Marques’Almeida. A dupla que tornou a ganga cool

Marques’Almeida. A dupla que tornou a ganga cool


Na sua primeira colecção, em 2012, a dupla portuguesa surpreendeu a Semana de Moda de Londres ao apresentar apenas denim, mas nem um par de jeans. 


Primeiro vieram os jeans. Aliás, o denim, porque a verdade é que, apesar de terem dedicado a quase totalidade das suas primeiras colecções a este material, a dupla Marques’Almeida não desenhava calças de ganga. “Nunca quisemos ser uma marca de jeanswear”, sempre garantiram. Nem sequer foi deliberada a opção por este material. Mas, bons filhos dos anos 90, década em que a moda começou a fazer parte da vida de ambos, e com a herança de Kurt Cobain sempre em mente, o material símbolo do grunge marcou--lhes o imaginário. E Marta Marques e Paulo Pereira queriam desenhar roupa para gente real, para os jovens que andam na rua, em Londres, Paris, Tóquio ou Lisboa. Não queriam criar colecções para museus. E nada é mais utilitário que o denim. Como costumam dizer: “Moda é atitude, e não bainhas.”

Depois de um período de estudos ainda em Portugal, no CITEX, no Porto, e de colaborarem com Alexandra Moura e Luís Buchinho, a dupla – e casal – ingressou num mestrado no mais importante casulo de talentos na área da moda, a Central Saint Martins, escola que formou designers como John Galliano, Alexander McQueen e Stella McCartney. Em simultâneo, Marta estagiou com Vivienne Westwood e Paulo com a marca Preen.

Acompanhados desde o arranque do curso pela professora Louise Wilson – um símbolo da moda londrina –, receberam desde logo o apoio do British Fashion Council, que lhes valeu a presença na Semana de Moda de Londres logo em 2012, poucos meses depois de terem criado a sua marca, Marques’Almeida, em Abril de 2011. Com o objectivo de encontrarem os factores definidores da juventude, o denim surgiu então como o material lógico a explorar. E assim nasceu uma colecção 100% feita de ganga, com novas técnicas de tingir tecidos, novas silhuetas e sem um único par de calças de ganga. Automaticamente, uma T-shirt em ganga tornou-se uma peça viral e obrigatória no closet de todas as fashionistas que se prezem. Logo de seguida chegaram encomendas de importantes lojas em todo o mundo, como a Opening Ceremony, e, há dois anos, o convite da Topshop, loja âncora da moda jovem mundial, para desenharem uma colecção-cápsula.

As peças recolheram os aplausos de uma geração jovem, sequiosa de uma marca cool, que mostrasse entender o seu ADN sem, no entanto, lhes esvaziar a carteira. Para ajudar, tornaram-se presença regular nas maiores revistas de moda do mundo, e as cantoras Rihanna, Beyoncé, Rita Ora e FKA Twigs começaram a aparecer com peças da marca. Marques’Almeida passou a ser o nome estranho que era obrigatório memorizar.

O ano passado chegou o reconhecimento dos pares: receberam o prémio para Emerging Womenswear Designer nos British Fashion Awards do British Fashion Council, uma espécie de mecenas da moda inglesa, depois de já terem sido nomeados no ano anterior. Era já inegável o caminho bem sucedido da dupla. Mas nada se aproxima da vitória que agora atingiram, ao serem escolhidos como vencedores da segunda edição do prémio para jovens designers, promovido pelo grupo Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH), e arrecadando 300 mil euros e um ano de consultoria do gigante do luxo.

Eleitos por um júri de excelência – composto por personalidades da moda como Karl Lagerfeld (Chanel), Marc Jacobs, Nicolas Ghesquière (Vuitton), Raf Simons (Dior), Phoebe Philo (Céline), Riccardo Tisci (Givenchy), directores criativos das principais marcas de moda do grupo –, na imprensa internacional, e apesar dos aplausos que a marca tem recebido, este prémio foi visto com surpresa. Tudo porque as criações Marques’Almeida são bem distintas das restantes marcas do grupo LVMH. Isso pode denunciar a vontade do gigante do luxo de se aproximar de um target mais jovem. Curiosamente, a última colecção, e aquela que lhes valeu esta distinção, mostrou o trabalho da dupla com outros materiais que não apenas o denim e foi beber inspiração a Christian Lacroix, criador francês que no início
da sua carreira também foi apadrinhado por Bernard Arnault, presidente do grupo LVMH. A Marques’Almeida chegou a apresentar colecção na ModaLisboa, mas a verdade é que a dupla está cada vez mais distante da realidade da moda portuguesa. Londres é o seu quartel-general. Uma cidade com uma “forma de pensar diferente, que nos permite fazer as coisas da forma que fazemos”. Com este prémio e esta aproximação ao grupo LVMH, Marta e Paulo podem estar à beira de fazer história na moda portuguesa. Aliás, já fizeram.