Nobel da Medicina despedido por declarações polémicas sobre as mulheres na Ciência

Nobel da Medicina despedido por declarações polémicas sobre as mulheres na Ciência


Tim Hunt insistiu que não teve más intenções mas reconheceu que não o devia ter feito perante tantos jornalistas.


O cientista inglês Tim Hunt, prémio Nobel de fisiologia e medicina em 2001, foi despedido da University College London (UCL) devido aos seus comentários sobre o comportamento das mulheres no mundo da ciência, confirmou esta quinta-feira a universidade.

“Deixem-me contar o meu problema com as mulheres. Passam-se três coisas quando estás no laboratório: apaixonas-te por elas, elas apaixonam-se por ti e, quando as criticas, choram”, declarou na conferência o Nobel de 72 anos, palavras que levaram ao seu despedimento.

Num comunicado, a universidade anuncia que Hunt “deixou o seu posto como professor honorário da Faculdade de Ciências da UCL após os comentários que fez sobre as mulheres na Conferência Mundial De Jornalistas de Ciência a 9 de Junho”, na Coreia de Sul.

“A UCL foi a primeira universidade em Inglaterra a admitir mulheres em condições de igualdade com os homens e acreditamos que este desfecho se ajusta ao nosso compromisso com a igualdade de género”, sublinha-se no comunicado.

Os comentários de Hunt, pelos quais o cientista se desculpou na quarta-feira, ainda que tenha mantido o seu conteúdo, suscitaram diversas críticas de cientistas e instituições de investigação, noticia a agência Efe.

A Royal Society, uma prestigiosa associação científica britânica da qual Tim Hunt é membro desde 1991, também se distanciou dos comentários que minam os esforços para atrair mais mulheres ao mundo da ciência.

Em declarações feitas na quarta-feira à BBC, a emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido, Tim Hunt insistiu que as suas afirmações pretendiam ser graciosas, embora tenha reconhecido que cometeu “uma estupidez” ao dizê-lo na presença de tantos jornalistas, noticia a agência Efe.

“Subscrevo a parte do problema com as mulheres. É verdade que as pessoas, aliás, eu me apaixonei num laboratório e apaixonaram-se por mim e é muito perturbador para a ciência porque é importante que num laboratório as pessoas estejam em termos de igualdade”, justificou.

“Estes enredos emocionais tornam a vida muito difícil”, asseverou o cientista, lamentando se ofendeu alguém e dizendo que só tentou “ser sincero”.

Hunt continuou a defender os seus comentários sexistas ao afirmar que “é muito importante que se possa criticar as ideias das pessoas sem que o tomem como algo pessoal e, se se põem a chorar, fazem com que se comece a esconder a verdade”.

“A ciência trata-se de chegar à verdade e tudo o que se interponha no caminho mina a ciência”, acrescentou.

O especialista descreveu-se como machista na conferência e defendeu a separação de homens e mulheres nos laboratórios.

Lusa