Cuidado com a euforia, não há ponto de partida como o do PS


Recuperar a previsibilidade e o respeito pela dignidade humana é fundamental.


© Nuno Andre Ferreira/Lusa

Depois da Grécia e do Reino Unido, os resultados nas eleições municipais e autonómicas em Espanha, só sublinham a relevância das vitórias do Partido Socialista nas eleições autárquicas de 2013 e nas europeias de 2014. Até agora, nos países do ajustamento, só os socialistas portugueses ganharam, não uma, mas duas eleições.

A constatação fatual sublinha a adequação da trajetória percorrida entre 2011 e 2014 para posicionar o PS para uma maioria absoluta nas eleições legislativas de outubro. O PASOK na Grécia, o Labour Party no Reino Unido e o PSOE em Espanha não conseguiram esse posicionamento.

É por isso extemporânea a euforia que se apossou da maioria PSD/CDS, inebriada pelos resultados alcançados pelos partidos apologistas da austeridade como filosofia de governação e pelo desastroso impasse grego. A estratégia de Passos e Portas é clara e deve ser desmontada.

“Os socialistas puseram a troika cá, nós tirámos”. Como se o PEC IV não tivesse sido chumbado pelo PSD, pelo CDS, pelo PCP, pelo Bloco de Esquerda e pelos Verdes. Chumbado pelos que aplicaram uma austeridade além da troika e pelos que também a contestaram.

Como se troika não permanecesse entranhada no corpo de uma maioria que falhou na dívida pública (103,3% do PIB); fracassou no desemprego; confundiu cortes cegos com uma Reforma do Estado e quer prosseguir com mais cortes como o de 600 milhões na segurança social, para 2016, já comunicado a Bruxelas. Depois de 4 anos de constantes cortes nos rendimentos e de aumentos da carga fiscal, é quase pornográfica a preocupação de agora do ministro Mota Soares com a previsibilidade, a confiança e a estabilidade das pensões.

O contrário dos últimos 4 anos. Recuperar a previsibilidade e o respeito pela dignidade humana são dois pilares fundamentais de um futuro governo PS.

“Os socialistas são o regresso ao passado”. Como se o programa eleitoral não apresentasse propostas diferenciadoras como a da obrigatoriedade da aprovação das principais obras públicas por 2/3. Em matéria de retrocessos temporais, nada como os resultados da maioria PSD/CDS no investimento público, no desemprego e na emigração. Recuos de décadas. Milhares que ficaram para trás e à margem.  

“Os socialistas não apresentam alternativas credíveis”. Aliás, para Passos e Portas não há alternativa à austeridade e à subserviência a Bruxelas e a Berlim. “Vejam o impasse negocial do governo grego liderado pelo Syriza com a Comissão Europeia e as expetáveis dificuldades de formação de maiorias em Espanha”, dirão certamente Pedro e Paulo, em coro ou em surdina. A coligação PSD/CDS aposta tudo no poder do medo dos eleitores na ingovernabilidade, no desperdício dos sacrifícios e na destruição dos laços de confiança numa governação diferente para melhor. É o vale tudo do cenário britânico da vitória de David Cameron.

O problema da maioria PSD/CDS é que Portugal não é a Grécia, mas também não é o Reino Unido ou a Espanha. Na Grécia, o PSOK foi agente de austeridade; no Reino Unido, o Labour acantonou-se à esquerda e não assegurou a unidade interna e em Espanha, o PSOE esteve 3 anos com uma liderança de continuidade.

O conforto da aprendizagem com os erros dos outros e das mais valias conquistadas em 4 anos de crescimento eleitoral do PS (Partido mais votado em 2 eleições, mais mandatos autárquicos, mais municípios e mais freguesias), exigem um redobrado esforço de combate político aos partidos do governo e de memória aos que abriram a porta do governo à Direita; de reforço da confiança nas propostas e nos protagonistas políticos do PS e de mobilização dos cidadãos para a mudança.

É que enfrentamos, quem comunica a Bruxelas que quer cortar 600 milhões nas pensões, mas diz em Portugal que não é bem assim. Quem volta a prometer médico de família a 1 milhão de portugueses mas contrata apenas médico para 500 mil.

Quem fala em consensos, mas acerta por ajuste direto a recondução do governador do Banco de Portugal. Quem vai nomear agora para vários anos, prometer, promover, fazer agora o que nunca fez, pintar a manta para tentar manter o poder, custe o que custar.

Combater não é tarefa pequena, mas é possível.

Membro da comissão política nacional do PS
Escreve à quinta-feira


Cuidado com a euforia, não há ponto de partida como o do PS


Recuperar a previsibilidade e o respeito pela dignidade humana é fundamental.


© Nuno Andre Ferreira/Lusa

Depois da Grécia e do Reino Unido, os resultados nas eleições municipais e autonómicas em Espanha, só sublinham a relevância das vitórias do Partido Socialista nas eleições autárquicas de 2013 e nas europeias de 2014. Até agora, nos países do ajustamento, só os socialistas portugueses ganharam, não uma, mas duas eleições.

A constatação fatual sublinha a adequação da trajetória percorrida entre 2011 e 2014 para posicionar o PS para uma maioria absoluta nas eleições legislativas de outubro. O PASOK na Grécia, o Labour Party no Reino Unido e o PSOE em Espanha não conseguiram esse posicionamento.

É por isso extemporânea a euforia que se apossou da maioria PSD/CDS, inebriada pelos resultados alcançados pelos partidos apologistas da austeridade como filosofia de governação e pelo desastroso impasse grego. A estratégia de Passos e Portas é clara e deve ser desmontada.

“Os socialistas puseram a troika cá, nós tirámos”. Como se o PEC IV não tivesse sido chumbado pelo PSD, pelo CDS, pelo PCP, pelo Bloco de Esquerda e pelos Verdes. Chumbado pelos que aplicaram uma austeridade além da troika e pelos que também a contestaram.

Como se troika não permanecesse entranhada no corpo de uma maioria que falhou na dívida pública (103,3% do PIB); fracassou no desemprego; confundiu cortes cegos com uma Reforma do Estado e quer prosseguir com mais cortes como o de 600 milhões na segurança social, para 2016, já comunicado a Bruxelas. Depois de 4 anos de constantes cortes nos rendimentos e de aumentos da carga fiscal, é quase pornográfica a preocupação de agora do ministro Mota Soares com a previsibilidade, a confiança e a estabilidade das pensões.

O contrário dos últimos 4 anos. Recuperar a previsibilidade e o respeito pela dignidade humana são dois pilares fundamentais de um futuro governo PS.

“Os socialistas são o regresso ao passado”. Como se o programa eleitoral não apresentasse propostas diferenciadoras como a da obrigatoriedade da aprovação das principais obras públicas por 2/3. Em matéria de retrocessos temporais, nada como os resultados da maioria PSD/CDS no investimento público, no desemprego e na emigração. Recuos de décadas. Milhares que ficaram para trás e à margem.  

“Os socialistas não apresentam alternativas credíveis”. Aliás, para Passos e Portas não há alternativa à austeridade e à subserviência a Bruxelas e a Berlim. “Vejam o impasse negocial do governo grego liderado pelo Syriza com a Comissão Europeia e as expetáveis dificuldades de formação de maiorias em Espanha”, dirão certamente Pedro e Paulo, em coro ou em surdina. A coligação PSD/CDS aposta tudo no poder do medo dos eleitores na ingovernabilidade, no desperdício dos sacrifícios e na destruição dos laços de confiança numa governação diferente para melhor. É o vale tudo do cenário britânico da vitória de David Cameron.

O problema da maioria PSD/CDS é que Portugal não é a Grécia, mas também não é o Reino Unido ou a Espanha. Na Grécia, o PSOK foi agente de austeridade; no Reino Unido, o Labour acantonou-se à esquerda e não assegurou a unidade interna e em Espanha, o PSOE esteve 3 anos com uma liderança de continuidade.

O conforto da aprendizagem com os erros dos outros e das mais valias conquistadas em 4 anos de crescimento eleitoral do PS (Partido mais votado em 2 eleições, mais mandatos autárquicos, mais municípios e mais freguesias), exigem um redobrado esforço de combate político aos partidos do governo e de memória aos que abriram a porta do governo à Direita; de reforço da confiança nas propostas e nos protagonistas políticos do PS e de mobilização dos cidadãos para a mudança.

É que enfrentamos, quem comunica a Bruxelas que quer cortar 600 milhões nas pensões, mas diz em Portugal que não é bem assim. Quem volta a prometer médico de família a 1 milhão de portugueses mas contrata apenas médico para 500 mil.

Quem fala em consensos, mas acerta por ajuste direto a recondução do governador do Banco de Portugal. Quem vai nomear agora para vários anos, prometer, promover, fazer agora o que nunca fez, pintar a manta para tentar manter o poder, custe o que custar.

Combater não é tarefa pequena, mas é possível.

Membro da comissão política nacional do PS
Escreve à quinta-feira