© Francisco Seco/AP
Muito foi dito sobre a actuação da polícia nos festejos do título do Benfica, mas há uma questão que se encontra por esclarecer: quem deu a ordem para que fosse feita a evacuação da multidão e quais os motivos?
Convenhamos que a operação levada a cabo acarretou enormes riscos para a segurança dos cidadãos presentes e, com tantas câmaras no local, estranha--se que nenhuma tenha registado o motivo fundador que possa legitimar a radical decisão de limpar a zona.
Por outro lado, para quem assistiu aos acontecimentos através da televisão, foi particularmente aviltante ouvir comentadores desportivos transformados em acusadores sumários. De dedo em riste e abdicando do discurso mole, tão caro a deputados profissionais de 5.a fila da bancada do PSD, Ribeiro Cristóvão acusava “grupos organizados” por “acções premeditadas” que os directos não mostravam. Sem pejo nem decoro, poupavam-se nos “alegados” que sempre aplicam aos poderosos, insultando a turba de anónimos mal vestidos que se indignava a fugir do cassetete. Nem a divulgação do vídeo de Guimarães – em que um pai era barbaramente espancado pela polícia à frente dos filhos e, acrescente-se, detido e constituído arguido – fez duvidar as certezas de quem prefere acusar o pobre, o negro ou o bêbado.
Nos dias seguintes aos acontecimentos do Marquês circularam ainda mais imagens confrangedoras. A perna da rapariga alvejada por uma bala de borracha, o vídeo do golpe aplicado por um polícia nas costas de quem fugia, seguido das ordinárias provocações de outro agente e a fotografia de um polícia a lançar uma garrafa contra a multidão. Oficialmente, está tudo sob investigação e dizem-nos ser precipitado pedir conclusões ou responsabilidades.
Valorizando os tempos de inquérito e o direito de defesa de todos, parece-me ser este o momento adequado para exigir que sejam públicas as conclusões da investigação ao que sucedeu, no início do ano, na esquadra da Amadora, em que vários moradores da Cova da Moura foram espancados e um baleado.
Escreve à segunda-feira