A insegurança social do PS


Desculpas e mais desculpas: é o que o PS tem arranjado para não se sentar à mesa com o governo a discutir a Segurança Social


Tudo o que é uma boa notícia para o país é uma má notícia para o PS. Já toda a gente percebeu isso há algum tempo. Já tinha sido assim quando, em pleno período de resgate da troika deixado pelos socialistas, o PS torpedeava constantemente os objectivos do país vaticinando um segundo resgate (que nunca aconteceu), depois um programa cautelar (que nunca viu a luz do dia) e, por último, uma espiral recessiva (que só existiu na cabeça depressiva dos socialistas). Com o aproximar das eleições, a cegueira sectária é cada vez maior: para os lados do Rato, o exercício político da oposição deu lugar à política do ressentimento. Desce o desemprego (como voltou a acontecer ontem, para o nível mais baixo dos últimos quatro anos), e o PS não tem uma palavra positiva para o país. Os juros da dívida avançam para valores negativos, e o PS barafusta. Consolidam-se os grandes números das finanças públicas, e o rosa transforma-se em vermelho de raiva. O PS deixou o país no buraco e tem inveja de quem o tirou de lá.

A política do ressentimento chegou ao cúmulo na crítica de António Costa a Pedro Passos Coelho. O primeiro-ministro falou do mérito dos portugueses que, com esforço e sacrifício, levaram a bom porto o processo de ajustamento. Em 2011, a vida do país era uma tragédia grega com um memorando pelo meio. Em 2015, o memorando é passado e há uma história de futuro a ser escrita. Pelo menos, com um final mais feliz do que aquele que nos tinham traçado. Passar da recessão para o crescimento, da bancarrota para a sustentabilidade financeira, da destruição de emprego para a criação de emprego são grandes feitos colectivos. Mas nada disto encaixa no conceito de felicidade de Costa e do PS, que sempre tiveram muita simpatia pela felicidade escatológica prometida pelo Syriza. Basta olhar para o ponto a que chegou a Grécia para perceber que as promessas de felicidade (e são tantas e para tantos as do PS) raramente nos levam a finais felizes. Uma coisa é certa: tal como o Syriza, não parece que o PS esteja destinado a um final feliz. É isso que enfurece tanto os socialistas, que sentem cada vitória do país como uma derrota sua – fica mais difícil a campanha para atingir o poder e o próprio exercício do poder visto que, se algum dia lá chegar, o PS não pode fazer aquilo em que se tornou especialista: desculpar-se com o passado.

Desculpas e mais desculpas: é o que o PS tem arranjado para não se sentar à mesa com o governo a discutir a Segurança Social. De braço dado com a política do ressentimento tem andado a política da ilusão. O PS indignou-se muitíssimo por ter ouvido a ministra das Finanças dizer o que Mário Centeno (o principal economista de Costa) e outros destacados militantes socialistas como Eurico Brilhante Dias ou Óscar Gaspar já tinham defendido num estudo: uma reforma da Previdência pode passar por ajustes nos rendimentos actuais. Eu também sou daqueles que não aceitam que a escolha seja entre o presente dos meus pais e o futuro das minhas filhas. Mas o que eu sei é que se não fizermos escolhas nenhumas e nos limitarmos a falar para agradar, então sacrificaremos o presente e o futuro de todos. As escolhas são claras: a coligação apresentou propostas que são conhecidas e foram tentadas ao longo da legislatura. Mas já se percebeu que qualquer modelo que não iluda as dificuldades requer compromisso. Com humildade, PSD e CDS reconhecem que nenhuma alteração ao sistema de pensões se fará sem compromisso de 2/3 da AR.

Os magos do PS dizem ter outro caminho, de ziguezague, que evita cortes num dia embora os promova sobre os pensionistas de escalões mais elevados no outro, mas também sem dizer a partir de que escalão. Costa diz que é necessário “reforçar a sustentabilidade”, “diversificar fontes de financiamento” e “aumentar o número de pessoas que contribuem para o sistema”. Mas que seja sério e que diga como é que faz isto tudo num país em profunda crise demográfica e sem dinheiro para deitar para cima dos problemas. Quando assenta toda a sua estratégia alternativa no pressuposto de que nunca terá passado pela cabeça do governo (certamente inspirado por alguma força masoquista) reformar a Segurança Social pela via da criação de emprego, o argumento do PS é, no mínimo, confrangedor. Tudo isto seria para rir se não fosse trágico para o futuro do país.

Escreve à quarta-feira


A insegurança social do PS


Desculpas e mais desculpas: é o que o PS tem arranjado para não se sentar à mesa com o governo a discutir a Segurança Social


Tudo o que é uma boa notícia para o país é uma má notícia para o PS. Já toda a gente percebeu isso há algum tempo. Já tinha sido assim quando, em pleno período de resgate da troika deixado pelos socialistas, o PS torpedeava constantemente os objectivos do país vaticinando um segundo resgate (que nunca aconteceu), depois um programa cautelar (que nunca viu a luz do dia) e, por último, uma espiral recessiva (que só existiu na cabeça depressiva dos socialistas). Com o aproximar das eleições, a cegueira sectária é cada vez maior: para os lados do Rato, o exercício político da oposição deu lugar à política do ressentimento. Desce o desemprego (como voltou a acontecer ontem, para o nível mais baixo dos últimos quatro anos), e o PS não tem uma palavra positiva para o país. Os juros da dívida avançam para valores negativos, e o PS barafusta. Consolidam-se os grandes números das finanças públicas, e o rosa transforma-se em vermelho de raiva. O PS deixou o país no buraco e tem inveja de quem o tirou de lá.

A política do ressentimento chegou ao cúmulo na crítica de António Costa a Pedro Passos Coelho. O primeiro-ministro falou do mérito dos portugueses que, com esforço e sacrifício, levaram a bom porto o processo de ajustamento. Em 2011, a vida do país era uma tragédia grega com um memorando pelo meio. Em 2015, o memorando é passado e há uma história de futuro a ser escrita. Pelo menos, com um final mais feliz do que aquele que nos tinham traçado. Passar da recessão para o crescimento, da bancarrota para a sustentabilidade financeira, da destruição de emprego para a criação de emprego são grandes feitos colectivos. Mas nada disto encaixa no conceito de felicidade de Costa e do PS, que sempre tiveram muita simpatia pela felicidade escatológica prometida pelo Syriza. Basta olhar para o ponto a que chegou a Grécia para perceber que as promessas de felicidade (e são tantas e para tantos as do PS) raramente nos levam a finais felizes. Uma coisa é certa: tal como o Syriza, não parece que o PS esteja destinado a um final feliz. É isso que enfurece tanto os socialistas, que sentem cada vitória do país como uma derrota sua – fica mais difícil a campanha para atingir o poder e o próprio exercício do poder visto que, se algum dia lá chegar, o PS não pode fazer aquilo em que se tornou especialista: desculpar-se com o passado.

Desculpas e mais desculpas: é o que o PS tem arranjado para não se sentar à mesa com o governo a discutir a Segurança Social. De braço dado com a política do ressentimento tem andado a política da ilusão. O PS indignou-se muitíssimo por ter ouvido a ministra das Finanças dizer o que Mário Centeno (o principal economista de Costa) e outros destacados militantes socialistas como Eurico Brilhante Dias ou Óscar Gaspar já tinham defendido num estudo: uma reforma da Previdência pode passar por ajustes nos rendimentos actuais. Eu também sou daqueles que não aceitam que a escolha seja entre o presente dos meus pais e o futuro das minhas filhas. Mas o que eu sei é que se não fizermos escolhas nenhumas e nos limitarmos a falar para agradar, então sacrificaremos o presente e o futuro de todos. As escolhas são claras: a coligação apresentou propostas que são conhecidas e foram tentadas ao longo da legislatura. Mas já se percebeu que qualquer modelo que não iluda as dificuldades requer compromisso. Com humildade, PSD e CDS reconhecem que nenhuma alteração ao sistema de pensões se fará sem compromisso de 2/3 da AR.

Os magos do PS dizem ter outro caminho, de ziguezague, que evita cortes num dia embora os promova sobre os pensionistas de escalões mais elevados no outro, mas também sem dizer a partir de que escalão. Costa diz que é necessário “reforçar a sustentabilidade”, “diversificar fontes de financiamento” e “aumentar o número de pessoas que contribuem para o sistema”. Mas que seja sério e que diga como é que faz isto tudo num país em profunda crise demográfica e sem dinheiro para deitar para cima dos problemas. Quando assenta toda a sua estratégia alternativa no pressuposto de que nunca terá passado pela cabeça do governo (certamente inspirado por alguma força masoquista) reformar a Segurança Social pela via da criação de emprego, o argumento do PS é, no mínimo, confrangedor. Tudo isto seria para rir se não fosse trágico para o futuro do país.

Escreve à quarta-feira