Jürgen Melzer serviu para a esquerda de João Sousa e obrigou o português a desviar-se de forma a bater, em dificuldade, uma direita. O austríaco aproveitou a distância do adversário para tentar um amorti que obrigou Sousa a uma tentativa desesperada para chegar a tempo de continuar a discutir o ponto. O árbitro não assinala nada, mas Melzer pára a jogada. O que se segue é uma discussão acalorada entre os dois, com o português a iniciar o diálogo.
– Não, não, não. Não tocou duas vezes.
– Se vires bem, jogaste com o chão.
– Eu juro que não, não tocou.
– Se não me deres este ponto, a nossa amizade terminou.
– Jürgen, eu juro que a bola não tocou duas vezes no chão.
– Tu jogaste com o … [enquanto aponta para o chão e João Sousa vira as costas, olhando para o árbitro que, atónito com o que se está a passar, diz que não viu nada e por isso não assinalou].
– Eu juro que não.
– Vais ver depois, vais ver depois. E é a pior coisa que alguma vez já me aconteceu vinda de um amigo com quem passo tanto tempo.
– Jürgen, se isso tivesse acontecido, eu dava-te o ponto imediatamente. Mas juro que não.
– Porque é que eu haveria de ter parado o ponto então? Tinha uma bola fácil.
– Tenho 100% de certeza que a bola não tocou. Para mim, não tocou.
A partida estava no primeiro set e o ponto era importante. João Sousa e Jürgen Melzer estavam empatados a três e o austríaco já tinha anulado três pontos de quebra no seu próprio serviço até interromper a jogada e oferecer a quarta oportunidade, que João Sousa não desperdiçou e aproveitou para se lançar na conquista do primeiro set por 6-4.
E, afinal, quem tinha razão? A repetição existe, mas é muito difícil tirar uma conclusão._Foi uma situação-limite, complicada de ajuizar e que penalizou Melzer exactamente por ter desistido do ponto numa altura em que tinha uma oportunidade simples para ganhar a jogada com um smash. Mas não o fez.
O temperamento de Melzer levou a melhor e o austríaco, antigo top-10 mundial, só conseguiu recuperar no início do segundo set. Aí dominou até chegar ao 2-0, permitindo apenas um ponto a João Sousa, mas não demorou muito até que o português avançasse rumo aos quartos-de-final do torneio de Genebra. Reagiu logo de seguida com um break em branco e não voltou a perder o ascendente do encontro. Pelo meio, uma resposta a um amorti de Melzer até mereceu um aplauso do austríaco.
No final, o cumprimento entre os dois amigos foi frio, sem espaço a qualquer troca de palavras, e Melzer abandonou o campo imediatamente a seguir. Para João Sousa, a aventura continua e na próxima ronda, nos quartos-de-final, vai defrontar o espanhol Pablo Andújar, terceiro cabeça-de-série, que ontem derrotou Adrian Mannarino por 3-6, 7-6 e 6-2.
