Petro Poroshenko: “Estamos em guerra com a Rússia”

Petro Poroshenko: “Estamos em guerra com a Rússia”


Presidente ucraniano sabe que não pode vencer os russos e teme uma nova ofensiva dos separatistas no Verão.


O presidente Petro Poroshenko disse esta semana à BBC que o seu país não está em guerra com os separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk, mas sim com a Rússia de Vladimir Putin. Poroshenko não tem dúvidas de que, do ponto de vista militar, Kiev não tem qualquer hipótese de vencer o conflito e confia na diplomacia e nos seus amigos da União Europeia e dos Estados Unidos para evitar algo que o tempo está a tornar inevitável: a separação do leste da Ucrânia do regime de Kiev e a sua ligação formal à Rússia. Poroshenko não confia em Putin, mas diz não ter outro remédio a não ser tentar negociar com o presidente russo uma saída airosa para si e para o seu governo, que no ano passado prometeu mundos e fundos aos ucranianos e gritou bem alto que ia pôr o leste na ordem. Poroshenko acredita que os separatistas vão lançar uma grande ofensiva no Verão – uma forma de desviar as atenções das violações do cessar-fogo cometidas pelo exército de Kiev e das declarações inflamadas do próprio Poroshenko, que prometeu reconquistar o aeroporto de Donetsk o mais depressa possível.

Acontece que a situação em Kiev é cada vez mais problemática e os radicais nacionalistas da Praça Maidan começam a mostrar uma grande impaciência com o impasse na guerra e o descalabro da economia e das finanças públicas. O regime de Poroshenko não consegue cumprir os acordos de Minsk, nomeadamente os que envolvem alterações constitucionais para dar autonomia política às regiões do leste. Por outro lado, as autoridades ucranianas não cumpriram os pontos em que estavam obrigadas a repor os pagamentos das prestações sociais às populações do leste e uma série de serviços públicos. Em face destas falhas, o regime de Kiev tenta tapar o sol com a peneira com a violação da trégua, como se viu esta semana em Donetsk, com a artilharia ucraniana a atingir alvos civis e a provocar um morto. A violação da trégua foi tão flagrante que os próprios Estados Unidos recomendaram a Kiev que não dê pretextos aos separatistas para o reinício das hostilidades. Os tiros em Donetsk foram também uma tentativa de Kiev para desviar a atenção dos graves problemas económicos e financeiros do país, que os muitos milhões atirados para cima do país pela União Europeia, FMI e Estados Unidos não resolveram nem conseguem resolver. Ainda na terça-feira, o governo apresentou uma proposta de orçamento ao parlamento em que se admite o não pagamento da dívida aos credores internacionais.

Para completar a tentativa clara de desviar as atenções dos problemas internos do país e a incapacidade do governo de ultrapassar a crise, Kiev montou um superespectáculo com a prisão de dois russos que foram ontem acusados de “actividades terroristas”, como anunciou o conselheiro dos serviços ucranianos de segurança, Markian Lubkivski. “O capitão Erofeiev e o sargento Alexandrov são acusados de participação em actividades terroristas”, indicou Lubkivski na sua página na rede social Facebook.

Na véspera, os serviços de segurança ucranianos (SBU) convidaram vários media internacionais e representantes da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, da União Europeia e da Amnistia Internacional para se deslocarem ao hospital militar de Kiev, a fim de verem os dois homens feridos em combate. A Ucrânia apresentou-os como soldados das forças especiais russas e a Rússia diz serem antigos militares.

A técnicas de propaganda de Kiev não são novas. Vêm dos tempos em que a Ucrânia era da URSS. Com Lusa