nos botões. No filme percebemos que ela não queria que assim fosse, mas depois há aquela velha regra: “É um trabalho difícil mas alguém tem de o fazer.” Certo, mas também é natural que nenhuma das outras emoções tenha paciência para as misérias desta melancólica de pele azul (ela tem os blues, é mais ou menos essa a piada). Quanto a Phyllis Smith, que dá a voz à Tristeza, interpretou Phyllis Lapin--Vince na versão americana de “The Office” (a colega de liceu do chefe Michael Scott, ora simpática, ora dada a boatos com sotaque de vingança). Participou também na série “Arrested Development” e fez parte do elenco de “Virgem aos 40Anos” (2005). Confessou ela, em entrevista à “Examiner”, que “nalguns dias saía dos estúdios meio melancólica”. Previsível…

Alegria
Amy Poehler

A Alegria faz o que tem a fazer para manter Riley feliz. Ou melhor, para assegurar que há um balanço equilibrado com os restantes quatro colegas de escritório. Tudo o que acontece é bom, até o que é mau. Se é mau, é um desafio, e isso é bom. Percebido? É mais ou menos isto que sucede a todo o momento. E para que ninguém fique sem entender o que se está a passar, a Alegria brilha quando está contente, uma maravilha, tudo em bom. Tem óptimas relações com as outras emoções, excepto a Tristeza. Curioso é ver as duas perdidas no meio das memórias de Riley e é nessa desventura que Alegria ganha o estatuto de personagem principal desta história (é a segunda protagonista feminina de um filme da Pixar, depois de Merida, em “Brave”). E quem é que trata deste assunto? Amy Poehler, actriz, argumentista, comediante e produtora que faz tudo (é ler a autobiografia que a americana escreveu, até na desgraça é divertida) como se estivesse no meio de uma anedota. Em entrevista ao jornal britânico “The Guardian”, Amy Poehler dizia: “Ninguém pode estar feliz a toda a hora, mas gostei da ideia de ser um motor de contentamento permanente.” Ficamos todos felizes, é esse o objectivo.