Rafael Nadal apareceu na sala de imprensa com cara de poucos amigos. É compreensível, para quem tinha acabado de sofrer a segunda derrota da carreira em 11 anos de Roland Garros. A segunda em 72 encontros. Durante meses, foi esmiuçada a possibilidade de termos o encontro do ano em Roland Garros, logo nos quartos-de-final do torneio francês. E assim foi. O tenista maiorquino, fruto de um mau desempenho nos torneios de terra batida, onde defendia muitos pontos, acabou por cair para o sétimo lugar do ranking ATP.
Com Djokovic como rei e senhor da hierarquia mundial, este encontro logo nos quartos-de-final era de muito previsível. Mas Nadal não poderia ter caído mais cedo? Não. O espanhol tem uma relação única com Roland Garros, cimentado ao longo de 10 anos onde, até ontem, tinha perdido apenas por uma vez, na quarta ronda de 2009, frente a Robin Soderling.
Do outro lado do campo estaria Novak Djokovic, um homem com uma missão séria: tornar-se no 13º tenista a concluir o Grand Slam de carreira, ou seja, vencer os quatro grandes torneios, de forma não consecutiva. Mas Nadal nunca seria pêra doce, e os anteriores 43 encontros entre ambos são a prova disso. Nadal venceu por 23 vezes, seis delas em Roland Garros, as últimas três desde 2012, sempre nas meias-finais ou na final.
Tudo se escreveu, invocando o passado, presente e futuro, para atribuir a vitória antecipada a um ou a outro mas, em apenas duas horas e 27 minutos, o verdadeiro veredicto chegou. Djokovic entrou a um nível demolidor e cedo se colocou a vencer por 4-0. Nadal precisou de mais de 20 minutos para fechar um jogo, e logo com um break. Recompôs-se, devolveu o segundo break a Djokovic e empatou o jogo. O pior foi no final, onde acabou a tremer entregando o set ao sérvio, que venceu por 7-5.
A partir daqui já ninguém acreditava em Nadal. Aquela recuperação em vão foi pura agressão psicológica. No segundo set, o espanhol ainda manteve o empate até ao 3-3, até ao momento em que perdeu três jogos consecutivos e entregou o set (6-3). O pior e mais deprimente momento de Nadal em Roland Garros chegou logo a seguir. Em pouco mais de meia hora, Djokovic daria a estocada final, vencendo por 6-1 o terceiro set.
Todo este filme já estava previsto, por Toni Nadal, tio e treinador do maiorquino. No seu livro “Tudo se pode Treinar”, Toni confessa que em 2005, quando o seu sobrinho se estreou em Roland Garros, o avisou de que tinha visto um jovem com um potencial tremendo. Era Novak Djokovic, com 18 anos acabados de fazer, e ainda o número 153 do ranking ATP. Não passaria da segunda ronda nessa edição, mas menos de dois anos depois chegaria a número cinco do mundo.
Para Nadal, esta derrota terá graves consequências na sua classificação no ranking ATP. Ainda sem certezas, o espanhol deverá cair para o 10º lugar, ou até pior, caso Jo-Wilfried Tsonga atinja a final. E quando foi a última vez que o espanhol esteve fora do top 10? Em Abril de 2005, em vésperas da sua estreia e primeira vitória em Roland Garros.