“Não a Bruxelas, sim a Kiev”, assim ditava ontem o título do artigo que o RT escreveu no rescaldo das eleições presidenciais de domingo na Polónia, cujos resultados foram surpreendentes para alguns. Segundo o site russo, o novo presidente eleito quer tornar o país mais independente do bloco europeu e mais próximo do novo governo ucraniano, que integra, entre outras forças políticas, movimentos radicais nacionalistas de extrema-direita.
{relacionados}
Enérgico, jovem, fora dos círculos políticos polacos e europeus, Andrzej Duda passou de estrela virtual de alguns a presidente de todos os polacos no passado domingo, destronando o centrista Bronislaw Komorowski, o seu principal rival na corrida eleitoral. Apesar do crescimento económico da Polónia nos últimos anos, o presidente em exercício teve uma campanha desfasada das necessidades e das aspirações de uma maioria da população, que optou pelo desconhecido numa altura de crescentes tensões políticas e militares também na Europa de Leste.
A mudança do país para a direita conservadora populista que Duda representa só vem baralhar mais o jogo regional. A nível interno, promete baixar a idade da reforma – que tinha subido para os 67 anos em 2012 – e forçar os bancos polacos a transpor hipotecas em francos suíços para zloty, a moeda do país, com custos para as instituições financeiras de milhares de milhões de euros em lucros. Mas as grandes surpresas da sua presidência estão reservadas para o plano europeu.
Muitos dizem que o seu programa de campanha continha promessas contraditórias, inviáveis e algumas até ilegais, considerando que a Polónia tem um regime semipresidencialista semelhante ao de Portugal, em que o líder máximo não tem poder executivo efectivo, limitando-se a vetar ou aprovar leis que passam primeiro pelo parlamento e a representar a Polónia em encontros de chefes de Estado por todo o mundo. Mas o que a lei também dita é que é ele o chefe máximo das forças armadas e as repercussões que a sua eleição terá para o bloco europeu perante as tensões agravadas com a Rússia ainda estão por descortinar.
A sua eleição na segunda volta das presidenciais acontece dias depois de a vizinha Finlândia ter notificado mais de 900 mil militares na reserva, para os pôr de sobreaviso “na eventualidade de uma guerra” com a Rússia.
Opasso inédito no país nórdico em décadas aconteceu na quinta-feira, quando quase um milhão de soldados na pré-reforma, incluindo cidadãos que não vivem actualmente no país, receberam cartas a informá-los dos planos hipotéticos que serão postos em marcha se Moscovo violar a soberania do país ou de aliados na região – “em anexo”, lê-se em cada carta, “encontrará os pormenores da sua situação bem como o papel que assumirá em caso de guerra”.
AFinlândia, que não é membro da NATO, partilha uma fronteira terrestre de mais de 1330 quilómetros com a Rússia, a segunda maior de qualquer país europeu a seguir à ucraniana.