Todos dizemos “há gente para tudo” ou “o ser humano é capaz das coisas mais estranhas”. E muitas vezes imaginamos até as habilidades em causa. Já Ulrich Seidl faz as coisas de outra maneira: foi mesmo à procura desses mistérios para os descobrir e para os filmar. Tudo isto soa a desafio, mais ainda quando os encontros imediatos aconteceram nas caves das mais normais das pessoas – pelo menos enquanto estão à superfície.
Mas isso do normal já era. Seidl é um curioso, um observador compulsivo que tem nos subúrbios da Áustria um dos seus cenários favoritos. E porque tem a mania de se meter no meio do que é caricato, ficamos sempre na dúvida: onde começa e acaba a realidade, quanto do que vemos poderá ou não ser ficção? Apesar disso, e das peculiares personagens que encontramos em “Na Cave”, ninguém nos tira a ideia de que tudo isto é a sério.
O tipo que tem um museu nazi subterrâneo e o outro que ensaia a vida de cantor lírico que nunca teve; o casal que precisa dos seus momentos de sexo submisso, à porta fechada, enquanto noutra cave há quem dispare uns tiros porque sim. Estamos com eles todos, ouvimos as histórias, sentimos curiosidade ou vergonha alheia, depende deles e de nós. E Ulrich Seidl não vai apenas à boleia das tragédias que outras caves austríacas revelaram nos últimos anos, de vítimas como Natasha Kampusch. Até porque na rua atrás da nossa também há caves e, em algumas noites, têm até as luzes ligadas.