Do Amor. Mais um bonito romance brasileiro

Do Amor. Mais um bonito romance brasileiro


Vão estar sábado no MusicBox, em Lisboa. Os quatro que vêm do Rio para mostrar canções rock e rolê


“Do Amor já tocou em Portugal há quatro anos, numa ocasião em que fomos fazer uns festivais na Galiza.Fizemos um desvio para tocar em Lisboa.” Mas foi um desvio, Ricardo (Dias Gomes), um desvio que nem devia contar para esta aritmética. Tirando esse acaso, nunca vimos estes quatro brasileiros em palco – pelo menos juntos, que o grupo é feito de músicos sem tempo livre. De Caetano Veloso a Marcelo Camelo, consagrados é o que não falta no currículo desta gente, habituada a fazer acontecer, seja como for. Isso é tão bom como é complicado: “Temos a banda, mas há outros trabalhos que, especialmente nos últimos dois anos e meio, tomaram muito a nossa agenda. Fica mais fácil trabalhar no Brasil.” Mas amanhã é sábado e, à noite, há Do Amor no Musicbox, em Lisboa. Fácil é aparecer, aplaudir e apreciar estes_cariocas danados com bom gosto.

“A nossa sorte é que, antes de termos a banda, já éramos amigos.” Sorte deles e sorte nossa. “Toda a nossa adolescência passámos juntos, ouvindo e tocando música. Quando alguém diz que não tem disponibilidade é porque não tem.” Respeito e confiança, a música com o carimbo Do Amor vem desse espaço de cumplicidade que é raro encontrar, mais complicado ainda de aproveitar e de transformar em criatividade. Querem ver? “Não é fácil, é um grande desafio.” Bem que avisámos. E, além disso, pode atrasar as vontades.

O último disco, “Piracema”, é de 2013 e tem tudo o que se quer de pop-mais-
-o-rock verde e amarelo. É uma ginga eléctrica mas sempre suada, vai devagar ou mais depressa, não interessa, é meio safada, meio infantil. Ninguém pensa demais nas canções, por norma é sempre uma vantagem. E se o refrão nascer no Rio de Janeiro mas for buscar um pé de dança à Baía, só temos de agradecer. Ainda assim, isso não evita um pequeno perigo: com um horário meio part-time, os Do Amor não correm o risco de tocar o mesmo vezes a mais? Claro que não, mas onde é fomos buscar esta ideia? “Fazemos muitas versões, há sempre novidades. E há uma setlist específica para cada show. Para o Primavera de Barcelona, por exemplo, será diferente deste no Musicbox.”

Isso, caras, Primavera de Barcelona, que acontece na próxima semana. “Aconteceu, é só isso que importa”, diz-nos Ricardo. E_importa que, entretanto, a banda já está em Portugal e só volta ao Brasil depois da etapa espanhola. Espalhar Do Amor, é isso que vai acontecer. “Vamos talvez aproveitar para tocar com umas pessoas, gravar umas coisas, não fazer muitos planos.” Quanto menos, melhor.

“É mais fácil comunicar, está tudo mais na mesma sintonia, vamos todos para o mesmo lugar.” Ricardo diz-nos que é isto que acontece no Brasil, é isso que chega a Portugal, uma nova dinâmica que é bonita de se ver e ouvir. E porquê? “Muitas razões, talvez também por acaso.” Certo, mas há uma curiosidade: “Talvez seja uma coisa de geração. Nos anos 90 comprávamos vinil sem critério, sem apego a nenhum estilo em particular._Os discos eram praticamente gratuitos, estava todo o mundo comprando CD.” O resultado é o mais óbvio: na casa de Ricardo – “na casa dos meus amigos também”, acrescenta – sempre circulou música de todo o mundo, “sem preconceito, sem barreiras de nenhuma espécie”. Maravilha. Depois dá nisto que está em disco, naquilo que vai estar em palco. É rock’n’roll, é electricidade, mas também é carimbó e cumbia, ritmos que vêm para ficar. Do Amor transforma tudo em canções pop. “Canção, é isso aí”.