Anton Corbijn. O rock não morreu

Anton Corbijn. O rock não morreu


E Kurt Cobain também não. Pelo menos foi visto em 2002 numa foto de Anton Corbijn.


Kurt Cobain numa foto de 2002, oito anos depois de morrer? Nada de teorias da conspiração, por detrás dos óculos brancos e do cabelo loiro não está Cobain, mas sim Corbijn, Anton Corbijn. O fotógrafo e realizador (“Control”, de 2007, sobre Ian Curtis dos Joy Division) encarnou alguns dos seus artistas favoritos e fotografou-se a si próprio com as suas roupas e expressões faciais. Tal como os teria fotografado se ainda fossem vivos. Mas provavelmente nunca em Strijen, a sua terra natal, uma vila com 9 mil habitantes na ilha de Hoeksche Waard, na Holanda.

Além de Cobain, Jimi Hendrix, Janis Joplin, John Lennon e Sid Vicious também posam algures em Strijen. Ou melhor, é Corbijn quem olha para a câmara de peruca, maquilhagem e a farda do rock n’roll. “a.somebody” é o nome da série de fotografias que pode agora ser vista no Gemeentemuseum Den Haag, em Haia, naquela que é a maior retrospectiva do trabalho de Corbijn.

A propósito do 60.º aniversário do fotógrafo (também conhecido por realizar videoclipes como “Electrical Storm”, dos U2, ou “Enjoy the Silence”, dos Depeche Mode), o museu dedica-lhe “Hollands Deep”, uma exposição que mostra como o seu trabalho evoluiu desde os tempos em que era um fã de música até ser um dos grandes fotógrafos e cineastas a contribuir para a história da música. “Alguém que voltou a fazer da fotografia de retrato uma arte”, nas palavras da pintora sul-africana Marlene Dumas, que trabalhou com Corbijn no seu livro de 2000 “Strippingirls”.

Além de “a.somebody”, “Hollands Deep” mostra algumas das fotos mais marcantes da carreira de Corbijn, com retratos de artistas como Miles Davis, com as mãos na cara, David Bowie no backstage de “The Elephant Man” ou Elvis Costello deitado num sofá com a guitarra em cima.

Ao lado do Gemeentemuseum, o Fotomuseum também lhe dedica “1-2-3-4”, uma exposição com enfoque na música e nas colaborações de Corbijn com bandas. Imagens dos U2 desde os anos 80 até 2004, fotos de digressões dos Rolling Stones de 1980 a 1995 e até de bandas mais recentes, como os Arcade Fire para ver até 16 de Agosto (a data foi prolongado, enquanto Hollands Deep” termina a 21 de Junho).

Em entrevistas, Corbijn conta que a música foi uma maneira de escapar à educação católica que recebia em casa – aliás, lembra-se de passear com a irmã num cemitério no dia do seu baptizado.

Começou a levar uma máquina fotográfica para concertos porque percebeu que assim era mais fácil aproximar-se do palco. Acabou por ir parar ao backstage. Ainda assim não se considera um fotógrafo profissional. “Algumas das minhas fotos mais famosas foram tiradas em cinco, dez minutos”, revelou há pouco tempo numa entrevista a propósito das exposições. “Apareço só com a minha câmara, não há nenhuma preparação.”