“Na arte, ao contrário da matemática, podes estar certo de diferentes maneiras.” A lição é extraída de uma acção do serviço educativo, um dos pilares desta instituição britânica, casa das 2300 peças que compõem a colecção, situadas entre o século XIII e o século XX.
Ao longo de três horas, Wiseman desfaz a dúvida do leigo que circula pelos corredores em agitada romaria para ver os quadros, esquecendo até que os quadros também nos vêem.
O que se passa no interior da londrina National Gallery, morada da eterna lagosta do flamengo Willem Claeszoon Heda e do retrato do casal Arnolfini, assinado por Jan van Eyck?
Encera-se o chão, educa-se a cegueira do olho face às telas dos mestres, guiam-se espectadores deslumbrados com a ligação entre a representação e a cena em si, vasculha-se a cabeça de Van Gogh quando pintou “Os Girassóis”, orientam-se visitantes de palmo e meio (“ali estão pessoas a comer, a escrever, a serem surpreendidas”), recordam-se caprichos de Henrique VIII, esperam-se horas para assistir à exposição de Leonardo, acompanham-se os trabalhos de restauro e conservação para lá dos olhares do público, conhecem-se detalhes sobre o fabrico das molduras, esse aparente actor secundário, e discutem-se orçamentos.
Uma peregrinação registada pelo norte-americano para ver com atenção, como num desenho à vista.