Gilles Villeneuve nasceu no ano em que a Fórmula 1 arrancou (1950). Distantes, no Canadá, eram poucos os que davam importância à competição que seria ganha pelo italiano Giuseppe Farina após sete corridas – seis na Europa e uma nos Estados Unidos. O período de domínio de Juan Manuel Fangio aconteceu demasiado cedo e não serviu de grande inspiração.
Mas a paixão do canadiano não foi afectada por isso. Começou a disputar corridas com 17 anos e pareceu destinado a fazer história na Fórmula 1. Quando se estreou ao serviço da McLaren noGrande Prémio da Grã-Bretanha em 1977, a presença do país no Grande Circo era residual. Peter Ryan foi o primeiro em 1961 e nos 16 anos seguintes seguiram-se-lhe oito pilotos sem grande sucesso. O mundo estaria prestes a mudar para os canadianos.
A Fórmula 1 vivia um dos períodos mais altos da história. A rivalidade entre Niki Lauda e James Hunt trouxera nova emoção à competição e Gilles Villeneuve queria ter uma palavra a dizer, não olhando a meios para atingir os seus objectivos. “Era o diabo mais louco com quem me cruzei”, afirmou Niki Lauda. Mas o progresso ainda foi lento. O 11.o posto em Silverstone foi a única vez em que correu na McLaren e depois seguiu para a Ferrari, onde fez as duas últimas provas da época de estreia. A partir daí, a ligação com a scuderia italiana duraria até ao fim da carreira.
O ano seguinte (1978) trouxe a primeira vitória, diante dos seus adeptos, no Grande Prémio do Canadá, mas continuou a vacilar por falta de regularidade. Essa só chegou em 1979. Com três vitórias e quatro segundos lugares, Gilles terminou a temporada com 47 pontos e no segundo lugar do Mundial de pilotos. À frente, só o sul-africano Jody Scheckter, seu colega de equipa, que era sucessivamente favorecido nas ordens de equipa.
O ponto mais alto ficou-se pelo quase e a entrada na década de 80 foi saldada pela desilusão. Não voltou a fazer melhor do que o sétimo lugar no final de uma temporada e em 1982 teve um fim de carreira abrupto. A 8 de Maio, na sessão de qualificação do Grande Prémio da Bélgica, embateu a alta velocidade no monolugar de Jochen Mass e foi projectado com violência por vários metros. Apesar dos esforços dos médicos, a fractura do pescoço revelou-se fatal.
Passagem de testemunho Jacques estava a um dia de fazer 11 anos e um mês quando o pai morreu. O gosto pelas corridas existia e a herança familiar era ainda mais forte, uma vez que o tio – Jacques Villeneuve Sr. – também tentara a sorte na Fórmula 1, com três qualificações falhadas entre 1981 e 1983. Mas na altura da morte de Gilles, o objectivo ainda não estava formado. Só em 1982 expressou a vontade à mãe, Joann, recebendo um sim em troca da garantia de uma boa nota a Matemática, a disciplina em que tinha mais dificuldades.
Conduzir um carro revelou-se muito mais fácil. A boa nota chegou, a promessa foi cumprida e deu-se início ao percurso até à Fórmula 1. O jovem canadiano deu boas indicações e começou a impressionar sobretudo pela capacidade de concentração, rara para um rapaz de 15 anos na altura. Em sentido contrário, nas discussões mecânicas parecia alheado das conversas.
A carreira foi saltando de objectivo em objectivo, queimando etapas sem pressas até chegar à Fórmula 1 em 1996. Quando o fez, já tinha um brilhante percurso nas IndyCar World Series, com destaque para a vitória nas 500 milhas de Indianápolis. Quando assinou um contrato com a Williams por dois anos, tinha 24. A escuderia britânica apostava em recuperar o poder evidenciado com Nigel Mansell e Alain Prost no início da década de 90 e, para isso, tinha uma dupla de pilotos com apelidos famosos na Fórmula 1. Damon Hill era filho de Graham (campeão em 1962 e 1968) e Jacques Villeneuve era filho de Gilles.
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A curiosidade fazia com que as atenções se centrassem todas na Williams.E se Jacques estava apenas em ano de estreia, Damon Hill tinha uma responsabilidade maior, uma vez que estava na equipa desde 1993 e somava já um terceiro e dois segundos lugares. Era por isso, naturalmente, o maior favorito ao título, até porque o bicampeão Michael Schumacher havia deixado a Benetton para tentar dar um novo impulso à Ferrari.
A época foi perfeita para a dupla. Nas 16 corridas, Jacques conseguiu três poles, Damon nove. Seis voltas mais rápidas foram para o canadiano, cinco para o britânico. Em vitórias, oito para Hill, quatro para Villeneuve. A classificação final reflectiu isso mesmo, com o título para Damon Hill com 97 pontos e o vice-campeonato para o colega de equipa, com 78.
Jacques acabara de imitar o melhor resultado do pai, mas queria mais: perseguia o título. Em 1997, Damon Hill saiu para a Arrows-Yamaha e Villeneuve subiu ao primeiro lugar da hierarquia, fazendo dupla com o alemão Heinz-Harald Frentzen. A hegemonia não se manteve, mas o título foi mesmo para o canadiano depois de uma longa batalha com Michael Schumacher que terminou com a desqualificação do alemão, por ter provocado um acidente evitável na última corrida, quando estava na liderança do Mundial. Jacques ganharia de qualquer forma, com três pontos de vantagem.
A partir daí, a carreira nunca mais foi a mesma. Jacques Villeneuve manteve-se na Fórmula 1 até 2006, mas nunca mais venceu uma corrida, contentando-se com dois pódios. Com o Grande Circo fora da equação, ainda participou em corridas da NASCAR e nas 24 Horas de Le Mans, em que foi segundo em 2008.
BI
Gilles Nasceu a 18 de Janeiro de 1950 no Quebeque, Canadá.
Estreia Fez a primeira corrida na Fórmula 1 no Grande Prémio da Grã--Bretanha em 1977.
Currículo Ganhou seis corridas e terminou 13 vezes no pódio. No Mundial, nunca foi além do segundo lugar, em 1979.
Morte Não resistiu a um acidente no Grande Prémio da Bélgica, em 1982.
BI
Jacques Nasceu a 9 de Abril de 1971 no Quebeque, Canadá.
Estreia A primeira prova na Fórmula 1 foi o Grande Prémio da Austrália, em 1996.
Currículo Venceu 11 corridas, foi 23 vezes ao pódio e em 1997 foi campeão do mundo com a Williams.
Despedida Deixou a Fórmula 1 em 2006, contabilizando um total de 165 presenças em Grandes Prémios.