Carlos Costa, um burocrata diferente


Muitos ao longo destes anos me juraram da fragilidade de um império alavancado numa situação fictícia – banqueiros, ministros, empresários sabiam-no. No fundo, sabiam-no. E pactuaram.


O governador do Banco de Portugal é um estrangeirado. Estudou na mítica Sorbonne, viveu largos anos em Bruxelas e foi director-geral do BCP para a área internacional. Nessa experiência de trabalho com Jorge Jardim Gonçalves nunca cultivou ou manteve uma proximidade com o banqueiro. Estou em crer que o fundador do BCP não o considerava particularmente. 

De alguma maneira, Carlos Costa é mais um exemplo da alteração dos paradigmas de poder: nos palácios onde realmente se decide passaram a estar burocratas nas divisões onde antes apenas existiam políticos. Na década de 1980, os economistas e especialistas em finanças, em Portugal e no mundo, eram chamados pelos políticos para lhes apresentarem estudos, tendências e opiniões. Passados 30 anos, economistas e financeiros ganharam um protagonismo que tem tudo a ver com uma época em que o poder está nos que são capazes de compreender a linguagem codificada dos mercados e o respirar das taxas de juros, das flutuações da bolsa, do que se ganha, especula e perde em cada momento. Juncker, que substituiu Barroso na Comissão Europeia, na apresentação da lista dos seus comissários teve o cuidado de dizer que pretendia inflectir a tendência dos tempos, escolhendo mais políticos do que burocratas. Por alguma razão o disse, por alguma razão o fez.

Torno a Carlos Costa. Não tenho a ideia de que foi um mau governador ou que seja um burocrata típico. Foi no seu consulado que estoirou o escândalo do BES, é verdade. Deveria ter alertado antes, tinha dados para isso, demorou tempo demais – segunda verdade. Mas não fechou a porta a que se investigasse, foi a tempo, antes tarde do que nunca. Se lhe assacarmos a responsabilidade, então teremos de concluir que praticamente todo o poder em Portugal deveria ter pago um preço político por permitir que um homem como Ricardo Salgado tenha tido a influência que teve quando estava na cara que o seu poder, o dinheiro e os lugares que distribuiu não passavam de um truque de ilusionismo. Muitos ao longo destes anos me juraram da fragilidade de um império alavancado numa situação fictícia – banqueiros, ministros, empresários sabiam-no. No fundo, sabiam-no. E pactuaram. 

Carlos Costa, apesar de tudo, encarou a situação. Além dessa circunstância, os seus colegas do fechado Banco de Portugal defendem-no com unhas e dentes. É culto, prepara-se, é sério. Um burocrata diferente. Na comparação com Constâncio, é gritante a diferença. Não será necessário dizer mais em relação a isso. 

Amanhã dir-lhe-ei das razões que levam Passos Coelho a apoiar a recondução de Carlos Costa como governador, contra a opinião de António Costa e a três meses das eleições. Ou a insistir na privatização da TAP, enfrentando os mesmos constrangimentos. É uma estratégia. Que deve merecer de António Costa a melhor das atenções. 


Carlos Costa, um burocrata diferente


Muitos ao longo destes anos me juraram da fragilidade de um império alavancado numa situação fictícia – banqueiros, ministros, empresários sabiam-no. No fundo, sabiam-no. E pactuaram.


O governador do Banco de Portugal é um estrangeirado. Estudou na mítica Sorbonne, viveu largos anos em Bruxelas e foi director-geral do BCP para a área internacional. Nessa experiência de trabalho com Jorge Jardim Gonçalves nunca cultivou ou manteve uma proximidade com o banqueiro. Estou em crer que o fundador do BCP não o considerava particularmente. 

De alguma maneira, Carlos Costa é mais um exemplo da alteração dos paradigmas de poder: nos palácios onde realmente se decide passaram a estar burocratas nas divisões onde antes apenas existiam políticos. Na década de 1980, os economistas e especialistas em finanças, em Portugal e no mundo, eram chamados pelos políticos para lhes apresentarem estudos, tendências e opiniões. Passados 30 anos, economistas e financeiros ganharam um protagonismo que tem tudo a ver com uma época em que o poder está nos que são capazes de compreender a linguagem codificada dos mercados e o respirar das taxas de juros, das flutuações da bolsa, do que se ganha, especula e perde em cada momento. Juncker, que substituiu Barroso na Comissão Europeia, na apresentação da lista dos seus comissários teve o cuidado de dizer que pretendia inflectir a tendência dos tempos, escolhendo mais políticos do que burocratas. Por alguma razão o disse, por alguma razão o fez.

Torno a Carlos Costa. Não tenho a ideia de que foi um mau governador ou que seja um burocrata típico. Foi no seu consulado que estoirou o escândalo do BES, é verdade. Deveria ter alertado antes, tinha dados para isso, demorou tempo demais – segunda verdade. Mas não fechou a porta a que se investigasse, foi a tempo, antes tarde do que nunca. Se lhe assacarmos a responsabilidade, então teremos de concluir que praticamente todo o poder em Portugal deveria ter pago um preço político por permitir que um homem como Ricardo Salgado tenha tido a influência que teve quando estava na cara que o seu poder, o dinheiro e os lugares que distribuiu não passavam de um truque de ilusionismo. Muitos ao longo destes anos me juraram da fragilidade de um império alavancado numa situação fictícia – banqueiros, ministros, empresários sabiam-no. No fundo, sabiam-no. E pactuaram. 

Carlos Costa, apesar de tudo, encarou a situação. Além dessa circunstância, os seus colegas do fechado Banco de Portugal defendem-no com unhas e dentes. É culto, prepara-se, é sério. Um burocrata diferente. Na comparação com Constâncio, é gritante a diferença. Não será necessário dizer mais em relação a isso. 

Amanhã dir-lhe-ei das razões que levam Passos Coelho a apoiar a recondução de Carlos Costa como governador, contra a opinião de António Costa e a três meses das eleições. Ou a insistir na privatização da TAP, enfrentando os mesmos constrangimentos. É uma estratégia. Que deve merecer de António Costa a melhor das atenções.