Uma carta aos jovens portugueses


A geração dos meus pais, dos vossos avós, tem entre 60 e 70 anos. Fizeram uma revolução; nós não tivemos essa sorte. 


Temos tendência para achar que o nosso tempo é sempre o pior de todos. Ouvimo-lo nos últimos anos a propósito da crise económica e do sistema financeiro – quantos não afirmaram que estávamos perante a maior crise da história do capitalismo? Se a história é feita pelos vencedores, a opinião pública e publicada é feita por quem tem mais idade, a suficiente para ter a nostalgia de uma juventude perdida. É por isso que os jovens de todas as gerações são motivo para desconfianças por parte de quem tem, em cada momento da história, o poder dentro das casas e famílias, dentro das escolas e universidades, nas empresas, nas instituições públicas e em todos os lugares onde há gente a mandar e a ser mandada. 

Os jovens fazem tudo ao contrário. Os jovens são inconscientes. Os jovens não cumprem regras. Os jovens são mal-educados. Os jovens são provocadores. Estão mal preparados. Não sabem fazer compromissos, não se interessam, não militam, não têm garra, são viciados em jogos de consola, bebem álcool no meio da rua, provocam-se sexualmente, fumam droga, não lêem, não respeitam pais, avós e quem deles gosta.

A minha geração (dos quarentas), como a geração dos meus pais, faz hoje aos filhos o que criticou aos seus. Também eles nos diziam que ousávamos fazer o que não devíamos. Os pais de todas as gerações querem filhos que sejam o mais parecidos com o que eles gostariam de ter sido. Muitas vezes temos filhos e desejamos inconscientemente que sejam um prolongamento nosso, o reflexo do espelho de uma história de infância. E sofremos quando eles não são assim, quando se atrevem a pensar pela sua cabeça, quando nos afrontam e põem em causa. É um equívoco grave e comum, um erro de proporções difíceis de medir. Os miúdos, nós quando o fomos, os nossos filhos, os filhos dos seus filhos e por aí adiante, precisam de afrontar o caminho que conhecem para construir a sua própria estrada. Só assim construirão uma identidade própria, a sua. 

A geração dos meus pais, dos vossos avós, tem entre 60 e 70 anos. Fizeram uma revolução; nós não tivemos essa sorte. Mas foram eles que desistiram do que antes pensaram ser inegociável, foram os que falharam na capacidade de construir um mundo mais justo e um sistema político e de representação em que uma parte substancial da população deixou de acreditar. 

A minha geração, filhos dos que fizeram ou sofreram com a revolução, teve o mesmo problema que vocês têm hoje.
A liberdade trouxe-nos escolas mais permissivas, deixámos de ter de saber os apeadeiros, as linhas de comboio e todos os rios. Somos os que começaram a trabalhar quando os computadores surgiram, os que usaram o telemóvel pela primeira vez e máquinas que tinham dinheiro que podia ser levantado com um cartão. É a minha gente que está a chegar ao poder, os vossos pais, as pessoas que cresceram numa ideia de globalização e de caos diplomático em que os bons e os maus são mais difíceis de descobrir. Não sabemos muito bem o que fazer a este mundo. Podemos tirar um curso sobre poder mas não sabemos nada de poder, estamos lixados. 

Porque não vos deixamos em paz? Se estamos a caminho de falhar, porque não vos deixamos procurar à vossa maneira? Acredito que o farão por estradas sinuosas, as únicas possíveis quando se tem 16 anos. Acredito que baterão com a cabeça nas paredes, que desesperarão com a falta de sentido, mas que um dia estarão prontos para inventar um mundo que não está ao meu alcance ou dos vossos avós.

Uma carta aos jovens portugueses


A geração dos meus pais, dos vossos avós, tem entre 60 e 70 anos. Fizeram uma revolução; nós não tivemos essa sorte. 


Temos tendência para achar que o nosso tempo é sempre o pior de todos. Ouvimo-lo nos últimos anos a propósito da crise económica e do sistema financeiro – quantos não afirmaram que estávamos perante a maior crise da história do capitalismo? Se a história é feita pelos vencedores, a opinião pública e publicada é feita por quem tem mais idade, a suficiente para ter a nostalgia de uma juventude perdida. É por isso que os jovens de todas as gerações são motivo para desconfianças por parte de quem tem, em cada momento da história, o poder dentro das casas e famílias, dentro das escolas e universidades, nas empresas, nas instituições públicas e em todos os lugares onde há gente a mandar e a ser mandada. 

Os jovens fazem tudo ao contrário. Os jovens são inconscientes. Os jovens não cumprem regras. Os jovens são mal-educados. Os jovens são provocadores. Estão mal preparados. Não sabem fazer compromissos, não se interessam, não militam, não têm garra, são viciados em jogos de consola, bebem álcool no meio da rua, provocam-se sexualmente, fumam droga, não lêem, não respeitam pais, avós e quem deles gosta.

A minha geração (dos quarentas), como a geração dos meus pais, faz hoje aos filhos o que criticou aos seus. Também eles nos diziam que ousávamos fazer o que não devíamos. Os pais de todas as gerações querem filhos que sejam o mais parecidos com o que eles gostariam de ter sido. Muitas vezes temos filhos e desejamos inconscientemente que sejam um prolongamento nosso, o reflexo do espelho de uma história de infância. E sofremos quando eles não são assim, quando se atrevem a pensar pela sua cabeça, quando nos afrontam e põem em causa. É um equívoco grave e comum, um erro de proporções difíceis de medir. Os miúdos, nós quando o fomos, os nossos filhos, os filhos dos seus filhos e por aí adiante, precisam de afrontar o caminho que conhecem para construir a sua própria estrada. Só assim construirão uma identidade própria, a sua. 

A geração dos meus pais, dos vossos avós, tem entre 60 e 70 anos. Fizeram uma revolução; nós não tivemos essa sorte. Mas foram eles que desistiram do que antes pensaram ser inegociável, foram os que falharam na capacidade de construir um mundo mais justo e um sistema político e de representação em que uma parte substancial da população deixou de acreditar. 

A minha geração, filhos dos que fizeram ou sofreram com a revolução, teve o mesmo problema que vocês têm hoje.
A liberdade trouxe-nos escolas mais permissivas, deixámos de ter de saber os apeadeiros, as linhas de comboio e todos os rios. Somos os que começaram a trabalhar quando os computadores surgiram, os que usaram o telemóvel pela primeira vez e máquinas que tinham dinheiro que podia ser levantado com um cartão. É a minha gente que está a chegar ao poder, os vossos pais, as pessoas que cresceram numa ideia de globalização e de caos diplomático em que os bons e os maus são mais difíceis de descobrir. Não sabemos muito bem o que fazer a este mundo. Podemos tirar um curso sobre poder mas não sabemos nada de poder, estamos lixados. 

Porque não vos deixamos em paz? Se estamos a caminho de falhar, porque não vos deixamos procurar à vossa maneira? Acredito que o farão por estradas sinuosas, as únicas possíveis quando se tem 16 anos. Acredito que baterão com a cabeça nas paredes, que desesperarão com a falta de sentido, mas que um dia estarão prontos para inventar um mundo que não está ao meu alcance ou dos vossos avós.