Pedro Teixeira quer que nos lembremos dele como um “gajo porreiro”. E está no bom caminho.
Entrou nas nossas casas há dez anos ao fazer parte do elenco dos “Morangos com Açúcar” e admite que Simão Navarro, a personagem que encarnou na série, marcou uma fase de transição na sua vida. Agora sabe que o grande público já o vê de forma diferente.
Confessa-nos que caiu um “bocadinho de pára-quedas” nas lides da representação. Estudava cinema quando surgiu a oportunidade de ser assistente de produção no filme “Sorte Nula”, de Fernando Fragata, e rapidamente trocou um papel atrás das câmaras nos castings para ser o protagonista de um deles. Escusado será dizer que ficou com o papel.
Desde esses dias, Pedro Teixeira evoluiu e abraçou outras produções. Hoje já teve as experiências de ser apresentador de programas de entretenimento, lançou o blogue “Bons Rapazes” e, mesmo nervoso, aventurou-se e desfilou a colecção de Nuno Gama na ModaLisboa.
Sabe que ter um palminho de cara ajuda em tudo, mas é modesto: não acha que a sua seja das mais bonitas.
O que mais lhe custa é saber que as pessoas de quem gosta saem magoadas com o que, por vezes, se escreve na comunicação social sobre si. Talvez por isso não procure nesta área nenhuma história em que seja o protagonista.
© Antonio Pedro Santos
Conhecemo-lo nos “Morangos com Açúcar”. Que memórias guarda do projecto e da sua personagem?
Da personagem não guardo grandes memórias. As memórias que tenho são do dia-a-dia das gravações, a novidade que estava a ser para mim não só representar como o facto de ser a primeira vez que estava a aparecer em televisão. Foi nos “Morangos” que me tornei conhecido do público e, como é óbvio, isso acabou por influenciar a minha forma de estar com os outros. Tive de me adaptar a uma realidade que até aí desconhecia.
Como começou a carreira?
Vou ser sincero: caí aqui um bocadinho de pára-quedas. Estava a estudar cinema na Lusófona e, entretanto, o realizador Fernando Fragata veio para Portugal fazer o “Sorte Nula” e precisava de uma equipa de produção. Eu tinha um amigo que conhecia a mulher do Fragata e falou comigo para saber se estava interessado em trabalhar no filme como assistente de produção. Eu disse que sim. No primeiro dia foram os castings, eram 200 ou 300 actores, e a minha função era filmar. Depois aconteceram uns problemas, como existem sempre nestes projectos: saíram uns actores, entraram outros… E pediram-me para fazer um casting. Eu sabia o texto de trás para a frente. Sabia quais os actores de que o Fragata tinha gostado e de que forma é que eles tinham representado, por isso foi um bocado uma batotice. Mas foi assim que comecei a representar.
E como aparecem os “Morangos com Açúcar?
Entretanto fui fazer o casting para os “Morangos”. Passei a uma segunda fase a que acabei por não ir porque tínhamos de estar em tronco nu e eu achei que não era aquilo que eu queria fazer. Depois inscrevi-me numa agência que falou com a NBP para saber que castings eu podia fazer. Quando deram o meu nome, a produtora disse que eu tinha sido seleccionado para os “Morangos” mas que tinha faltado ao teste de imagem. A minha agente da altura perguntou-me se era mesmo isto que eu queria fazer. Respondi que sim e comecei nos “Morangos”.
As pessoas ainda se lembram desse tempo em que era o Simão na série ou agora já conhecem um Pedro Teixeira diferente?
Conhecem um Pedro diferente, mas ainda se lembram do Simão. Até porque, agora, a série ainda passa em alguns canais. Mesmo esta nova geração, através dos pais ou dos primos, ainda sabe quem é o Simão.
É uma das figuras mais reconhecidas em Portugal. Como é ser o Pedro Teixeira? É difícil?
Não, não é difícil. [risos] Tem coisas boas e coisas más. Felizmente, as boas superam largamente as menos boas. Eu sinto um reconhecimento grande por parte do público em geral, um carinho enorme. Sinto que as pessoas gostam de mim. Mas acabo por me privar de certo tipo de situações devido à exposição que tenho: há certos sítios que eu não frequento tanto como gostaria. De resto, sinto-me bem com a minha pele.
Conhecem um Pedro diferente, mas ainda se lembram do Simão. Até porque, agora, a série ainda passa em alguns canais.
Muitas vezes, a sua vida vem exposta nas revistas. Como lida com isso?
Essa é a parte mais difícil. Eu não procuro nada que escrevam sobre mim, as coisas é que vêm ter comigo. E isso acontece especialmente por intermédio da minha família, dos meus pais e da minha irmã. É o pior. E daqui a uns anos vai passar-se o mesmo com a minha filha Maria. O que me custa mais é saber que essas pessoas é que vão sair magoadas, não sou eu. É incrível a capacidade para opinar sobre a vida alheia sem qualquer conhecimento de causa. Hoje em dia, muito facilmente se faz um comentário sem conhecer a pessoa. E é isso que me faz confusão: com que cara é que a minha mãe vai chegar ao trabalho sabendo que vai ser confrontada com uma notícia daquelas? Isso obviamente que me magoa.
Já agiu judicialmente contra algum órgão que escreveu uma mentira?
Sim, neste momento tenho processos a correr. Para verem: uma vez fui a um trabalho acompanhado por amigos meus e um deles levou a namorada. Estava lá um jornalista que passou a noite a tirar--me fotografias. E viu quem estava com quem. Depois, dois amigos meus saem do local, a namorada dele sai e eu fico mais meia hora acompanhado com outro amigo. O jornalista viu tudo, mas a notícia que saiu era que eu tinha entrado com a namorada do meu amigo e que tínhamos saído os dois sozinhos. E depois pensas em processar. Mas mais de metade das pessoas que leram esta notícia vão sempre acreditar nela. Nós acabamos por sofrer muito com isso. Depois dizem-me que é a minha profissão. Não, não é. Eu sou actor. Tenho uma exposição diferente, mas se falam sobre mim digam a verdade.
O carinho que sente da parte dos portugueses faz superar isso?
Sim, claro. Mas mesmo nas redes sociais… Às vezes mostram-me coisas que eu penso: “Como é que isto é possível?!” As pessoas têm uma facilidade imensa em criticar.
Senti-me muito mais exposto quando fui concorrente do “Dança com as Estrelas” e como apresentador do “Rising Star”.
Tem uma grande experiência como actor de novelas. Tem saudades de estar focado num desses projectos?
Quando se está numa novela, tem-se margem de manobra mas deixa-se de ter vida. Exige muito tempo dos actores. Grava-se uma média de 7 a 8 horas por dia, mas depois ainda se tem de preparar o dia seguinte, decorar os textos… é um processo muito difícil. É muito exigente, mas esta área da apresentação em que estou agora também o é. Sinto mais o peso da responsabilidade na apresentação, mas nas novelas trabalho mais.
Em que projectos sentiu que as pessoas o reconheceram mais?
Senti-me muito mais exposto quando fui concorrente do “Dança com as Estrelas” e como apresentador do “Rising Star”.
Não é quando entra em novelas?
As novelas são vistas por uma média de um milhão de pessoas diariamente. Um concurso é visto por 1,6 milhões. A grande diferença é que nos concursos és mesmo tu e, como é domingo à noite, as pessoas estão focadas na televisão. A novela é diferente: é no final do dia, as pessoas estão a jantar e os actores encarnam personagens. As pessoas fazem esta distinção. Começaram a conhecer-me muito mais nos programas do que nos dez anos em que estive a fazer novelas.
Como está a ser o desafio da apresentação?
Estou a gostar muito. Tenho um grande suporte, tive preparação e toda a equipa é uma grande ajuda. Aprendi bastante e quando cheguei ao “Rising Star” senti-me ansioso. Não estava nervoso. Estava confiante, sabia que ia fazer um bom trabalho. Mas, como é óbvio, era completamente inexperiente. Senti que todos os fins-de-semana era uma evolução no meu trabalho. Hoje em dia estou muito mais confiante e sinto que se der um trambolhão, tenho uma rede de suporte que faz com que tudo volte a correr bem.
© Antonio Pedro Santos
Ser apresentador alguma vez fez parte dos planos?
Nunca. Apareceu a oportunidade porque estavam à procura de alguém que fizesse par na apresentação do “Rising Star” com a Leonor Poeiras. Eu tinha acabado o “Dança com as Estrelas” e senti que o público estava do meu lado. Fui a um casting e deixaram-me completamente à vontade. Disseram-me que, se passasse, ia ter formação e no dia da estreia estaria realmente preparado. Fiz o casting, fiquei e adorei.
Se tivesse de escolher seria actor ou apresentador?
Dá para fazer as duas coisas. Quando comecei no “Rising Star” estava a fazer uma novela. Era um dos protagonistas do “Beijo do Escorpião” e aos domingos ia apresentar. Cortas com a família mas é conciliável, não deixaria nenhum para trás.
E a moda? Na ModaLisboa desfilou para Nuno Gama…
A moda? [risos] O Nuno é meu amigo e convidou--me. Aceitei porque temos uma relação muito próxima. Senti-me mais nervoso antes de desfilar do que na estreia do “Rising Star”. Não me sinto bem a desfilar, sinto que não estou preparado para o fazer.
Há também o blogue “Bons Rapazes”. Como tem sido esse projecto?
A ideia surgiu com um convite do Tiago [Froufe] há três anos. Nós íamos de fim-de-semana, fazíamos viagens e coisas de homens em que as mulheres normalmente não estão presentes. Nessa altura disse-lhe que estava completamente fora de questão porque não tinha tempo mas, se fosse um blogue dos dois, eu avançava. Mais tarde, ele fez-me de novo a proposta e nasceu o “Bons Rapazes”. Está a superar as nossas expectativas, temos entre meio milhão e um milhão de visualizações por mês.
É direccionado para o público masculino. Como é o homem português?
[Risos] Nós ainda não conseguimos apanhar todo o público masculino português. Infelizmente, ainda não chegámos lá. Sabemos quem somos e do que gostamos. O homem português… Bem, quando soubermos o perfil, vamos ter cinco milhões de visualizações! [risos] Mas é um homem que se identifica com carros, motas e desporto. No “Bons Rapazes” temos a minha identidade e a do Tiago, e é isso que tentamos passar. Tentamos passar também as nossas formas de estar e de viver. Queremos que as pessoas conheçam as nossas experiências e dar a conhecer as coisas através dos nossos olhos.
Quero ser lembrado como um gajo porreiro. Acho que é isso que sou para toda a gente.
Também usa as redes sociais. É porque valoriza a proximidade com o público? As pessoas fazem--lhe muitas perguntas e frequentemente responde…
Se tenho o público do meu lado e se sinto que gostam de mim, gosto de estar em contacto. Quando entrei nas redes foi exactamente a pensar nisso: nós não conseguimos estar com toda a gente. As redes são um caminho mais fácil para responder, para dar um miminho. Se há algo que possas fazer para satisfazer uma pessoa, tu vais fazê-lo. Não tenho problema nenhum e até acho que ajuda: podemos saber do que as pessoas estão a gostar, que caminho devemos seguir. Um dia fui convidado pela TVI para ir à “Casa dos Segredos” com a minha personagem da altura: o Moisés. Muitas coisas que eu disse no programa foram opiniões e sugestões que os meus seguidores me deram. Cada vez mais devemos seguir esta tendência.
Mas ter uma cara bonita ajuda muito…
Claro! É óbvio que ajuda. A minha não é a mais bonita de todas. Mas ter uma cara bonita ajuda em tudo.
Pratica Muay Thai, futebol e tem cuidados com a alimentação. Tem a preocupação de estar em forma?
Tenho a preocupação de me sentir bem comigo. Sempre fiz desporto, desde que me lembro. Joguei futebol muitos anos, tive de deixar quando fui cumprir serviço militar. Depois, quando voltei, já não podia jogar futebol e dediquei-me ao ginásio. O desporto faz parte da minha vida. Para mim não faz sentido um dia em que não faça pelo menos dez minutos de corrida.
Falou em serviço militar. Como é que foi?
Eu sou muito despassarado, sempre fui. Sou de 1980 e todas as pessoas do meu ano já não eram obrigadas a ir à tropa se tivessem o 10.o ano concluído, se não me engano. Na altura já tinha o 11.o, mas tinha de se fazer prova de que já se tinha concluído: entregar o certificado de habilitações. Mas eu deixei passar o prazo. Não entreguei o certificado e fui cumprir serviço militar. Estive em Beja, no Regimento de Infantaria n.o 3, a fazer a recruta e depois fui para Santa Margarida fazer o resto da tropa. E sou sincero: acho que a tropa só me fez bem. Acho que toda a gente devia fazer pelo menos um mês de recruta. Os jovens, hoje em dia, deviam, porque não faz mal nenhum. Só nos traz disciplina e acorda-nos para o que é o desporto.
É muito assediado?
As fãs agem comigo de um modo engraçado, nunca foram inconvenientes. Foram sempre divertidas… Nunca me senti incomodado.
Com qual das facetas se identifica mais? Actor, apresentador, blogger…
Sou uma mistura de todas essas facetas. Sou um trabalhador, uma pessoa que gosta muito de aprender e que se lança para tudo de cabeça. Dedico-me a 100%. Desde que tenha hipótese de aprender, acho que me vou sair bem. É assim que tem acontecido em tudo na minha vida: no que me dedico a sério, acaba por correr bem.
E não pondera uma carreira no cinema?
Eu comecei no “Sorte Nula”. Mas acho que o cinema é um mundo muito restrito. O que sinto é que não é o facto de seres melhor ou pior actor que conta. Há bons e maus actores no cinema, há bons e maus actores na televisão. O que há realmente é um preconceito por parte de quem dirige e faz cinema em relação a actores que fazem televisão. Isso é uma coisa que, provavelmente, não vai mudar tão cedo. Não quer dizer que sejamos melhores ou piores. É um preconceito mesmo.
E uma carreira internacional?
Sinto-me tão bem aqui que nunca pensei sobre isso. Aqui tenho tudo o que quero: tenho o meu trabalho, estou na profissão de que gosto, estou a fazer tudo o que quero e tenho a minha família aqui. Não sou assim tão ambicioso a esse ponto de querer mais e ter de voar daqui para fora.
A moda? [risos] O Nuno é meu amigo e convidou--me. Aceitei porque temos uma relação muito próxima.
A família ficaria para trás… Que importância tem para si?
A família tem toda a importância para mim. São eles que me aconselham em tudo e que sempre estiveram ao meu lado. Dava a vida por eles.
A sua filha Maria fez cinco anos. Como é que ser pai mudou a sua vida?
Sou mais apaixonado. Não só por ela, mas também pela minha vida, tudo faz mais sentido. Tenho uma filha linda a quem quero dar tudo e proteger até ao resto da minha vida.
O que ainda lhe falta fazer?
Vou contar um segredo. Estive a estudar cinema e há uma coisa que eu quero e sei que vou fazer: realizar o meu filme. Tenho a estrutura toda na minha cabeça. Já estive para iniciar uma parte, mas não tenho tido tempo. E as pessoas de que preciso à minha volta também não. Mas nem que seja daqui a dez ou 15 anos, vou ter o meu filme no cinema.
Imagine que daqui a 40 anos pergunto a alguém quem é o Pedro Teixeira. O que queria que essa pessoa me respondesse?
Nessa altura, eu tenho quase 80. [risos] Queria que as pessoas sorrissem quando falassem de mim. Quero ser lembrado como um gajo porreiro. Acho que é isso que sou para toda a gente. Nunca desejo mal a ninguém, sou uma pessoa de bem com a vida. Quero que falem de mim com carinho e simpatia.