SATU. Anatomia de um projecto falhado

SATU. Anatomia de um projecto falhado


Onze anos de um percurso turbulento levam ao fim do Sistema Automático de Transporte Urbano (SATU). 


O projecto do Sistema Automático de Transporte Urbano (SATU) já vinha do tempo em que Isaltino Morais estava à frente da Câmara Municipal de Oeiras. Quando foi inaugurado, em 2004, no mandato de Teresa Zambujo, não se previa que o fim chegasse quase 11 anos depois. As viagens do SATU terminam este domingo, mas a estrutura vai manter-se como está porque os custos de desmantelamento “seriam enormes”, afirma a autarquia, acrescentando estar “aberta a sugestões” para reaproveitar a construção no futuro.

O percurso do SATU, que deveria ligar Paço de Arcos e o Cacém quando todas as etapas estivessem terminadas, nunca passou da fase 1: de Paço de Arcos até ao centro comercial Oeiras Parque, numa distância de 1,2 quilómetros. 
A história deste transporte chegou à última paragem com Paulo Vistas à frente do município. “Foi um erro inaugurar o SATU nas condições actuais”, conclui o presidente da Câmara de Oeiras. Se o tempo voltasse atrás, a estratégia da autarquia seria outra: “O transporte nunca deveria sido inaugurado antes da fase 2.” Ou seja, até ao Lagoas Park.

Mas o trajecto do SATU também nunca foi linear. Logo no início provocou queixas dos moradores devido ao barulho e à proximidade do comboio das suas casas. Também conhecido como comboio-fantasma – por ter uma média inferior a 500 passageiros por dia – , apenas foi vantajoso no plano ambiental, uma vez que é um veículo eléctrico não poluente.

Actualmente conta com três estações – Navegantes, Tapada e Fórum –, mas deveria ter 16 se todas as fases ficassem concluídas. Uma viagem entre Paço de Arcos e o centro comercial Oeiras Parque, ou vice-versa, dura cerca de 5 minutos e custa 1,15 euros. Ida e volta são 1,65 euros.

alargamento Três fases de alargamento ficaram na gaveta. Depois de chegar ao Lagoas Park, na segunda fase, o SATU deveria seguir viagem até ao Tagus Park e, na quarta e última fase, até à estação de comboios Agualva-Cacém. Serviria os aglomerados populacionais de Porto Salvo, São Marcos e Cacém, passando por parques empresariais e outros serviços como universidades, o SEFou a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. 

Paulo Vistas confirma ao i que o objectivo primordial e “desde sempre assumido pelo município de Oeiras” foi levar o “sistema até Sintra e deste modo alcançar a ambicionada ligação vertical entre as linhas férreas de Sintra e Cascais”. Para o presidente da câmara, faltou “vontade política” para evitar o encerramento do transporte: “Não houve financiamento para o prolongar porque os últimos governos não deram luz verde para que o projecto se pudesse candidatar a fundos comunitários.”
 
População O i viajou no SATU na última semana do seu funcionamento. A alcunha de comboio-fantasma continua a assentar que nem uma luva, mas os utentes ainda defendem que o alargamento do percurso poderia ter revertido a situação. António Silva mora em Paço de Arcos e é utilizador frequente do SATU. Concorda que a extensão da linha até aos parques empresariais poderia contribuir para a viabilidade deste projecto, uma vez que “à hora de almoço há muita gente que, por não ter transportes públicos, se desloca até ao Oeiras Parque de carro”. Para o morador, quem usa o SATU “ou mora em Paço de Arcos ou tem de apanhar o comboio”, defende, acrescentando que a privatização poderia ser uma solução para o transporte.

Já Ana Duarte é uma utilizadora assídua do transporte mas não está preocupada com o seu fim porque tem o autocarro como alternativa: “O SATU é bom porque é rápido e não tem horário.” As rotinas desta moradora vão ser reorganizadas, mas isso não a impede de defender a continuidade do projecto: “Se chegasse até ao Cacém, como estava para acontecer, teria tido muito mais lucro. Havia muita gente a usar. E o IC-19 está sempre tão cheio que até seria bom para o trânsito.” 

Tiago Mesquita mora em Carcavelos e até agora “nunca tinha andado no SATU”: “Tinha curiosidade e como sei que vai acabar vim ver como era a experiência.” Para Tiago, a ideia inicial do SATU devia ter sido outra: “Penso que ia ter mais passageiros se a primeira fase tivesse ligado o centro comercial aos parques empresariais.”
O i quis perceber junto da SATU-OEIRAS o que falhou neste projecto ou o que poderia ter evitado o seu fim, mas a empresa entendeu “não se dever pronunciar” sobre as questões apresentadas.