É a coqueluche mais jovem do desporto nos Estados Unidos.
Nasceu em 2001 e não é uma rapariga qualquer. Por esta altura, qualquer adolescente norte-americano já joga um ou mais desportos – se o fizer –, mas continua à procura de uma oportunidade para brilhar e destacar-se, concretizando o sonho de ser vista como um ídolo para os mais novos. Para Mo’ne Davis, esse momento chegou quando ainda faz parte do espectro dos “mais novos”. E se ter entrado nas manchetes e nos canais de televisão em força aos 13 anos já foi prematuro; na verdade tudo começou quando tinha oito, num inocente jogo de futebol americano contra os primos e o irmão mais velho.
A descoberta foi feita por Steve Bandura, director do Centro de Recreação Marian Anderson, na zona sul de Filadélfia. “Estava a atirar espirais perfeitas, sem esforço nenhum, e a fazer tudo dentro de campo. Conseguia explodir em corrida pelo meio deles e do lado contrário placava-os sem problema”, contou, e aproveitou a oportunidade para a convidar para um treino de basquetebol. Aí a determinação de Mo’ne fez o resto. Supostamente, a ideia passava apenas por ver o que se fazia ali de forma a decidir se queria vir a fazer parte da equipa. “Mas o olhar dela estava vidrado nos exercícios e fez questão de treinar logo. Quando chegou a altura dela, cumpriu o objectivo como se tivesse andado a fazer aquilo a vida inteira”, continuou.
Os anos passaram até chegar a 2014, altura em que se deu de facto a explosão mediática a nível nacional. Na Little League World Series (campeonato nacional de basebol para os mais novos), fez história atrás de história durante o mês de Agosto. Tornou-se a 18.arapariga a jogar entre rapazes e no dia 15 foi a primeira lançadora a fazer um jogo completo sem permitir qualquer ponto aos adversários (numa partida de seis innings, menos três que no basebol profissional). A exibição impressionou milhões de espectadores na ESPN e houve reacções de todos os quadrantes. Kevin Durant, estrela da NBA dos Oklahoma City Thunder, escreveu que adorava o que se estava a passar. Já Mike Trout, jogador de basebol dos LA Angeles, destacou a “partida dominadora”.
O resto foi por arrastamento, com comparações com várias estrelas da modalidade. Mesmo assim, Mo’ne Davis garantia um estilo único: “Tenho uma bola curva como o Clayton Kershaw e uma bola rápida como a… Mo’ne Davis.” A “Sports Illustrated” pegou na história e levou-a à capa com o título “Mo’ne Davis. Fixe este nome”. Foi a terceira vez que uma atleta de 13 anos foi capa, depois de Tracy Austin a 22 de Março de 1976, e Jennifer Capriati, a 19 de Março de 1990, e o director da publicação, Chris Stone, considerou a escolha natural:“Com que frequência temos alguma coisa para escrever sobre uma rapariga de 13 anos? É a história mais fácil de identificar para ser capa.”
Os Philadelphia Taney Dragons não venceram o torneio mas no jogo seguinte de Mo’ne Davis houve um novo recorde de audiências da prova na ESPN, com um rating de 3,4. O país estava rendido e queria saber mais. E ia ter mais, muito mais, nos meses seguintes.
“Tenho noção de que toda a gente repara em mim mas não sei se gosto desta atenção toda porque parece que tudo gira à minha volta e esquecem os meus colegas, que foram essenciais para chegarmos todos aqui”, lamentou. E depois de ser descoberta no futebol americano e ter conquistado milhões de fãs no basebol, o objectivo passou a ser o basquetebol, que confessou se o seu sonho: jogador pela Universidade do Connecticut [as Huskies foram campeãs nacionais nos últimos três anos e têm um total de dez campeonatos desde 1995] antes de chegar à WNBA. O primeiro aviso do que poderá ser surgiu no jogo das estrelas da NBA em Fevereiro, proporcionando vários momentos de classe frente a Kevin Hart, actor e humorista que venceu o MVP desse encontro por quatro vezes. “Foi muito fixe. Muita gente nunca me tinha visto jogar basquetebol. Jogar aqui foi muito giro”, afirmou a adolescente, que já tinha lançado um livro com a sua história e fora considerada pela “Time” uma das 25 adolescentes mais influentes de 2014.
O último passo de uma maturidade precoce foi dado em Março, quando um jogador de basebol da Universidade de Bloomsburg a atacou no Twitter: “A Disney está a fazer um filme sobre Mo’ne Davis? Que piada! Aquela cabra foi dominada por Nevada [Little League].” A história não foi bem recebida pela universidade e Joey Casselberry acabou por ser expulso. “É um exemplo de como um tweet estúpido pode arruinar a vida de alguém. Não podia sentir-me mais arrependido. Por favor, peço-vos que me perdoem e entendam que não sou sexista e que sou um enorme fã da Mo’ne. Ela é uma verdadeira inspiração”, justificou-se.
Apesar de ter sido a vítima da declaração, Mo’ne escreveu uma carta à universidade a pedir que reconsiderassem a decisão:“Embora admita que fiquei magoada quando li os comentários, fico triste por saber que foi dispensado. Tenho a certeza que Joey Casselberry tem trabalhado arduamente para perseguir o sonho de jogar na elite.Por esta razão, peço-vos que o aceitem de volta, de forma que possa continuar a tentar alcançar o seu objectivo. Fez um erro estúpido. Tenho a certeza que voltaria atrás se pudesse.” A universidade respeitou a opinião de Davis e elogiou-a por “ser incrivelmente madura em relação à situação” mas manteve a decisão, por considerar que o jogador não respeitava o espírito da instituição.
Os exemplos de qualidade e maturidade sucedem-se, mas ainda não chegou sequer aos 15 anos. O futuro está à sua frente e, se o objectivo for realmente o basquetebol, será apenas uma questão de tempo até alcançar o sonho que persegue. Porque, em alguns casos, é-se mesmo aquilo que se escolhe. E com muito sucesso.