Quando, em 2012, o ministro da Economia da altura, Álvaro Santos Pereira, falava na necessidade de franchisar os pastéis de nata, essa realidade já existia. Mas três anos depois, esta “espécie de fado doce” – como é classificada pelo co-fundador da Confraria do Pastel de Nata, Vicente Themudo de Castro (ver entrevista ao lado) – já conquistou ainda mais terreno. Prova disso são as novas apostas que vão surgindo no mercado internacional pela mão de empresários portugueses. Hélder Machado é um desses exemplos. Juntamente com o seu sócio Bruno Costa, está prestes a abrir uma loja “I love nata” em Londres, na zona de Covent Garden.
Sem querer adiantar valores em relação ao montante investido, o responsável admite que foi gasto um montante “consideravelmente alto mesmo para a cidade de Londres. Em termos económicos portugueses, seria um valor que nos permitiria abrir 2/3 lojas no centro de Lisboa”, revela em declarações ao i.
Este projecto foi desenvolvido em parceria com a Pastelaria Aloma – vencedora da prova “o melhor pastel de nata” por três vezes. O produto é transportado ultracongelado, uma tecnologia que permite “manter 100% da qualidade dos ingredientes e, consequentemente, no produto final”.
A Aloma produz milhares de unidades por dia “com amor”
Hélder Machado está à espera de boa receptividade por parte da clientela londrina “não só pelo conhecimento in loco e a sua relação com os mesmos, mas também considerando as surveys que produzimos em Londres, onde o reconhecimento imediato e intenção de compra foi superior a 86% num universo considerável de inquiridos”. O responsável prevê atingir o break-even em 18 meses e está previsto o lançamento do projecto noutros mercados. “I Love Nata não é apenas um boutique-café inspirado no pastel de nata, é uma marca. Temos planos de expansão no Reino Unido e de avançar para internacionalização no final do terceiro ano”, conclui.
A verdade é que este não é um caso isolado. A Aloma tem várias parcerias internacionais em mãos. “Foi um passo normal, à medida que se vai ganhando prémios, e as solicitações começaram a surgir. Depois há que saber aproveitá-las, mas é preciso fazer uma filtragem para seleccionar os parceiros que serão uma mais-valia”, referiu ao i o proprietário da pastelaria, João Castanheira.
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O responsável admitiu, no entanto, que quando o ex-ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, falou na hipótese de franchisar este produto “foi uma loucura”. “Nesse ano, o meu telemóvel não parava de tocar e cheguei ao ponto de ter de trocar o número”, confessa.
Para já não está previsto abrir lojas em sistema de franchising porque a pastelaria quer manter a qualidade do produto, mas João Castanheira garante que as parcerias internacionais são para manter, até porque a rede de parceiros ainda é pequena e tem espaço para crescer. O investimento exigido ronda os 100 mil euros no caso de usarem o nome Aloma e, para já, as parcerias fixam-se apenas na Europa. Mas a ideia é expandir para outros países. Brasil e Singapura são dois dos previstos por João Castanheira para avançar com novos parceiros. “A ideia é avançarmos com estes negócios brevemente, mas no caso do mercado brasileiro temos de enfrentar muita burocracia.”
A Pastelaria Aloma já venceu por três vezes a prova do Melhor Pastel de Nata
Apesar de não querer adiantar números em termos de produção, o responsável garante que são produzidos milhares de pastéis de nata por dia. A grande maioria tem como destino o mercado nacional.
Já em relação ao segredo do produto, diz apenas “que não tem pós mágicos, é feito com amor”.
vários nomes Embora não sendo franchisados, a verdade é que os pastéis de nata já são o mais internacional bolo português, apesar de nem sempre serem conhecidos assim. “Egg tarts” são o seu nome na maior parte dos países. Mas se for a qualquer cadeia de restaurantes McDonald’s, é natural que sejam conhecidos por “Portuguese style cakes”, mas há quem prefira apelidar o pastel de nata de “custard tart” ou mesmo “cream custard”.
O que é certo é que o maior sucesso internacional é a sua expansão asiática: em mandarim chamam-se “cus pu-shi dan-ta”, que significa tarte de ovo. Já em cantonês, a designação surge simplificada para “pou-tat”.
O pastel de nata está recheado de mitos. Antes de ser popular em Portugal, o pastel de nata já agradava além-fronteiras. “Era comido nas cortes inglesas”, no século XVI. E é exactamente por essa altura que começa a história do pastel de nata. “A protagonista é a nossa infanta D. Maria, que o deu a provar à nobreza europeia”, lembra Vicente Themudo de Castro.