Não está em sarilhos apenas o cientista Nobel, que foi perorar para uma conferência de mulheres cientistas sobre as desvantagens de trabalhar com mulheres cientistas (dah!). Segundo uma grande reportagem da revista “The Economist”, com direito a capa, os homens são agora o sexo mais fraco – “sem emprego, sem família, sem perspectivas.” Assim, preto no branco, para deprimir qualquer um.
É claro que no topo da pirâmide profissional ainda estão maioritariamente os homens. Maioritário é até uma forma suave de colocar a questão, quando o que se devia escrever é “quase exclusivamente”, dado que, diz a “Economist”: “Cerca de 95% dos Fortune 500 CEO são homens, como são 98% dos self-made-milionários da lista dos mais ricos do mundo da “Forbes”, e ainda 92% dos chefes de governo a nível planetário.” Mas há mais. “Nos filmes mais vistos, as mulheres representam menos de um terço dos personagens que falam, e mais de três quartos dos protagonistas são homens.”
Contudo, isso é lá em cima, porque, lembra a “Economist”, entre os homens com menos habilitações a história é bem mais triste, e o pior é que vai agravar-se, com um desempenho escolar muito inferior ao delas, tanto no ensino obrigatório (segundo a OCDE, têm mais 50% de probabilidades de reprovar), como no Superior, onde as raparigas os superam em todas as regiões do mundo, excepto no sul da Ásia e na África subsariana.
Com o mercado de trabalho a mudar, os homens que perdem empregos fabris tendem a nunca mais voltar a trabalhar o que é, no mínimo, dramático. “E homens sem emprego têm dificuldade em atrair uma parceira permanente. O resultado para os homens com poucas habilitações é uma combinação venenosa de sem emprego, sem família e sem futuro”, escrevem.
Mesmo quando vivem em regiões em desenvolvimento ou não têm as habilitações necessárias a novos lugares, os estereótipos voltam-se contra eles, e são os patrões que não empregam homens para funções tradicionalmente ocupadas por mulheres. Das 30 profissões que se projectam que cresçam mais rapidamente nos EUA, as mulheres dominam vinte delas, incluindo enfermagem, contabilidade, cuidado com as crianças, e alimentação, recorda Hanna Rosin, autora de “The End of Men”, e citada na reportagem.
Mas não é só o mundo do trabalho que deixa os homens numa camisa de onze varas. Eles, digo eu, se fossem espertos, até se habituavam depressa a esposas que ganham mais do que os maridos (passaram de 4% em 1960, para 23% em 2014), mas na prática o que significa é que as mulheres deixam de precisar de uma relação estável. “Podem desejá-la, mas não precisam dela”, sublinha o “Economist”.
É claro que os homens entre a espada e a parede têm vindo a mudar o seu papel em casa, mas na realidade, nos EUA e por cá é igual, as mães ainda gastam mais oito horas do que eles por semana no trabalho doméstico (em 1965 eram sete vezes mais). Contudo, segundo os especialistas citados, a revolução feminista não parece ter passado pelos homens de menores habilitações. O que, na prática, profetiza a “Economist”, vai acabar por deixar os machos que não mudam sem quem lhes ature a preguiça: “Os de-sempregados americanos gastam metade do tempo em trabalho doméstico e a tomar conta da família do que as mulheres na mesma situação, e muito mais a ver televisão.”
A recomendação final, da longa reportagem que se pode ler no site da revista, é de que é urgente que as escolas se tornem “mais amigas dos rapazes.” À beira de eleições bem podíamos exigir que fizesse parte dos programas eleitorais porque, ao contrário do senhor Nobel, nós mulheres preferimos um mundo com homens.
Jornalista e escritora
Escreve ao sábado