O mundo do futebol


É um mundo das entranhas, não da razão. Onde o dinheiro corre a rodos e com centenas de intermediários. Dinheiro fácil para quem o sabe ganhar. Compram-se votos, ganham-se percentagens nas transferências de jogadores ou nas transmissões televisivas. É negócio.


© Steffen Schmidt/EPA

A detenção por suspeitas de corrupção de oito dirigentes da FIFA fez soar os alarmes e as habituais frases de indignação. Aconteceu a um par de dias de mais umas eleições que, democraticamente, elegerão um homem que se eternizou no poder: Joseph Blatter. Não é uma originalidade do futebol.

Em Portugal, os presidentes dos clubes, regra geral, lideram durante muitos anos. Pinto da Costa está na presidência do FC Porto há mais de 30 anos; Luís Filipe Vieira, há quase 15; e Bruno de Carvalho confessou que o seu maior desejo é ser líder do Sporting até ao último sopro de vida. 

O futebol não é uma democracia. Não é um domínio da razão. Os que defendem rotatividade do poder, liberdade ou separação de poderes são os mesmos que não questionam que as lideranças no futebol devem ser musculadas, que o processo de decisão deve ser o mais fechado possível e que a limitação de mandatos não faz sentido. Na bola não é importante a democracia, é importante que o nosso clube ganhe e que possamos estar animados ou na expectativa toda a semana. 

No futebol, quando um jornalista faz uma pergunta mais agressiva numa conferência de imprensa, corre o risco de ser destratado e poucos ou nenhuns se questionam quando isso acontece.

O que na política é impensável, no futebol é o normal. Cidadãos insuspeitos como Rui Moreira, Daniel Sampaio ou António-Pedro Vasconcelos tornam-se outros quando discutem futebol. Moreira não questiona Pinto da Costa no futebol, mas nunca o apoiaria se este fosse político. Daniel Sampaio criou condições para Bruno de Carvalho ser líder do Sporting, mas nunca o apoiaria num cargo público. António-Pedro Vasconcelos foi o primeiro defensor de uma política de comunicação do Benfica que é contrária ao espírito de alguém que defende princípios democráticos e de respeito institucional pelos adversários. 

É um mundo das entranhas, não da razão. Onde o dinheiro corre a rodos e com centenas de intermediários. Dinheiro fácil para quem o sabe ganhar. Compram-se votos, ganham-se percentagens nas transferências de jogadores ou nas transmissões televisivas. É negócio. Compra-se e vende-se. Não há culpa porque ninguém é prejudicado, há para todos. Blatter ganhará as eleições porque tem lugares para distribuir e uma multidão de gente ávida por continuar a receber a sua parte do bolo. As pessoas são poderosas enquanto têm lugares/poder para distribuir. Ou dinheiro. Ou as duas coisas. 

É por isso que as frases de indignação sobre a FIFA me dizem pouco. Em alguns casos, mesmo muito pouco. Ouvir Luís Figo, ou grande parte do mundo do futebol português, a acusar a FIFA de ser antidemocrática é o mesmo que comparar o Manuel Germano com o género humano. Entra-me por um ouvido e sai-me por outro, é areia para os olhos. 

O mundo do futebol


É um mundo das entranhas, não da razão. Onde o dinheiro corre a rodos e com centenas de intermediários. Dinheiro fácil para quem o sabe ganhar. Compram-se votos, ganham-se percentagens nas transferências de jogadores ou nas transmissões televisivas. É negócio.


© Steffen Schmidt/EPA

A detenção por suspeitas de corrupção de oito dirigentes da FIFA fez soar os alarmes e as habituais frases de indignação. Aconteceu a um par de dias de mais umas eleições que, democraticamente, elegerão um homem que se eternizou no poder: Joseph Blatter. Não é uma originalidade do futebol.

Em Portugal, os presidentes dos clubes, regra geral, lideram durante muitos anos. Pinto da Costa está na presidência do FC Porto há mais de 30 anos; Luís Filipe Vieira, há quase 15; e Bruno de Carvalho confessou que o seu maior desejo é ser líder do Sporting até ao último sopro de vida. 

O futebol não é uma democracia. Não é um domínio da razão. Os que defendem rotatividade do poder, liberdade ou separação de poderes são os mesmos que não questionam que as lideranças no futebol devem ser musculadas, que o processo de decisão deve ser o mais fechado possível e que a limitação de mandatos não faz sentido. Na bola não é importante a democracia, é importante que o nosso clube ganhe e que possamos estar animados ou na expectativa toda a semana. 

No futebol, quando um jornalista faz uma pergunta mais agressiva numa conferência de imprensa, corre o risco de ser destratado e poucos ou nenhuns se questionam quando isso acontece.

O que na política é impensável, no futebol é o normal. Cidadãos insuspeitos como Rui Moreira, Daniel Sampaio ou António-Pedro Vasconcelos tornam-se outros quando discutem futebol. Moreira não questiona Pinto da Costa no futebol, mas nunca o apoiaria se este fosse político. Daniel Sampaio criou condições para Bruno de Carvalho ser líder do Sporting, mas nunca o apoiaria num cargo público. António-Pedro Vasconcelos foi o primeiro defensor de uma política de comunicação do Benfica que é contrária ao espírito de alguém que defende princípios democráticos e de respeito institucional pelos adversários. 

É um mundo das entranhas, não da razão. Onde o dinheiro corre a rodos e com centenas de intermediários. Dinheiro fácil para quem o sabe ganhar. Compram-se votos, ganham-se percentagens nas transferências de jogadores ou nas transmissões televisivas. É negócio. Compra-se e vende-se. Não há culpa porque ninguém é prejudicado, há para todos. Blatter ganhará as eleições porque tem lugares para distribuir e uma multidão de gente ávida por continuar a receber a sua parte do bolo. As pessoas são poderosas enquanto têm lugares/poder para distribuir. Ou dinheiro. Ou as duas coisas. 

É por isso que as frases de indignação sobre a FIFA me dizem pouco. Em alguns casos, mesmo muito pouco. Ouvir Luís Figo, ou grande parte do mundo do futebol português, a acusar a FIFA de ser antidemocrática é o mesmo que comparar o Manuel Germano com o género humano. Entra-me por um ouvido e sai-me por outro, é areia para os olhos.