Noruega. Os segredos do melhor país do mundo

Noruega. Os segredos do melhor país do mundo


Há pouco sol e muitos impostos, mas a Noruega aparece constantemente no topo dos índices de desenvolvimento. 


É muito mais do que bacalhau e histórias de viquingues. A Noruega é um dos países mais desenvolvidos do mundo. É o melhor para se ser mãe, ideal tanto para os homens como para as mulheres ambicionarem carreiras de topo ou tranquilo para trabalhar só as horas necessárias e chegar a casa antes das 17h. Um pouco de sol para alegrar os invernos cinzentos e seria (aparentemente) perfeito para novos e velhos viverem felizes.

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Inês Alegria Ulimoen tem 32 anos e em 2006 deixou Portugal para viver em Oslo. Tem duas filhas e está convencida de que escolheu o “país ideal para se constituir família”. A Noruega, também conhecida por ser um dos países mais caros, abre uma excepção quando em causa estão bebés e crianças: “Um pacote de fraldas para recém-nascidos custa cerca de 2,5 euros”, conta. Assim é fácil entender por que razão a média de filhos por mulher é bem mais alta que a portuguesa:_1,85 contra 1,28.

Na Noruega a licença de maternidade dura 59 semanas a receber 80% do salário ou 49 semanas a 100%, conta a mãe de Mia e Sofia. Outra das grandes vantagens é importância dada ao pai. Não é de modo nenhum normal ter papás portugueses em casa quatro a seis meses com os filhos enquanto a mãe regressa ao trabalho. Mas é comum na Noruega. O valor da igualdade, muito presente na sociedade, entra cedo em casa: “Com este sistema cria-se uma relação pai-filho desde o início, ao mesmo tempo que a igualdade homem-mulher e pai-
-mãe fica mais evidenciada.”

Kikka Krog é norueguesa e vive em Lisboa. Nota que uma das maiores diferenças culturais entre Portugal e a Noruega reside na forma como se educam as crianças: “Lá elas têm muito mais poder e liberdade. Não há testes ou notas nas escolas até terem 13 anos e são estimuladas a ter as suas próprias opiniões e tomar parte das decisões familiares.” Tanta liberdade pode parecer um exagero, mas, ao mesmo tempo que Kikka pensa que o marido – que é português – é rígido, ele por seu turno julga que a mulher é “permissiva, claro”.

Casas de madeira no fiorde em Molde

Inês descreve a mulher norueguesa como “muito emancipada” e o homem “aspira, lava a louça e cozinha” sem pensar que são tarefas do sexo oposto. Até a população feminina está presente em grande número em cargos de topo, “tanto na política e no sector público como em empresas privadas”.

A única coisa que tira Kikka do sério são os serviços públicos em Portugal. “Uma tarde fui à Segurança Social na Loja do Cidadão tratar de um assunto. Na Noruega demoraria no máximo 30 minutos. O segurança disse-me que tinha de voltar na manhã seguinte para tirar uma senha”, conta. Voltou uns dias depois às oito da manhã e a fila para a senha tinha 300 metros. Escusado será dizer que regressou ao trabalho sem tratar de nada: “As pessoas pareciam habituadas.”

DESAFIOS Apesar das boas condições na Noruega, Inês conta que nem tudo foi fácil na adaptação: “Penso que para qualquer pessoa do Sul um dos maiores obstáculos será o clima.” A falta de luz é o que mais incomoda: “Nos meses de Outono e Inverno os dias são curtos e o sol, quando surge, está tão baixinho que parece sempre final da tarde.” Talvez por isso a preocupação dos noruegueses com a limpeza e o conforto das casas seja tão grande: “Tudo é aquecido e confortável, porque se passa lá muito tempo.” Jantar fora também acontece raramente “por ser muito caro”. Na Noruega “há muitas mulheres que batalham tanto para atingir a perfeição que adoecem. Querem ter a família perfeita, a casa perfeita e o corpo perfeito sem ajuda de ninguém”, conta Kikka.

As rotinas também são completamente distintas das portuguesas: “O norueguês típico toma o pequeno-almoço em família, começa a trabalhar às 8h, almoça uma sandes às 11h e às 16h já está a sair do emprego.” Os infantários e as escolas fecham entre as 16h30 e as 17h e até as crianças irem dormir, por volta das 20h, o tempo é para a família: “Este tipo de rotina seria impensável em Lisboa”, defende Inês.

A vida em Portugal “é muito boa para os que têm a sorte de ter um emprego e um bom salário”, defende Kikka. “Na Noruega um café e uma fatia de bolo custa dez euros. Aqui paga-se dois”, exemplifica, acrescentando que “mesmo com um salário maior quando vivia na Noruega este não era cinco vezes maior”. Ao mesmo tempo, sente que é mais difícil viver em Lisboa porque se “trabalha mais horas por dia e se chega a casa muito mais tarde”. E o tempo com a família fica por isso mais curto.