Pense duas vezes antes de repreender os miúdos pelos rabiscos ao estilo rupestre com que estrearam as paredes da sala. Quem sabe não tem em casa uma Aelita Andre, a menina prodígio das tintas, que aos sete anos exibe um estilo reconhecido mundo fora.
O expressionismo abstracto começou a dar que falar quando a australiana tinha nove meses – gatinhar até às telas usadas pelo pai e fazer uso das tintas revelou-se muito mais que uma simples traquinice de bebé, com direito a roupa suja e assoalhada de pantanas.
Em Abril Aelita completou uma nova colecção. “Infinity” é tema desta série, noticiada no seu site pessoal. Nada que impressione a comunidade artística das principais capitais, familiarizadas com as criações da pequena criadora. Em Março os seus trabalhos foram apresentados na londrina Gagliardi Gallery, em Kings Road, e Peter Gagliari, o responsável pelo espaço, não poupou elogios à Newsitivy. “O termo ‘prodígio’ não costuma ser usado em vão no mundo da arte. Desde muito cedo, Andre foi comparada com Pollock e outros nomes do expressionismo abstracto.”
Night Dance of Fluttering Butterflies, 2013 (Night view), acrílico sobre tela
Não sabemos se os pais de Aelita terão pensado o mesmo que muitos pais imaginam quando se deparam com um quadro de Jackson Pollock: “O meu filho era capaz de fazer isto.” A verdade é que a filha de Nikka Kalashnikov fez mesmo, e as suas obras atingem já dezenas de milhares de dólares, sem que os números sejam a principal preocupação da jovem artista, que adora dinossauros e assistir à série “Cosmos” conduzida por Neil Degrasse Tyson.
“O meu sonho é salvar a natureza, viajar no espaço e tornar-me paleontologista e cientista”, garante Andre, citada pela “People”.
Coube a Nikka partilhar as pinturas de Andre quando a miúda tinha pouco mais de um ano, e os seus impulsos fixados no fundo branco prometiam muito mais que meras experiências para guardar no baú do clã com carinho. Mark Jamieson, director de uma galeria em Melbourne, rendeu-se ao talento sem saber a que ponto era precoce – só mais tarde, perante o interesse manifestado numa exposição colectiva, a mãe de Aelita contou que a autora das pinturas era sua filha e ainda mal começara a andar.
Aos quatro anos a pintora garantiu uma mostra a solo de três semanas, a primeira nos EUA, “Prodigy of Color”, e outras se seguiriam na Agora Gallery, em Nova Iorque, onde conseguiu vender a totalidade das pinturas em apenas sete dias. Em 2012 pintava ao vivo em Times Square e a sua história chegava às páginas da revista do British Museum.
No ano seguinte, o fundador da Wikipédia, Jimmy Wales, certificava: “The youngest ever person in Wikipedia based on their own accomplishments” (ou a pessoa mais jovem a garantir um lugar na grande enciclopédia virtual graças aos seus feitos). E as obras da menina partiam à conquista das galerias de Hong Kong.
Night Dance of the Fluttering Butterflies, 2013 (acrílico sobre tela)
O interesse na produção da australiana, descrita como “complexa mas acessível”, é tão expressivo que em 2014 a revista “Atlantic” dedicou todo um artigo à criança, consultando especialistas em arte e psicólogos infantis, para perceber como se despista o génio numa área como esta, em que a detecção, defendem, é bem mais difícil que em campos como a matemática, o xadrez, ou a música.
Para o tira-teimas, o programa “60 Minutos” filmou Andre em pleno processo criativo. Se não for uma iluminada dos pincéis, será pelo menos “uma criança adorável a pintar como uma criança em idade pré-escolar pintaria”. A grande diferença é que nem todos os frequentadores de infantários se podem gabar de ter o pé-de-meia que se segue.
“Birch Forest in Space”, vendida a um coleccionador independente, valeu a Aelita 50 mil dólares, a peça que alcançou valores mais elevados até à data. Da capital britânica, já este ano, chegou mais um motivo para atenção redobrada. A Bienal de Londres consagrou-a com o Youngest Artist Award. É obra.
E se pensa que está longe de conseguir ter uma vida semelhante à de qualquer criança normal, a biografia na sua página pessoal garante o oposto. “Nada poderia ser mais errado do que dizer que Aelita não tem uma vida normal. Adora piano e violino, ballet, ginástica rítmica e aprender a tocar bateria.” Alguém falou em normal?